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Importação de Cultura — por Vólia Loureiro Amaral
Importação de Cultura — por Vólia Loureiro Amaral

 

IMPORTAÇÃO DE CULTURA, FIM DA NOSSA IDENTIDADE COMO NAÇÃO.

 

 

Observando a lista dos livros de ficção mais vendidos no Brasil, no ano de 2013 e durante esse primeiro semestre, constato, com tristeza, que nessa lista, consta o nome de apenas um autor brasileiro, famoso em livros de autoajuda. Observo ainda, com flagrante decepção, que livros de poesia, não constam nessas listas, sejam estes, nacionais ou estrangeiros.

 

Outra coisa que observo com tristeza é que, se pedirmos que as pessoas citem nomes de autores nacionais, entre os nomes lembrados não encontraremos nomes de novos autores. Certamente, serão lembrados, Jorge Amado, Érico Veríssimo, Clarice Lispector, Machado de Assis, entre outros. E os que chegam mais próximos da novidade seriam Jô Soares, Paulo Coelho, nomes já conhecidos, não apenas pela vocação literária. Ninguém lembra ou conhece o nome de um novo autor, e isso é uma coisa triste e grave.

 

Pergunto: Onde estão os novos autores? O que está acontecendo com a Literatura Brasileira, antes, tão rica, prolífica nos diversos gêneros? Será que perdemos a capacidade de gerar a nossa própria Cultura? Será que a nossa Literatura está envelhecendo e morrendo com a importação da literatura estrangeira?

 

O que observo, com certa revolta, é que, deixamos de dar valor ao que é genuíno. Estamos perdendo a nossa identidade cultural para assumir a cultura estrangeira. Estamos matando, aos poucos, a Cultura Brasileira. Não vejam nesta constatação nenhum laivo de misantropia, o contato com as outras culturas é importante e essencial ao progresso, mas, é importante que se preserve, também, aquilo que é nosso, sob pena de perdermos a nossa identidade como nação.

 

Um exemplo: Antigamente, nas escolas, comemorávamos o dia do Folclore. Precisamente no dia 22 de agosto, os professores traziam histórias e atividades para ensinar à criançada as histórias do imaginário do nosso povo: O Negrinho do Pastoreio, Os Sete Estrelos, A lenda da Mandioca, A Lenda da Mãe D’água, O Saci Pererê, O Caipora, O Boitatá, eram histórias e personagens contados e lembrados nas escolas. Atualmente, ninguém se lembra do dia 22 de agosto, mas toda criança sabe que o dia 31 de outubro comemora-se o Halloween, que faz parte do folclore norte-americano. Começa, a partir da escola, a importação da cultura estrangeira e a consequente morte da nossa cultura.

 

Não existe qualquer incentivo, por parte das escolas, para que novos autores sejam lidos, e, quando se trata de poesia, aí é que tudo fica mais difícil, criou-se uma falsa ideia de que gostar de poesia é coisa de velho, é piegas. Desclassifica-se um gênero tão belo, sem que se dê chance ao jovem de ter a sua própria opinião sobre esta forma de expressão.

 

Existe uma política perversa de boicote à Cultura. A erudição no Brasil parece que se tornou um defeito. O que se procura veicular como sendo cultural no nosso país é a pornografia, o modismo barato, a literatura “fast food”.  Não existe um verdadeiro incentivo à leitura, pois, apesar das cirandas de livro, e dos livros de leitura obrigatória que as escolas promovem, isso não é suficiente para criar na criança e no jovem o gosto pela literatura, são pífios esforços, que não têm muito resultado.

 

Por outro lado, encontramos os fenômenos de venda, tais como a coleção Harry Potter, da escritora J.K Rowling e outras trilogias estrangeiras, tornando-se febre entre os jovens, demonstrando que, quando incentivados ( no caso, o incentivo foi uma excelente estratégia de marketing) os jovens gostam de ler. Tal fato não ocorre apenas no âmbito da literatura infanto-juvenil, atrás dos grandes sucessos de venda da atualidade, existe uma bela estratégia das editoras estrangeiras.

 

E como fica o autor nacional? Como concorrer com tão forte estratégia, se não existem incentivos? Infelizmente, os novos autores ao invés de incentivos, recebem verdadeiros baldes de água fria das editoras, que engavetam os seus livros por anos, e, no mais das vezes, não os publicam. E se o autor resolve publicar sua obra por conta própria, tem de bancar altos custos, e se submeterem a contratos leoninos por parte de algumas editoras. Além disso, ao tentarem distribuir os seus livros para as livrarias também recebem um tratamento desrespeitoso, tendo de se contentarem em deixar a sua obra em algum cantinho de prateleira dos autores nacionais, porque o destaque é para os livros das grandes editoras estrangeiras. Além do que, não podem escrever livros com mais de 200 páginas, porque ficam inviáveis comercialmente, por não poderem concorrer com os estrangeiros que chegam aqui com um preço mais acessível.

 

Estamos matando a nossa identidade cultural. Quantas J.K Rowling,  E.L James brasileiras estão sendo desperdiçadas! Estamos desprezando nossos talentos, nossas histórias, nossa Cultura para consumirmos as histórias dos outros. Estamos deixando de ser brasileiros! Um povo sem cultura deixa de ser uma nação!

 

É preciso que haja mais carinho e respeito com os autores nacionais. É preciso permitir e incentivar que o jovem tenha acesso à Literatura, nos seus vários gêneros. É preciso voltar a valorizar a poesia! O Brasil precisa acordar para o seu enorme potencial e valorizar aqueles que procuram, através da poesia e da prosa, alimentar a alma de seus filhos com o que há de melhor, com as histórias que têm o nosso rosto, o nosso gosto. Não precisamos importar aquilo que temos de sobra e com excelente qualidade. Isso é, no mínimo, um grande desperdício.

 

Por: Vólia Loureiro do Amaral Lima