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Realismo em Portugal
Realismo em Portugal

                           O pátio da Universidade de Coimbra

 

Segunda metade do século XIX.  Nada mais de donzelas apaixonadas, homens e mulheres elegantes e finos, mansões e ambientes luxuosos.  A literatura procura mostrar a vida tal como é, sem as fantasias e as idealizações românticas.  É o começo do Realismo.

 

A CONSOLIDAÇÃO DA SOCIEDADE  BURGUESA  NA  EUROPA

A partir da segunda metade do século XIX, o ambiente social europeu apresenta mudanças significativas.  A civilização burguesa, industrial e materialista, consolida-se.  As ideias liberais espalham-se.  Surgem várias cidades industriais.  As ciências naturais desenvolvem-se e o método científico de experimentação e observação da realidade para a ser o único aceitável para a explicação do mundo.  O misticismo e a religião são atacados.

 

O acelerado movimento capitalista atraiu milhares de pessoas às cidades que começavam a industrializar-se, mas que não tinham sido preparadas para recebê-las.  Interessados apenas no lucro imediato, os capitalistas não se preocuparam com a condição de vida dos operários, que se amontoavam em casebres miseráveis e cortiços, sem nenhum conforto e higiene.

 

A LITERATURA REALISTA

O Realismo começou na França, em 1857, com a publicação do romance Madame Bovary, de Gustave Flaubert.  Abandonando o idealismo romântico, os escritores realistas propõem uma representação mais objetiva e fiel da vida social.  Negam-se a encarar a literatura apenas como uma forma de entretenimento e fazem dela um instrumento de denúncia dos vícios e da corrupção da sociedade burguesa.

 

Denunciam as péssimas condições de vida do povo, a exploração dos operários, a influência perniciosa da religião e das práticas supersticiosas, que ela apoia, a hipocrisia do relacionamento humano no casamento burguês.

 

O NATURALISMO

No interior do movimento realista, podemos distinguir uma tendência chamada Naturalismo, que via o comportamento humano como uma reação condicionada pela influência do meio social e pelas características físicas e psicológicas hereditárias.

 

Para os naturalistas, o ser humano não passa de um produto biológico sujeito às leis da natureza; por isso, em certas circunstâncias, seu comportamento pode ser facilmente previsto, pois ele teria sempre as mesmas reações, instintivas e incontroláveis.

 

O REALISMO EM PORTUGAL

Em Portugal, a primeira manifestação explícita de repúdio às velhas ideias do Romantismo veio de um grupo de estudantes da Universidade de Coimbra.  Essa manifestação tomou a forma de uma polêmica entre a velha e a nova geração e originou-se de um texto de 1865 do poeta romântico Antônio Feliciano de Castilho, no qual ele criticava as novas ideias literárias postas em circulação por alguns jovens estudantes de Coimbra, especialmente por Teófilo Braga e Antero de Quental.

 

Antero de Quental respondeu à critica de maneira violenta, escrevendo uma carta aberta que foi divulgada com o título de “Bom senso e bom gosto”, na qual Castilho foi acusado de obscurantismo.  Antero defendia a liberdade depensamento e a independência dos novos escritores.  Atacava o academismo e a decadente literatura romântica e pregava a renovação porque ela era a vida do futuro.

 

Nascia assim a Questão Coimbrã, como ficou conhecida essa polêmica, que passou a ser o marco divisor entre o Romantismo e o Realismo.

 

Outro fato veio acirrar ainda mais os ânimos entre a velha e a nova geração.  Em 1871, um grupo de jovens intelectuais formado, entre outros, por Eça de Queirós, Antero de Quental, Oliveira Martins e Ramalho Ortigão planejou uma série de Conferências Democráticas, que seriam realizadas no Cassino Lisbonense.

 

O governo e, principalmente, a Igreja não viam com bons olhos toda essa agitação intelectual.  Por isso, depois da quinta conferência, o Cassino foi fechado por decreto real.  Mas as ideias básicas já tinham sido difundidas, e o ambiente cultural português não seria m ais o mesmo dali em diante.  Era o triunfo do Realismo, que tem no prosador Eça de Queirós e nos poetas Cesário Verde e Antero de Quental seus nomes de maior destaque.

 

EÇA DE QUEIRÓS

Eça de Queirós (1845-1900) é o mais importante prosador realista e um dos grandes nomes da literatura portuguesa.  Em seu romance O crime do padre Amaro (1875), marco inicial do Realismo em Portugal, ele apresenta algumas características básicas de sua postura literária: crítica violenta da vida social portuguesa, denúncia da corrupção do clero e da hipocrisia dos valores burgueses.  Tais características acentuam-se no romance O primo Basílio, impiedosa crítica da decadência da sociedade burguesa.

 

Com Os Maias, em 1888, observa-se uma mudança na atitude irreverente e destruidora de Eça de Queirós.  Nesse romance, segundo o crítico João Gaspar Simões, o autor “deixa transparecer os mistérios do destino e as inquietações do sentimento, as apreensões da consciência e os desequilíbrios da sensualidade”.

 

Segue-se então uma nova fase na evolução literária de Eça de Queirós, em que a descrença no progresso e nos ideais revolucionários se manifesta na saudade da vida do campo e na valorização das virtudes nacionais.  É o momento de romances como A cidade e as serras e A ilustre casa de Ramires, de contos como “Suave milagre” e de biografias religiosas.

 

O primo Basílio

O romance O primo Basílio ilustra bem a posição crítica de Eça de Queirós diante da sociedade lisboeta de seu tempo.  Luísa e Jorge são casados e vivem uma vida confortável e rotineira.  Luísa, ociosa e sonhadora, é visitada por seu primo Basílio, com quem tivera um namoro antes de conhecer o marido.  Basílio aproveita a ausência de Jorge, que está viajando a trabalho, e seduz a prima.  Passam a encontrar-se, mas não conseguem evitar que o caso seja percebido.  A empregada da casa, Juliana, encontra no lixo alguns rascunhos de cartas que comprometem Luísa e passa a chantageá-la.  Nessa altura, já foi embora de Lisboa e Jorge voltou.  Luísa desespera-se, não sabendo o que fazer para sair dessa enrascada.  Com a ajuda de um grande amigo, consegue recuperar as cartas.  A empregada morre e Luísa, esgotada, adoece gravemente.  Jorge fica sabendo de tudo, mas resolve perdoá-la.  Ela, porém, não se recupera e falece.  Basílio, por seu lado, ao saber da morte de Luísa, lamenta apenas a perda de uma mulher que poderia ser um bom passatempo para ele, quando tivesse que voltar a Lisboa.

 

ANTERO DE QUENTAL

Antero Tarquínio de Quental (1842-1891)  foi um verdadeiro líder intelectual da geração realista em Portugal, dedicando-se inteiramente à reflexão dos grandes problemas filosóficos e sociais de seu tempo e contribuindo de modo decisivo para a implantação das ideias renovadoras da geração de 1870, a geração de Eça de Queirós.  Os sonetos em que expressa suas inquietações religiosas e metafísicas constituem a parte mais importante de sua obra poética.  É considerado um dos grande sonetistas da literatura portuguesa, ao lado de Camões e Bocage.