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Santa Joana dos Matadouros: de Bertold Brecht
Santa Joana dos Matadouros: de Bertold Brecht

SANTA JOANA TRADUZIDA AOS TEMPOS ATUAIS

 

MONTAGEM CARIOCA RELÊ PEÇA DE BRECHT.

 

Certa vez, o diretor teatral alemão contemporâneo Tilmann Köhler escreveu:  “Nunca ouvi falar tanto a respeito de peças de Brecht ou de encenações das mesmas como no Brasil, onde elas parecem necessárias.  Um capitalismo que se mostra cada vez mais brutal faz com que essas frases se tornem incandescentes”.  A encenadora e professora Marina Vianna, que dirige uma montagem de A SANTA JOANA DOS MATADOUROS ao lado de Diogo Liberano, concorda:

- Um país latino-americano periférico, com um capitalismo avançado, mas socialmente atrasado, tem muito o que aprender com as palavras de Brecht.  Ele deve ser usado, no sentido de voltar ao uso comum, mas não da forma clássica, mumificado.  Pelo contrário, precisamos profaná-lo, antropofagizá-lo.

 

A transformação da teoria em prática poderá ser contemplada pelo público porto-alegrense nas sessões do espetáculo hoje e amanhã, no teatro do Sesc Centro, dentro da programação do 11º Festival Palco Giratório Sesc/POA.  Escrita por Bertolt Brecht no contexto da crise de 1929, a história mostra a luta dos trabalhadores de matadouros que servem à indústria de carne enlatada de Chicago em um momento de desemprego e greve.

 

Joana Dark é a anti-heroína que procura aplacar a dor dos operários com sopa quente e palavras de fé, mas sofre uma tentativa de cooptação pelos patrões.  A versão do texto apresentada na montagem conta com tradução de Roberto Schwarz, mas o material aparecerá completamente reconstruído, com dramaturgia de Diogo Liberano.

 

Quem espera a fidelidade que alguns costumam dedicar a Brecht poderá se surpreender, segundo Marina:

- A peça foi escrita entre 1929 e 1931.  Tem uma estrutura quase de teatro barroco, com elementos de Calderón de la Barca e Shakespeare, parodiando Schiller e Goethe.  A partir desta leitura alegórica de Brecht, trocamos trechos de lugar, inserimos outras citações, e os atores compuseram novas cenas.  É um trabalho de desmontagem e remontagem da peça.

 

Segundo a diretora, trata-se de uma maneira de ser coerente com Brecht pelo avesso: para ele, a primeira regra era violar as regras.  Mas a releitura também oi inspirada pelas ideias de Heiner Müller, herdeiro pós-moderno do dramaturgo e teórico.  Por isso, a montagem carioca não se vale das lições do teatro épico e da técnica do distanciamento:

- Não tivemos qualquer apego às teorias de Brecht, apesar de eu ser professora de teoria do teatro.  Acredito que sua obra poética e dramatúrgica é maior do que a teoria, a qual é preciso ler a contrapelo para que não seja transformada em dogma.

 

Fonte:  ZeroHora/Segundo Caderno/Fábio Prikladnicki (fabio.pri@zerohora.com.br) em 18 de maio de 2016.