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Medo de Falar sobre Gênero e Sexualidade
Medo de Falar sobre Gênero e Sexualidade

O GRANDE MEDO

 

Há um grande medo no ar: o de falar qualquer coisa sobre sexualidade, cor da pele e gênero. Há vários adjetivos nos dicionários prontos para carimbar uma fala politicamente incorreta: sexista, racista, homofóbica, etc. E há até um curso de extensão na minha universidade, a PUCRS, intitulado Como Falar sobre Gênero e Sexualidade sem Medo. Quando vi o cartaz, pensei que era uma brincadeira, mas, pelo contrário, é uma atividade acadêmica séria, do jornalista e mestrando em Comunicação Social Gabriel Galli, que atraiu um bom público em sua primeira edição e deve ser repetida. Um de seus objetivos é “colaborar na formação de estudantes e profissionais para a compreensão e aplicação de conceitos sobre diversidade sexual, gênero e direitos humanos”.

 

Compreender novos conceitos e novas convenções é essencial para que haja boa comunicação. Uma parte considerável dos conflitos entre os militantes de movimentos que lutam pela supressão de preconceitos e os cidadãos comuns (que não combatem cotidianamente nessa arena) acontece em torno de palavras cujo significado mudou com o tempo. Palavras podem ser perigosas, em especial as que saem de bocas inocentes nesse contexto social conturbado em que vivemos. Não se trata de autocensura, e sim de uma estratégia para evitar que os conflitos importantes – que levam ao enfrentamento de pessoas realmente machistas, racistas e homofóbicas – não sejam confundidos com deslizes semânticos de quem não se deu conta de novos sentidos e novas interpretações, hoje muito mais restritas que no passado.

 

Meu amigo Wander Wildner já pediu desculpas por ter usado termos inadequados ao se defender de ações antiprofissionais e desrespeitosas de que foi vítima em uma casa noturna de São Paulo. Ele disse que errou e, a partir dessa constatação, creio que não perde nem um centímetro de sua envergadura ética e artística. Alvo de comentários apressados e às vezes maldosos que, como é usual, distorcem fatos e provocam julgamentos sumários na internet. Wander deve continuar compondo e cantando com alegria, liberdade e irreverência. Contudo, ou aprendemos a usar as palavras com mais cuidado, ou aprendemos a calar. Eu marco a primeira alternativa.

 

Fonte: ZeroHora/Carlos Gerbase (gerbase@pranafilmes.com.br) em 08/06/2017.