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O Realismo — Contexto Histórico
O Realismo — Contexto Histórico

Contexto histórico

O Realismo – Contexto e Abrangência

  • Profundas transformações econômicas, políticas, sociais e culturais da Segunda metade do século XIX:
  • Nova fase da Revolução Industrial, iniciada no século XVIII, utilização do aço, do petróleo e da eletricidade;
  • Descobertas nos campos da Física e da Química.
  • O capitalismo se estrutura em moldes modernos, com o surgimento de grandes complexos industriais; a massa operária urbana avoluma-se, mas que não partilha dos benefícios gerados pelo progresso industrial

 

  • Oposição ao idealismo romântico.
  • Romance como meio de combate e crítica às instituições sociais decadentes, como o casamento, por exemplo. Análise dos valores burgueses com visão crítica denunciando a hipocrisia e corrupção da classe.
  • Narrativa minuciosa (com muitos detalhes).
  • Personagens analisadas psicologicamente

 

  • A crítica à degradação da sociedade constitui tema do Romance de Tese. Trata-se do romance cujo objetivo é o de defender a tese de que as relações sociais não evoluíram como a ciência.

 

No Brasil foi em 1881, com “Memórias Póstumas da Brás Cubas” de Machado de Assis

 

Em diversos momentos da narrativa, o narrador dá a entender que relacionamento era motivado pela atração de Brás Cubas e pelo interesse material de Marcela.

 

Esse viés crítico da realidade exigiu do escritor um certo distanciamento, de modo a permitir a observação das relações sociais de forma isenta e objetiva.

 

Esse aspecto denota uma postura muito diferente daquela assumida pelo autor romântico, cuja lente subjetiva tingia de sensações os acontecimentos.

 

A diferença principal que se pode delinear entre Romantismo e Realismo é a focalização da realidade, uma vez que a arte passa a ter uma missão: ser um instrumento de mudança social. Essa modificação na perspectiva decorre das transformações e descobertas que o século XIX passou a conhecer.

 

Como bem observou:

“Ao invés do subjetivismo, propunham a objetividade, amparados na ideia positiva do fato real; em lugar da imaginação, a realidade contingente; assim, ao ‘eu’, que os românticos erigiram como espaço ideal para suas pervagações fantasistas e imaginárias, os realistas opunham o ‘não-eu’;(...).

 

E a verdade localizava-se, a seu ver, na realidade concebida como o mundo dos fenômenos físicos, suscetíveis de captação dos sentidos.  

 

Para tanto, abandonaram as preocupações teológicas e metafísicas identificadas com o universo romântico, e aderiram à visão do mundo sugerida pelas ciências. (...) Buscam, enfim, comportar-se perante a arte como autênticos cientistas.”

 

MOISÉS, Massaud. História da literatura brasileira. vol. II. 4. ed.São Paulo: Pensamento/Cultrix, 2001. p.15.

 

AS IDEIAS, UM CONTEXTO.

A partir de meados do século XIX, na Europa, os feitos científicos ganharam grande destaque. Inventos, descobertas, pesquisas e teorias transformaram o mundo e abalaram certezas até então incontestáveis, como  a origem do homem, por exemplo. E, para entendermos a arte desse período, é fundamental conhecer um pouco dessas ideias.

 

Charles Darwin publica, em 1859, sua obra “A origem das espécies”, na qual defendia a tese de que os seres evoluíram a partir de um ancestral comum, e essa evolução decorreu de uma seleção natural.

 

Até hoje essa tese é objeto de contendas. Nos Estados Unidos, por exemplo, a tese criacionista – Deus foi o criador do universo – é  priorizada em detrimento da teoria evolucionista de Darwin.

 

O primeiro tomo de “O Capital – conjunto de obras do intelectual alemão Karl Marx–  foi publicado em 1867. A obra criticou os princípios do capitalismo e lançou as bases para o socialismo.

 

Augusto Comte, pensador francês, exerceu grande influência no pensamento brasileiro. O pensamento positivista prega que o conhecimento verdadeiro só se pode alcançar mediante o conhecimento científico. Assim, todas as outras formas de conhecimento são rejeitadas, por serem consideradas como métodos aceitáveis. Sua obra é extensa, mas vale citar Discurso sobre o espírito positivo, publicada em 1848.

 

Hippolyte Taine, historiador, crítico e filósofo francês, aplicou a metodologia científica à análise artística e histórica; por meio de um  método determinístico defendia que três leis orientavam a produção estética: a herança, o ambiente e o momento.

 

UMA BREVE ANÁLISE DO PANORAMA HISTÓRICO

A segunda metade do século XIX, como vimos, foi cenário da efervescência de ideias que orientariam grandes revoluções do século XX. E no Brasil encontraram solo fértil para a sua divulgação, motivando as mudanças políticas e econômicas que se deram neste período, como bem observou Alfredo Bosi:

 

“De fato, a partir da extinção do tráfico, em 1850, acelerara-se a decadência da economia açucareira; o deslocar-se do eixo de prestígio para o Sul e os anseios das classes médias urbanas compunham um quadro novo para anação, propício ao fermento de ideias liberais, abolicionistas e republicanas. De 1870 a 1890 serão essas as teses esposadas pela inteligência nacional, cada vez mais permeável ao pensamento europeu que na época se constelava em torno da filosofia positiva e do evolucionismo.” (BOSI, P. 163).

 

A Abolição conquistada em 1888, mediante a assinatura da Lei Áurea, e a Proclamação da República, em 1889,  alteraram a estrutura política e econômica brasileira de forma bastante radical, e não de forma pacífica.

 

As revoltas subsequentes, principalmente originadas pelo desacordo com os ideais republicanos, foram silenciadas com crueldade e violência na República Velha, tais como a Revolta da Armada e a Revolução Federalista, em 1893.

 

Nesse panorama das revoltas, devem-se incluir as constantes imigrações de trabalhadores europeus, mormente, italianos que chegam ao Brasil, dedicando-se à lavoura de café. O produto encontrará grande valorização no mercado, gerando grande especulação financeira e lucro.

 

O nosso país conquista, pouco a pouco, a maturidade econômica e política e as ideias acompanham o ritmo das transformações.

 

Nesse campo, é importante registrar o nascimento da “Escola do Recife”, grupo formado por intelectuais oriundos da Escola de Direito, formado por Tobias Barreto, Graça Aranha e Sílvio Romero, personagens que marcaram profundamente a história brasileira.

 

O nosso país conquista, pouco a pouco, a maturidade econômica e política e as ideias acompanham o ritmo das transformações.

 

Nesse campo, é importante registrar o nascimento da “Escola do Recife”, grupo formado por intelectuais oriundos da Escola de Direito, formado por Tobias Barreto, Graça Aranha e Sílvio Romero, personagens que marcaram profundamente a história brasileira.

 

“Nas regiões do pensamento teórico, (...) o atraso era horroroso. Um bando de ideias novas esvoaçou sobre nós de todos os pontos do horizonte(...): Positivismo, evolucionismo, darwinismo, crítica religiosa, naturalismo, cientificismo na poesia e no romance, folclore, novos processos de crítica e de história literária, transformação da intuição do Direito e da política, tudo então se agitou e o brado de alarma partiu da Escola de Recife.”

 

ROMERO, S. Explicitações indispensáveis. Apud BOSI, A. História concisa da literatura brasileira. 2003. p. 166.

 

Contexto histórico nas artes

  • Em 1855, a Exposição Universal, realizada em Paris, tinha por objetivo trazer as mais recentes descobertas na indústria, na agricultura e também nas artes.
  • No entanto, por terem sido considerados ofensivos à moral, devido à temática chocante de suas telas, os quadros de Courbet são recusados.
  •  Em resposta, o pintor organiza sua própria exposição nas proximidades do evento, e dá a ela o título “Le Réalisme”. Assim, a exposição de Courbet dá nome ao período estético.

 

REALISMO, POR QUÊ?

O Realismo iniciou-se na França, em 1857, com a publicação de “Madame Bovary”, de Gustave Flaubert.

 

No Brasil foi em 1881, com “Memórias Póstumas da Brás Cubas” de Machado de Assis e “O Mulato” de Aluísio Azevedo.

 

O termo “Realismo” denomina com pertinência o período estético e suas características.

 

O quadro de Gustave Courbet chama-se “Os quebradores de pedra”. Observe a aridez do cenário em primeiro plano, as pedras e a terra compõem a base das figuras humanas, cujas faces estão ocultas. Maltrapilhos, os trabalhadores estão empenhados em sua tarefa árdua de quebrar as pedras, não importando para aquele que os representa  dar a eles a individualidade de um rosto. Sua tarefa é o objeto da arte, e não suas emoções e sentimentos.

 

A cena do cotidiano humilde reporta ao observador o motivo mais relevante ao artista desse período, pois, desprovida de idealização, a realidade é apresentada em uma versão que procura ser seu retrato fiel.

 

Em 1855, a Exposição Universal, realizada em Paris, tinha por objetivo trazer as mais recentes descobertas na indústria, na agricultura e também nas artes.

 

No entanto, por terem sido considerados ofensivos à moral, devido à temática chocante de suas telas, os quadros de Courbet são recusados.

 

Em resposta, o pintor organiza sua própria exposição nas proximidades do evento, e dá a ela o título “Le Réalisme”. Assim, a exposição de Courbet dá nome ao período estético estudado nesta aula.

 

Na literatura, Charles Baudelaire publicava, em 1857, As flores do mal, e Gustave Flaubert, no mesmo ano, Madame Bovary.

 

As duas obras foram consideradas divisores de águas na história da literatura mundial, pois transformaram o pensamento e o estilo de seus contemporâneos e sucessores.

 

No Brasil, o marco inicial do movimento se registra com a publicação de Memórias póstumas de Brás Cubas, em 1881, de Machado de Assis.

 

“Machado de Assis (Joaquim Maria M. de A.), jornalista, contista, cronista, romancista, poeta e teatrólogo, nasceu no Rio de Janeiro, RJ, em 21 de junho de 1839, e faleceu também no Rio de Janeiro, em 29 de setembro de 1908. É o fundador da Cadeira nº. 23 da Academia Brasileira de letras. Velho amigo e admirador de José de Alencar, que morrera cerca de vinte anos antes da fundação da ABL, era natural que Machado escolhesse o nome do autor de O Guarani para seu patrono. Ocupou por mais de dez anos a presidência da Academia, que passou a ser chamada também de Casa de Machado de Assis.”

AO VERME QUE PRIMEIRO ROEU AS FRIAS CARNES DO MEU CADÁVER DEDICO COMO SAUDOSA LEMBRANÇA ESTAS MEMÓRIAS PÓSTUMAS

 

Ao leitor

Que Stendhal confessasse haver escrito um de seus livros para cem leitores, coisa é que admira e consterna. O que não admira, nem provavelmente consternará, é se este outro livro não tiver os cem leitores de Stendhal, nem cinquenta, nem vinte, e quando muito, dez. Dez? Talvez cinco. Trata-se, na verdade, de uma obra difusa, na qual eu, Brás Cubas, se adotei a forma livre de um Sterne, ou de um Xavier de Maistre, não sei se lhe meti algumas rabugens de pessimismo. Pode ser. Obra de finado.

 

Pode ser. Obra de finado. Escrevia-a com a pena da galhofa e a tinta da melancolia, e não é difícil antever o que poderá sair desse conúbio. Acresce que a gente grave achará no livro umas aparências de puro romance, ao passo que a gente frívola não achará nele o seu romance usual; ei-lo aí fica privado da estima dos graves e do amor dos frívolos, que são as duas colunas máximas da opinião.

 

Mas eu ainda espero angariar as simpatias da opinião, e o primeiro remédio é fugir a um prólogo explícito e longo. O melhor prólogo é o que contém menos coisas, ou o que as diz de um jeito obscuro e truncado. Conseguintemente, evito contar o processo extraordinário que empreguei na composição destas Memórias, trabalhadas cá no outro mundo. Seria curioso, mas nimiamente extenso, aliás desnecessário ao entendimento da obra. A obra em si mesma é tudo: se te agradar, fino leitor, pago-me da tarefa; se te não agradar, pago-te com um piparote, e adeus.

Brás Cubas

  

No mesmo ano, foi publicado O mulato, de Aluísio Azevedo.

“Aluísio Azevedo (A. Tancredo Gonçalves de A.), caricaturista, jornalista, romancista e diplomata, nasceu em São Luís, MA, em 14 de abril de 1857, e faleceu em Buenos Aires, Argentina, em 21 de janeiro de 1913.”

 

http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=101&sid=106&tpl=printerview

 

A produção literária brasileira alcança, nos últimos anos do século XIX, a sua maturidade, seja pela produção de maior volume, seja pela maior densidade artística de nossas obras. São contos, romances, ensaios, crônicas, poesias, peças teatrais, enfim, os gêneros se diversificam, tornando possível vislumbrar os caracteres formadores de sua identidade.

 

A crítica à degradação da sociedade constitui tema do Romance de Tese.

 

Trata-se do romance cujo objetivo é o de defender a tese de que as relações sociais não evoluíram como a ciência.

 

A temática realista é bastante variada, mas se observam com alguma constância os temas relativos ao casamento ou à família. Nesse sentido, o adultério é tema recorrente, como índice da desestruturação da família burguesa  e sinal mais crítico e agudo da denúncia da hipocrisia das relações sociais.

 

É importante chamar a atenção para outro ponto muito importante quando estudamos este período estético: a abrangência do termo Realismo. Em outras palavras, podemos observar que, sob a nomenclatura, convivem três tendências: o Realismo, propriamente dito; o Naturalismo e o Parnasianismo.

 

Nos termos de Bosi, “ O Realismo se tingirá de naturalismo, no romance e no conto, sempre que fizer personagens e enredos submeterem-se ao destino cego das ‘leis naturais’ que a ciência da época julgava ter codificado; ou se dirá parnasiano, na poesia, à medida que se esgotar no lavor do verso tecnicamente perfeito.”  ( BOSI, A. 2003. p. 168)

 

Assim, esse movimento deve ser visto como um movimento amplo, que engloba e define uma maneira peculiar de ver o mundo e representá-lo, principalmente com objetividade e fidelidade à descrição dos detalhes.