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Agressão Verbal na Infância
Agressão Verbal na Infância

 AGRESSÃO VERBAL NA INFÂNCIA PODE DOER MAIS DO QUE PALMADA.

 

Lembranças de palavras ofensivas e de negligência emocional reduzem em até 30% a autoestima e o otimismo.

 

Palavras  ofensivas podem doer mais do que uma agressão física e ter consequências psicológicas mais graves para uma criança.  Essa é a conclusão de uma pesquisa feita com 10 mil adultos de todo o Brasil que contaram histórias de abuso emocional sofridas durante a infância.

 

“Ela me chamava de prostituta, falava que eu não prestava, que eu tinha de morrer, porque ela não me aguentava mais”, conta uma jovem.

 

As ofensas eram feitas pela mãe dela.  “Eu sofria muito quando ela me falava tudo isso, e eu me sentia muito pra baixo”, afirma.

 

Quando a menina tinha 14 anos, a justiça tirou a guarda da família biológica.  Ela foi adotada.  Conheceu o carinho, encontrou o amor.

 

Agora, ela resolveu escrever um livro para contar o que viveu.  “Eu acho que muita gente vai ler a história e vai ver que eu superei e que elas também podem superar”, diz a jovem.

 

Existe uma lei que pune humilhações e ameaças feitas a uma criança.  É a mesma lei que trata de agressões físicas e que ficou conhecida apenas por Lei da Palmada, como se as agressões verbais fossem um problema menor.  Mas não são.  E, às vezes, têm consequências mais graves do que a palmada.

 

Quem afirma são pesquisadores da Pucrs (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul), responsáveis pelo estudo.

 

Para fazer a pesquisa, os psiquiatras criaram uma página na internet.  Nela, o participante teve de preencher um cadastro anônimo e responder a uma série de perguntas sobre experiências de vida.  Os pesquisadores usaram essas informações para comparar relatos de maus tratos físicos e emocionais na infância com características atuais do temperamento dos entrevistados.

 

Segundo o trabalho, lembranças de palavras ofensivas e de negligência emocional, reduzem em até 30% a autoestima e o otimismo.  Além de aumentar em 20% a impulsividade.  Apenas 10% dos que sofreram com ofensas se consideraram emocionalmente saudáveis.

 

“O pior tipo de trauma que uma criança pode passar é o abuso emocional.  Ofensas, humilhações e hostilidade verbal. Porque, eu diria assim, a dor do coração não passa”, explica o psiquiatra Diogo Lara, coordenador da pesquisa.

 

“Eu diria que talvez eu possa desculpar, mas que infelizmente eu não vou esquecer”, diz um homem que, aos 35 anos, ainda sofre com o que ouvia na casa do pai, que hoje, depois de uma terapia familiar, reconhece o erro.  “Eram agressões no sentido de humilhar e ofender e diminuir ele”, lembra o pai.

 

“Me ofendeu várias vezes alegando peculiaridades físicas, me chamou de podridão.  Ele era muito maior do que eu fisicamente, então não me sobrava muitas alternativas, senão me resignar”, ressalta o homem.

 

Segundo a pesquisa, 60% dos brasileiros já sofreram abuso emocional.  A psiquiatra Cláudia Szobot confirma:  em muitas famílias, os adultos repetem com os filhos as agressões verbais que viveram na infância.

 

“Aquelas figuras cuidadoras de amor, que deveriam ser cuidadoras, deram para ela essa mensagem.  Que está bem xingar, que pode ser estúpido, que pode desqualificar o outro e muitas vezes a criança cresce achando que isso é normal, que é assim mesmo”, diz a psiquiatra.

 

Fonte:  Jornal O Sul-Caderno Reportagem-22/03/2015