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François Truffaut — O Homem que Amava as Mulheres
François Truffaut — O Homem que Amava as Mulheres

O HOMEM QUE AMAVA AS MULHERES

 

E OS FILMES.  E A LITERATURA.  A EXPOSIÇÃO TRUFFAUT: UM CINEASTA APAIXONADO ESMIÚÇA O UNIVERSO DO GÊNIO FRANCÊS – COM ATENÇÃO ESPECIAL A SUAS MUSAS.

 

Em 1959, aos 27 anos, François Truffaut exibiu seu primeiro filme no Festival de Cannes e levou para casa o prêmio de Melhor Diretor.  OS INCOMPREENDIDOS contava a história de Antoine Doinel, um garoto de 14 anos que preferia as salas de cinema às salas de aula.  Doinel, interpretado pelo ator Jean-Pierre Léaud, era um alter ego de Truffaut.  Acendia velas para o escritor francês Honoré de Balzac (1799 – 1850) e roubava fotos de Harriet Andersson, a atriz sueca que enlouquecia os homens em Monika e o Desejo, um dos filmes mais ousados de Ingmar Bergman (1918 – 2007). Truffaut queria contar histórias como Balzac e retratar mulheres fortes como Bergman. Uma exposição que chega a São Paulo na próxima semana mostra que ele conseguiu.  (A matéria foi publicada em 13/07/2015).

 

 

TRUFFAUT: UM CINEASTA APAIXONADO chega ao Museu da Imagem e Som (MIS) depois de uma temporada na Cinemateca Francesa, em Paris.  A exposição, que abre precisamente em 14 de julho (2015), data em que se comemora a Revolução Francesa, reúne mais de 600 itens como livros, revistas, recortes de jornal, entrevistas, fotografias, anotações, croquis de figurinos, cartas, objetos pessoais e até o vídeo do teste de elenco de Léaud.  Todas as peças foram doadas à Cinemateca pela família de Truffaut – o cineasta também tinha pendor de arquivista. André Sturm, diretor do MIS, afirma que a exposição paulistana é bem diferente da que esteve em cartaz em Paris: “A nossa versão permite que a experiência dos visitantes seja mais divertida”. Na Cinemateca, a exposição se resumia a vitrines e objetos pendurados nas paredes.  Em São Paulo, os cinéfilos percorrerão os corredores do MIS como se estivessem passeando por um filme.  A versão brasileira também mudou de nome.  Na França, era simplesmente François Truffaut.  No Brasil, como o título sugere, a exposição permite que se explorem as paixões do diretor.  Uma delas, claro, é o cinema.  Outra, ainda mais intensa, são as mulheres.  Poucos diretores se envolveram romanticamente com tantas atrizes.  E, provavelmente, nenhum levou tantas personagens femininas fortes e fascinantes às telas.

 

Ao contrário da exposição francesa, a brasileira traz um setor totalmente destinado às musas de Truffaut.  Ele recebeu o sugestivo nome de “Peeping” (“espiadinha”, numa tradução livre) e exibe imagens das atrizes com as quais o cineasta trabalhou – e que, em   muitos casos, amou.  “É uma sala que remete ao voyeurismo e representa a paixão de Truffaut pelas mulheres bonitas”, afirma Sturm.  Truffaut se apaixonou por várias de suas atrizes, como Catherine Deneuve, que dirigiu em A SEREIA DO MISSISSIPPI e O ÚLTIMO METRÔ.  Ele também se envolveu com Marie-France Pisier (1944 – 2011) e Claude Jade (1948 – 2006), que interpretaram namoradas de Antoine Doinel no cinema.  Marie-France e Claude atuaram juntas no antológico AMOR EM FUGA, que passa em revista a vida sentimental de Doinel – e, por tabela, a do próprio Truffaut.  Em 1983, Truffaut teve uma filha com Fanny Ardant, que atuou em A MULHER AO LADO e DE REPENTE, NUM DOMINGO.

 

Não é difícil imaginar por que, em 1977, Truffaut rodou um filme chamado O HOMEM QUE AMAVA AS MULHERES, que traz Charles Denner (1926 – 1995) na pele de um dom-juan que se distraía espiando as pernas femininas.  “Para mim, não existe nada mais bonito de ver do que uma mulher andando”, afirma Denner, numa das cenas mais famosas do filme.  “As pernas das mulheres são compassos que percorrem o globo terrestre em todos os sentidos, dando-lhe equilíbrio e harmonia.”

 

A paixão de Truffaut pelas mulheres é a mesma paixão que o imberbe Antoine Doinel sentia pela emancipada Harriet Andersson em OS INCOMPREENDIDOS.  Monika e o Desejo chegou às telas em 1953 e escandalizou plateias com cenas de nudez e uma protagonista que lidava naturalmente com a sexualidade.  O filme de Bergman antecipou a maneira como Truffaut e os jovens cineastas franceses se relacionavam com suas atrizes e retratavam as mulheres – como senhoras de seu próprio desejo, e não apenas como objetos do desejo masculino.  “Os filmes de Truffaut traziam mulheres fortes, decididas, que tomavam as rédeas da própria vida.  O que desencadeava a ação era o desejo dessas mulheres”, afirma Pedro Maciel Guimarães – que, em agosto (2015), ministrará o curso truffaut, o Homem Que Amava as Atrizes... e Jean-Pierre Léaud, em São Paulo.

 

 

Truffaut era um cineasta que valorizava os roteiros, como se fosse um Balzac moderno.  “Ele era apaixonado pelo lado literário do cinema, pela possibilidade de contar uma história que envolvesse o espectador e o convidasse a interagir com o que se passava na tela”, afirma Guimarães, doutor em cinema e audiovisual pela Universidade de Sorbonne Nouvelle (Paris III).  Ao contrário de Jean-Luc Godard – o filho rebelde da nouvelle vague, que transformou seu cinema em arma revolucionária –, Truffaut preferia contar histórias de amor e recorria sempre à literatura (os dois cineastas, aliás, nutriam uma rivalidade sangrenta ao longo da vida, até o ponto em que deixaram de se falar). “Truffaut era um escritor do cinema ou um escritor cineasta.  Os livros eram, para ele, um material vivo”, diz Serge Toubiana, diretor da Cinemateca.  Toubiana foi o curador da exposição parisiense e fará uma palestra no MIS na segunda-feira, dia 13, um dia antes da abertura da mostra.  Truffaut se esforçava para ser fiel aos textos literários.  FAHRENHEIT 451, de 1966, adaptação da distopia de Ray Bradbury, é o melhor exemplo do respeito de Truffaut pela palavra do escritor.

 

JULES E JIM, filme de 1962, um dos preferidos dos fãs do cineasta, é uma adaptação do livro de Henri-Pierre Roché (1879 – 1959).  Conta a história de dois amigos, um francês e um alemão, que se apaixonam pela mesma mulher, a emancipada Catherine (Jeanne-Moreau).  Truffaut também não resistiu aos encantos da atriz – embora ambos fossem casados.  O diretor respeita o texto e os personagens da obra.  A Catherine cinematográfica de Truffaut e a Catherine literária de Roché são bem parecidas, e a presença de um narrador foi o recurso usado para transpor o texto literário para a tela.  JULES E JIM terá um espaço especial na exposição que desembarca em São Paulo.

 

A maior das homenagens “ao cineasta apaixonado”, seu cinema e suas mulheres estará na sala redonda do MIS.  No alto da parede estarão 20 telas que vão mostrar cenas de um de seus filmes.  Cada tela exibirá a cena com cinco segundos de diferença da anterior.  Quem ficar parado em frente a um dos monitores assistirá ao desenrolar da história.  Os que optarem pela visão 360 graus terão a impressão de que o filme todo está acontecendo naquele exato momento – e que são parte dele.  “O cinema é a ilusão da imagem em movimento. Vamos criar essa ilusão ao vivo”, afirma Sturm.  Quem já é apaixonado por Truffaut se sentirá no meio de um de seus filmes.  Quem ainda não é corre o risco de se encantar pelo cineasta.  Ou por Catherine Deneuve, Marie-France Pisier, Jeanne Moreau, Claude Jade, Fanny Ardant...

 

SUAS MULHERES

 

JEANNE MOREAU

Ela enlouqueceu os cinéfilos – e Truffaut – como a Catherine de JULES E JIM.  Os dois tiveram um romance durante as filmagens. Ambos eram casados.

 

MARIE-FRANCE PISIER

A personagem não ligava para o mocinho em AMOR AOS 20 ANOS, mas a atriz arrebatou o coração de Truffaut.

  

FANNY ARDANT

A última mulher de Truffaut, com quem teve uma filha em 1983, um ano antes da morte dele.

 

CATHERINE DENEUVE

Truffaut recorreu aos antidepressivos depois que a atriz terminou o romance.

  

CLAUDE JADE

A namoradinha gentil e inocente do filme BEIJOS PROIBIDOS foi noiva de Truffaut.

 

Fonte:  Revista Época/Ruan de Souza Gabriel em 13/07/2015