QUEM FINANCIA FAKE NEWS?
Fake news são um desafio para as democracias. Notícias falsas podem desequilibrar uma eleição, principalmente se 2018 repetir o cenário de 1989, quando tínhamos muitos candidatos e altas taxas de rejeição.
Uma forma de combater o fake news é a educação para a mídia. Notícias falsas utilizam truques conhecidos, como o uso de temas polarizados, de títulos sensacionalistas, de fotos chamativas, de mau uso de fontes confiáveis para referendar opiniões extremadas. Infelizmente, vasta pesquisa já comprovou que a maioria de nós é incapaz de identificar uma notícia falsa antes de compartilhá-la.
Outra solução é pedir ajuda aos intermediários da internet. Algoritmos podem ser treinados para detectar conteúdos falsos. O problema é que a pesquisa também comprova que, quando se automatiza o controle de conteúdo, o exercício da liberdade de expressão fica em risco.
Mas há uma solução mais simples: seguir o dinheiro que financia a indústria das notícias falsas. Identificar quem paga para que elas virem temas quentes no Facebook, no Google, e até mesmo no WhatsApp.
Na eleição de Trump, por exemplo, empresas russas financiaram notícias falsas para influenciar eleitores a votar conta Hillary. Por aqui, já revelamos que uma empresa ligada à JBS financiou uma notícia falsa do site Folha Política para atacar o jornalista Leonardo Sakamoto. Por trás da notícia falsa, nesses casos, havia uma mão invisível impulsionando o conteúdo para cair na sua frente.
Recentemente, a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e o Ministério da Defesa declararam que fake news é uma forma de crime cibernético. Na eleição brasileira de 2014, a Abin encontrou, inclusive, uma notícia falsa sobre o fim do Bolsa Família. Ao ler seu conteúdo, pessoas foram à Caixa Federal porque ficaram com medo de perder o benefício. Esse não é um caso de boato: trata-se de estratégia paga para parecer boato, para parecer conteúdo orgânico.
Em redes sociais como o Facebook, o impulsionamento de postagens é uma condição para atingir milhares de pessoas rapidamente. Converter dinheiro em atenção é um modelo de negócio legítimo e antigo, mas, quando usado para impulsionar conteúdo falso, torna-se um problema. O problema é tão grande que tanto o Facebook quanto o Twitter anunciaram formas de dar mais transparência para quem quer impulsionar conteúdo político nas redes sociais.
No WhatsApp, que não aceita dinheiro para impulsionar conteúdo, a indústria das notícias falsas paga equipes profissionais para compartilhar em massa uma mesma mensagem. E é assim que surgem os boatos: o amigo do teu amigo que te passa uma mensagem pode ser, na verdade, um funcionário de um CNPJ mal-intencionado.
A pior face das notícias falsas são é seu conteúdo, mas o financiamento obscuro por trás delas. Eis aí uma oportunidade de ouro. Quando os tribunais julgarem um conteúdo por ser claramente ofensivo, por que não investigar também quem pagou para impulsioná-lo
Fonte: ZeroHora/Fabro Boaz Steibel/Diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio e professor da ESPM (fabro@itsrio.org) em 05/11/2017