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Gilson Luis da Cunha
Gilson Luis da Cunha

ENTREVISTA: escritor Gilson Luis da Cunha

 

 

Sua Biografia: 

Gilson Luis da Cunha nasceu em 1965. Desde criança sempre foi fascinado por ciência real, também, por ficção científica. Isso o levou, desde cedo, a consumir doses maciças de documentários sobre o mundo natural, ciência e tecnologia, paleontologia e evolução humana, e a ler Júlio Verne, HG Wells e outros clássicos da ficção científica.

É biólogo, doutor em genética e biologia molecular pela UFRGS. Além de desenvolver pesquisas na área de biologia do envelhecimento, escreve ficção científica, tendo publicado seus primeiros contos em 1987.

ONDE KOMBI ALGUMA JAMAIS ESTEVE é seu romance de estreia.

Escreve todos os domingos para a coluna Diário de Bordo de Um Nerd No Planeta Terra, onde aborda temas ligados à cultura pop, nos jornais online do Grupo Sinos/RS. Vive em Porto Alegre, com sua esposa e sua filha.

 

Suas Obras:


Lançamento:

ONDE KOMBI ALGUMA JAMAIS ESTEVE – O Taura no Fim do Universo, conta as aventuras de Alfredo, um motorista aposentado que, à beira da morte, tem sua consciência transferida por alienígenas para um novo e aperfeiçoado corpo, tudo por conta de um experimento paranormal malsucedido, do qual ele participou, décadas antes de morrer. Ele era apenas “o tiozinho da Kombi”, que leva um misterioso grupo de ufologistas de Porto Alegre para São Thomé das Letras, nas montanhas de Minas Gerais, em 1967. Contudo, em 2010, ao acordar em seu novo corpo, ele descobre que esses alienígenas, os “cabeçudos”, querem que trabalhe para eles como um agente, viajando pelo tempo e espaço, impedindo a manipulação de eventos históricos por outra raça, os tarv, cujo objetivo é a conquista da Terra e de outros mundos.

 

 

Como surgiu o escritor Gilson Luis da Cunha?

Sempre tive uma inquietação intelectual, desde pequeno. Queria descobrir coisas, saber os porquês. Nos anos oitenta, essa inquietação passou a ser também criativa. Queria criar algo inusitado e, em se tratando de Brasil, do país que eu percebia, ainda havia muito pouca literatura sendo feita no Brasil do tipo que eu gostaria de ler. Mas, nos anos 80, quando comecei a escrever, o cenário cultural ainda era desfavorável para o surgimento de um “mercado” para a ficção científica brasileira. E estava na graduação e a vida acadêmica sempre foi muito exigente. Emendei, sem escalas, graduação, mestrado e doutorado e isso me tomava tempo. Já, no século XXI, com a ascensão da cultura geek, esse cenário começou a mudar. Vi que havia uma chance real de ser lido.

 

 

A paixão pela ficção científica começou na infância, e foi a partir dos anos 70 ou 80, o que atraia sua atenção nessa época?

A estética da ficção científica me conquistou ainda na infância, nos anos 70, com séries de TV como “Túnel do Tempo”, “Jornada Nas Estrelas”, “Espaço 1999”, além de reprises de filmes clássicos dos anos 50. Aquelas situações inesperadas, aqueles universos insólitos me cativaram pelo apelo visual. Assim que comecei a ler, comecei a procurar por essa estética nos quadrinhos e, em seguida, nos livros. Lia tudo que me caía nas mãos. Mas só passei a ler ficção científica de modo sistemático, com um olhar mais crítico, nos anos 80. Muito disso se deve aos livros “Ficção Científica: Ficção, Ciência ou uma Épica de Época?”, de Raul Fiker (1985) e “Ficção Científica”, de Gilberto Schoereder (1986). Além de ótimas revisões sobre o gênero, ambos são excelentes fontes de bibliografia de, e, sobre o gênero.

 

De que tratava o artigo de Isaac Asimov, que o motivou a começar a escrever?

Era sobre escritores e suas carreiras. Ele discutia aspectos da vida de escritor e, mais especificamente, sua iniciação como escritor de ficção científica, quando foi revelado por John W. Campbell. No artigo, Asimov descrevia, de um modo empolgante, seu processo criativo. Ele dizia: “se você leu uma história, não gostou do final e acha que devia ter sido diferente, devia tentar escrever a sua”. Li e pensei: “Caramba. É bem desse jeito que eu me sinto. Vou tentar”.

 

Você escreve desde 1987 e intensificou com a entrada da Amazon, publicando livros digitais. Como você vê e sente o mercado de livros no Brasil?

A atual crise não é exatamente uma crise do livro, mas sim, das grandes livrarias.

Mercado, há. Pode até ser um mercado de nicho, no caso de fantasia e ficção científica. Mas existe. O maior obstáculo é a visibilidade. Não é fácil se destacar no meio do volume de produção que há hoje, principalmente na Amazon e no Wattpad. Há muita gente boa, e bastante motivada, em atividade. O problema é encontrar canais de divulgação. Nesse sentido, páginas como o Almanaque Literário são muito importantes, pois ajudam os escritores a encontrar seu público, e vice-versa.

 

Tem vários livros publicados, usando a plataforma Wattpad e a Amazon. Como acontece a sua escrita, são narrativas longas ou contos e, de onde vem a sua inspiração?

Na Amazon e no Wattpad eu tenho narrativas curtas e médias. Meu processo criativo é meio aleatório. ONDE KOMBI ALGUMA JAMAIS ESTEVE, meu livro de estreia, surgiu como uma resposta a uma piada: “o que aconteceria se a realidade por trás de uma das teorias da conspiração mais famosas da história fosse mais bizarra que a lenda?” Tenho um conto, não publicado, que tenta responder uma pergunta semelhante. Mas, as vezes, as ideias surgem de modo bem fortuito. Pode ser uma notícia na TV, um comentário engraçado de amigos, uma novidade em algum campo da ciência, etc. O mais comum, é quando eu vejo o anúncio de uma antologia de contos, normalmente temática, e tento criar uma trama que se adapte à demanda da editora. Em qualquer uma dessas situações, meu foco é encontrar personagens que tenham algo a dizer. De nada adianta criar universos fabulosos se eles forem habitados por personagens desinteressantes. Eles precisam atrair nossa simpatia, ou nossa aversão, ou qualquer outra emoção, menos a indiferença. Considero essa a etapa mais importante antes de desenvolver a trama. Outra coisa que considero importante: impacto. Prefiro mil vezes uma história curta na qual a emoção está concentrada do que diluir a trama ao fazê-la mais longa, apenas para vender um romance, em vez de um conto ou uma noveleta. Uma boa história deve durar o quanto for necessário e não mais que isso.

 

Qual seu autor preferido e o livro, que na sua concepção é o melhor de todos os tempos e por quê?

Não há uma única resposta a essa pergunta. Gosto de Arthur C. Clarke pelo “senso de encantamento” que suas histórias trazem. Asimov tem uma arquitetura sofisticada em seus livros. Robert Heinlein discute a condição humana com uma honestidade e franqueza que deixa muita gente constrangida. O mesmo vale para Harlan Ellison. Clifford D. Simak é poesia pura. Douglas Adams levou um tipo de humor delicioso ao gênero. Idem para Harry Harrison e Robert Sheckley. Mas o primeiro livro de ficção científica a me deixar com um arrepio na nuca, a me fazer pensar no que li, mesmo muito tempo depois de terminada a leitura, foi A Cidade e As Estrelas, de Arthur C. Clarke.

 

O que você acha de ser escritor em um país de poucos leitores, onde a literatura nacional não é valorizada e o custo de edição é alto?

Acho que é uma eterna luta. Mas, para mim, já não é mais uma questão de escolha. Eu preciso escrever. É uma necessidade. Se eu serei lido, ou não, já é outra história.

 

O que acha que deveria ser feito para melhorar o cenário literário no Brasil? E quem deveria arcar com a responsabilidade?

Boa pergunta. O Estado, muitas vezes, mais atrapalha do que ajuda. Delegar responsabilidade a algum órgão governamental, no Brasil, é entendido pelo cidadão como “problema resolvido. Vou tratar da minha vida”. Sabemos que não é assim. É interessante que exista um acompanhamento estatal à indústria cultural? Acho que sim. Mas o Estado também não pode ter poderes supremos sobre ela. Acho uma questão muito complexa e não me considero capaz de dar uma resposta de imediato.

 

Muitos acreditam que é difícil mudar os brasileiros adultos, quem não tem o hábito da leitura, vai continuar sem ler. E as crianças e os jovens, na sua opinião o que deve ser feito para estimular a leitura? Depende da família ou apenas da escola?

Da família e da escola. Lembro dos meus tempos de ensino fundamental. Um amigo disse à nossa professora: “temos que ler isso? É muito chato!” A professora ficou indignada e começou listar as virtudes do livro e do autor, cujo contexto histórico e vocabulário eram ignorados por nós. Aquele era um péssimo meio de estimular a leitura. Tinha efeito contrário. O que me iniciou na leitura foram as histórias em quadrinhos. O mesmo pode ser dito da imensa maioria dos jovens leitores no último meio século. A leitura tem que ser um prazer, não uma obrigação. Se a escola optar por uma literatura de entretenimento, antes de apresentar os clássicos, terá muito mais sucesso. Aos pais cabe apoiar a escola e prover, fora do ambiente escolar todas as condições para que as crianças adquiram o hábito da leitura.

 

Fale sobre a parceria com a Editora Estremoz, de Portugal, por que uma editora portuguesa?

Aconteceu de um modo incomum. Eu já havia perdido a esperança de publicar meu livro no Brasil. Eu o havia submetido a diversas editoras. A maioria delas preferia apostar em autores já consagrados. Algumas respondiam: “Sim, podemos publicar. Basta você pagar a módica quantia de vinte e dois mil reais”. Outras, sequer respondiam. Eu estava com o original sendo preparado para autopublicação. Já estava quase mandando-o para a gráfica, quando amigos meus disseram que o representante da editora Estremoz no Brasil gostaria de falar comigo sobre o livro. Detalhe importante: eu não o havia enviado para a Estremoz. O editor não revelou. Mas é quase certo que um amigo tenha enviado uma cópia sem que eu soubesse. Conversando com o representante e, depois, com o editor, gostei da proposta da editora, que prevê publicação de uma versão no Brasil em português brasileiro e em Portugal, em português lusitano. Ironicamente, foi preciso atravessar o Atlântico, e a Linha do Equador, para publicar meu livro no Brasil. Estou gostando muito da experiência e espero que esse seja o início de uma longa parceria com a Estremoz.

 

Onde Kombi Alguma Jamais Esteve – O Taura no Fim do Universo” - A capa de seu livro lembra a trilogia, “De Volta para o Futuro”. Qual o enredo da obra, e quem é Taura?

Apesar de, De volta Para o Futuro e meu livro lidarem com viagens no tempo e terem um veículo icônico, no meu caso, uma Kombi, são histórias bem diferentes.

ONDE KOMBI ALGUMA JAMAIS ESTEVE – O Taura no Fim do Universo, conta as aventuras de Alfredo, um motorista aposentado que, à beira da morte, tem sua consciência transferida por alienígenas para um novo e aperfeiçoado corpo, tudo por conta de um experimento paranormal malsucedido, do qual ele participou, décadas antes de morrer. Ele era apenas “o tiozinho da Kombi”, que leva um misterioso grupo de ufologistas de Porto Alegre para São Thomé das Letras, nas montanhas de Minas Gerais, em 1967. Contudo, em 2010, ao acordar em seu novo corpo, ele descobre que esses alienígenas, os “cabeçudos”, querem que trabalhe para eles como um agente, viajando pelo tempo e espaço, impedindo a manipulação de eventos históricos por outra raça, os tarv, cujo objetivo é a conquista da Terra e de outros mundos.

Ocorre que, apesar de suas novas e incríveis habilidades físicas e cognitivas, ele ainda é um “taura bagual”, um “gaudério”, nativo de Soledade no Planalto Médio sul-riograndense-do-sul. Então, por mais que ele viaje, por mais gente que conheça, por mais experiências que acumule, seus valores e seus códigos morais ainda são aqueles que ele aprendeu em uma fazenda do interior do Rio Grande do Sul. E ele usará suas experiências de vida, aliadas ao somatório de conhecimentos da raça humana, o que inclui muita cultura inútil, para resolver as mais mirabolantes situações, muitas delas indo do trágico ao cômico. Alfredo é o “taura” do título. Essa é uma expressão gaúcha que significa “valente, audacioso, esperto, que resolve qualquer parada”.

Eu o descrevo como um sujeito que se agarra à sua identidade em meio a um universo no qual o próprio conceito de identidade parece já não fazer mais sentido. Ele é “um sujeito grosso, e que adora ser grosso”, não num sentido pejorativo, mas com o propósito de jamais esquecer quem é, de onde veio, e pelo que está lutando. Um dia, após séculos de serviço a seus mentores ele é enviado à Área 51, de onde resgata Otávio, um jovem ufologista membro do mesmo grupo que o contratou para guiar a excursão até São Thomé das Letras. As diferenças entre ambos são abissais. Alfredo, mesmo com tudo o que passou, é um sujeito rústico debochado e sem qualquer criatividade (ao menos é o que ele imagina). Otávio é um jovem intelectual urbano, superdotado, obcecado pela busca da verdade e com pouquíssima paciência para com as loucuras de Alfredo. Ambos acabam estabelecendo uma improvável aliança, quando descobrem que um dos incidentes mais misteriosos de todos os tempos pode ter sido apenas um artifício tarv, uma cortina de fumaça, encenada por humanos e alienígenas, para encobrir “uma verdade inconveniente”, cujas consequências terão impacto direto na vida de Alfredo.

 

 

Você é colunista no jornal NH, do Grupo Sinos, qual o teor de seus textos, escreve sobre o cotidiano ou ficção científica?

Escrevo sobre cultura geek, o que inclui uma dose generosa de crônicas sobre ficção científica literária, cinematográfica, televisiva e nos quadrinhos. Mas também escrevo sobre o cotidiano da comunidade geek, sobre a relação de amor e ódio entre os fãs e as obras que eles adoram, ou adoram odiar. Também escrevo sobre personalidades da cultura pop e sobre a cena geek regional, brasileira e mundial. Gosto de textos leves, com algum humor. Infelizmente, nem sempre é possível. Esse é o caso de alguns elogios fúnebres, como os que escrevi por ocasião da morte de Leonard Nimoy (O senhor Spock, original de Jornada nas Estrelas), ou de Stan Lee, criador de muitos personagens da Marvel, recentemente falecido. Nesses textos, tento expressar minha gratidão a eles pelo impacto que tiveram em minha vida e, tenho certeza, na vida de milhões de fãs.

 

Fale de seus projetos literários.

Tenho outras histórias, no mesmo universo de ONDE KOMBI ALGUMA JAMAIS ESTEVE, que também gostaria de publicar. Mas, no momento, estou escrevendo uma comédia de aventura que brinca com a estética das histórias em quadrinhos, levando sátira e humor surreal a um contexto que, normalmente, seria épico. Tenho alguns capítulos escritos de uma trama que se passa durante a Guerra dos Farrapos, num universo alternativo, no qual a última era glacial acabou muito depois do que em nossa realidade.

E também tenho um projeto numa linha que mistura a estética dos filmes catástrofe com o bizarro fiction, um gênero ainda não publicado no Brasil, que se caracteriza por altas doses de humor macabro e surreal, além da ausência de limites narrativos tradicionais. Seria uma história sobre uma crise ecológica que ameaça o planeta e sobre como gente comum, ao redor do mundo, consegue sobreviver e, até, prosperar em meio ao caos.

 

Por que você recomenda a leitura de seus livros?

Em primeiro lugar, sem querer soar arrogante, pela originalidade. Acho que Alfredo é o primeiro herói de ficção científica brasileira que não tem o ensino fundamental e que já enfrentou filas do SUS. Se isso não é representatividade, não sei mais o que é. Em segundo, por que acho que há pouquíssimo humor na ficção científica e na fantasia modernas. E isso inclui o cenário brasileiro. Considero o humor um bálsamo, cada vez mais necessário no mundo em que vivemos e gostaria de fazer a minha parte nisso.

Além disso, recomendaria meus livros por que eu abraço de corpo e alma o conceito de literatura de entretenimento, sem medo, sem reservas. Minha maior conquista não seria ter a consagração da crítica. O que eu mais desejo é saber que consegui entreter e divertir, fazer com que as pessoas se esqueçam, mesmo que por umas poucas horas, a dureza e as dificuldades do cotidiano. E que possam dar boas risadas. Se eu conseguir isso, me sentirei realizado.

 

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Nell Morato/20.12.2018