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1967: O Ano em que o Rock Cresceu
1967: O Ano em que o Rock Cresceu

HÁ 50 ANOS

 

1967: O ANO EM QUE O ROCK CRESCEU

 

O rock surgiu enquanto ritmo e expressão cultural nos anos 1950. Derivado dos ritmos negros norte-americanos, incorporando influências explícitas do jazz, do blues e da soul music, moldou tais elementos ao paladar do público médio estadunidense e conquistou as massas apresentando uma rebeldia juvenil. Hoje, as performances de Elvis Presley e Bill Haley e seus cometas parecem ingênuas, pueris e superficiais. Mas havia uma importância para a época, um período pós-guerra que amplificava a paranoia da Guerra Fria e exigia manifestações essencialmente nacionalistas e, por assim dizer, que estimulavam o american way of life que amarrava a sociedade dos Estados Unidos na época.

 

Como toda revolução tem um efeito, o rock, como um movimento jovem, gerou um frenesi e, especialmente, ideias. O jovem pensante, que no início se requebrava com “Hound Dog” ou “Rock Around the Clock”, tomou partido do movimento para expressar suas ideias. O rock transcendeu a América e ganhou a Europa. Os italianos faziam suas versões. Na Inglaterra, a primeira metade dos anos 1960 foi intensa. Vestidos de forma malcomportada para a época, mas ainda embalados por uma temática juvenil, os Beatles foram fundamentais para esta transfiguração do rock para o pop. Eram populares, jovens, bonitos e rebeldes. Mas ainda era uma rebeldia juvenil. Nas letras, o amor era linha de frente e os fãs adoravam. A Beatlemania contrastava com outro grupo que representava uma rebeldia marginal e co um poeta que apresentava ao rock o texto. Eram os Rolling Stones e Bob Dylan.

 

Dylan, os Stones, as drogas e um anseio de falar alguma coisa mais forte que “Love me Do” mexeram com a cabeça dos Beatles. A Guerra do Vietnã enviava soldados para a Ásia em nome de uma luta que não era necessariamente a deles. A partir deste conjunto de fatores, os Beatles ensaiaram dois anos antes o que seria a explosão de 1967, o ano em que o rock cresceu. Primeiro, no final de 1965, com o antológico Rubber Soul, misturando as texturas, confundindo os fãs e atingindo sua maioridade. A sequência, com Revolver (1966), foi arrebatadora, mas foi com “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club band” que John, Paul, George e Ringo apresentaram suas credenciais de adultos e revolucionários. Com o álbum, perpetuaram sua condição de banda mais importante do planeta. Um disco simbólico e mitológico. Sinfônico e difícil.

 

Construído com as ruínas do american way of life sobre qual o rock pairava havia uma década, a ruptura trazida pelo disco era brutal. Era um álbum absolutamente sintonizado com o que se esperava e com o que se fazia no mundo. Era o despertar de uma era que abandonava a ingenuidade de Elvis, que sepultava as danças, que contrariava o sistema mundial vigente à época e que provocava as reflexões de um mundo que estampava as flores de um love and peace que contradizia o que os adultos de verdade queriam. Sobretudo, desmanchava a imagem ingênua dos próprios Beatles, do próprio rock e da própria música pop da época. Lisérgico, encarava o estereótipo do homem de bem norte-americano, ao abordar assuntos como drogas, relações humanas e contradições do sistema.

 

Como em todo movimento, Sgt. Pepper’s não chegou sozinho. Com ele a distorção da guitarra de Jimi Hendrix. A voz rasgada de Janis Joplin na Big Brother and the Holding Company. A arte do Velvet Underground e todo seu conceito por trás do famoso disco da banana. O som e a poesia de Jim Morrison com o The Doors. O rock ganhando contornos definitivos com o Cream, o Kiks e os Rolling Stones. A psicodélia com o Love, Jefferson Airplane, Captain Beefheart e a era “viajandona” do Pink Floyd. O empoderamento levado a sério co Aretha Franklin. Para todos os gostos, a independência. O cartão de visitas em forma de bando, turbinados por doses de LSD, pregações de paz e amor, flores e o maior alto astral que o rock já teve. Para sempre, mudou a moda, o comportamento, a música e os modos de uma geração, estabelecendo definitivamente o DNA do rock’n’roll como conhecemos hoje.

 

Passados 50 anos, o ano de 1967 sedimentou as bases da cultura pop mundial, do comportamento e da sonoridade do rock. Se o rock nasceu nos anos 1950, se Elvis Presley foi o primeiro ídolo, se a beatlemania foi uma histeria em seu início, a maioridade do ritmo e da cultura chegou em 1967. As armas foram apresentadas e as gerações futuras contaminadas com aquela turma. O rock cresceu e virou o estilo musical mais ouvido, repercutido e relevante da segunda metade do século 20. Com uma pequena ajuda dos nossos amigos da turma de 67.

 

 

Fonte: Correio do Povo/Caderno de Sábado/Carlos Guimarães/Jornalista, comentarista e apresentador na Rádio Guaíba, mestrando em Comunicação na UFRGS, em 17/06/2017.