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Os Últimos Testemunhos
Os Últimos Testemunhos

OS ÚLTIMOS TESTEMUNHOS

História: Livros escritos por sobreviventes do Holocausto são fundamentais para a construção da memória do episódio, mas podem estar no fim.  Motivo: a simples passagem do tempo

 

A possibilidade de novos testemunhos escritos de sobreviventes do Holocausto vai diminuindo pouco a pouco, seguindo o curso do tempo e o falecimento dos que foram vítimas desse trágico momento da História.  Um dos títulos mais recentes, lançado neste mês na França, é de Léon Placek, um parisiense de 89 anos que continua trabalhando como contador, apesar da idade avançada.  J'AVAIS 10 ANS À BERGEN-BELSEN ("Eu tinha 10 anos em Bergen- Belsen", ainda inédito no Brasil), editado pela Éditions du Cherche-Midi, é fruto da insistência de seu filho, reconhece Placek.

— Ele ficou insistindo e, no fim, acabei cedendo – diz esse senhor que sobreviveu ao campo de concentração de Bergen-Belsen.

 

Foi nesse campo no norte da Alemanha que morreu a adolescente judia Anne Frank, autora de um diário escrito em seu esconderijo em Amsterdã que se tornou um dos principais testemunhos da perseguição nazista.

 

Placek costumava falar o mínimo possível sobre Bergen-Belsen para seus filhos. No período inicial do Pós-Guerra na França, os sobreviventes não eram encorajados a se manifestar – muito pelo contrário, ele recorda: "Éramos como estrangeiros.  Voltávamos de um mundo do qual normalmente não se retorna", escreve no livro.

— Hesitei por muito tempo a romper esse silêncio. Minha palavra serviria para quem? O que eu poderia dizer? – questiona, relembrando algumas das questões que o mobilizaram nesse processo.

 

Os testemunhos do horror da Segunda Guerra Mundial foram surgindo ao longo das décadas até que, em 1985, foi lançado o documentário histórico SHOAH, do francês Claude Lanzmann, que se tornou uma referência no tema.  Placek participou de conferências que começaram a ser realizadas com estudantes por toda a Europa a partir daquele período, mas só finalizou seu livro agora, com a ajuda do jornalista Philippe Legrand.

 

Em 2021, a prestigiosa Bibliothèque de la Pleiade publicou uma antologia com esses testemunhos intitulada L'ESPÈCE HUMAINE ET AUTRES ÉCRITS DES CAMPS ("A espécie humana e outros escritos dos campos", em tradução literal).  Como lembra o professor universitário Dominique Moncond'huy na introdução do volume, alguns desses depoimentos, inicialmente, chegaram a enfrentar a indiferença e até mesmo a incompreensão.

— Nada podia ser mais violento para os sobreviventes do que a constatação de que sua voz não era ouvida – diz Moncond'huy.

 

Lili Keller-Rosenberg, de 88 anos, também passou por Bergen-Belsen e, depois, por Ravensbrück.  Também no ano passado, publicou ET NOUS SOMMES REVENUS SEULS ("E nós voltamos sozinhos", também inédito no Brasil).  Nesse livro, ela fala de sua primeira palestra para estudantes, realizada em 1983.  E constata, ao final do volume: "Não restam muitos de nós.  Em Hauts-de-France, eu sou a última sobrevivente que pode testemunhar sobre o que aconteceu".

 

Génia Oboeuf, outra sobrevivente de Ravensbrück, faleceu aos 98 anos, antes de poder assistir ao lançamento de GÉNIA ET AIMÉ, livro sobre a história dela e de seu marido, Aimé, que chegou às livrarias francesas no último dia 17 de maio, exatamente um ano após sua morte.

 

Fonte: Zero Hora/Hugues Honoré-AFP em 22/05/2022