Translate this Page




ONLINE
3





Partilhe esta Página

                                            

            

 

 


Elza Saraiva Duarte
Elza Saraiva Duarte

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

ENTREVISTA: Elza Saraiva Duarte

 

Sua biografia:

Ativista de movimentos negros, Assistente Social pós-graduada em Docência em Ensino Superior, com certificação internacional nos cursos de Life Coach, Executive Coach, Palestrante Coach, Líder Coach. Especialista em PNL (Programação Neurolinguística), Inteligência Emocional, Palestrante e Escritora.

 

 

Seu Livro:

 

 

Sinopse:

O Voo da Águia, conta a história de uma mulher negra, filha de pais analfabetos, nascida no interior do Rio Grande do Sul, que sonhava em morar na cidade grande e vencer na vida.  E depois de trilhar caminhos tortuosos, venceu na vida. E conta em detalhes como foi a sua trajetória, marcada por sonhos, lágrimas e muita luta.

O livro foi escrito com a intenção de alcançar o maior número de pessoas, para tratar de questões importantes, como: racismo, o empoderamento negro, a violência nas suas diversas formas, o feminicídio, o perdão, o resgate de nossas raízes africanas, e como podemos, através de muita luta e determinação, superar todas as dificuldades, limitações e conquistar nossos objetivos. 

Para comprar:  Livraria Leia Livros

https://www.leia-livros.com/product-page/o-voo-da-%C3%A1guia

 

 

Como surgiu a escritora Elza Saraiva Duarte?

Eu sempre gostei muito de escrever. Desde pequena escrevia poemas, letras de músicas, histórias; na escola adorava fazer redação, era ótima e sempre tirava as melhores notas. O episódio de violência doméstica contada no livro foi vivido por mim. Passei dez anos sem conseguir falar a respeito, e me sentia sufocada, sem coragem de contar para ninguém. Então, achei mais fácil escrever, contando a minha história. Sabia que iria me expor, mas entendi que para superar tudo isso e poder ajudar outras pessoas, essa exposição se fazia necessária. Precisava falar sobre violência doméstica, assim como milito nas causas raciais, e essa também teria que ser minha bandeira, minha luta, para ajudar outras mulheres a superar seus traumas, a se empoderar, e não se calar, como eu fiz.

 

 

Teu livro é uma autobiografia ou emprestou algumas passagens ou momentos marcantes, para a personagem Aisha?

Na verdade, ele é quase uma autobiografia, pois a maioria dos fatos narrados ali, foram vividos por mim, mesmo os fatos mais marcantes, posso dizer que Aischa e eu somos a mesma pessoa.

 

 

Uma narrativa forte, eu diria, até bem crua, de uma mulher que se doou, sofreu e conseguiu se buscar, antes de sucumbir. Poderia ter sido diferente o final, ou jamais se permitiria isso?

Muitos acontecimentos poderiam ter sido diferentes. No caso da violência doméstica, hoje eu não me calaria, denunciaria levando até as últimas consequências. Mas acredito que sempre buscamos um final feliz, e foi muito feliz o final, pois é uma história de superação, perdão, amor, empoderamento e me sinto privilegiada, por estar viva para poder contar essa história.

 

 

Quase sempre, pessoas que viveram situações difíceis tornam-se depressivas ou violentas. Tu dizes que: “Ajudar pessoas está na minha natureza”. Por quê? Por que ajudar quem te feriu?

Eu acredito que os acontecimentos nos fortalecem, e que as pessoas que nos magoam, nos ferem, na maioria das vezes são pessoas doentes que precisam de ajuda. Quando a gente consegue ter esse entendimento, essa visão, isso só mostra que Deus nos colocou naquela situação, com aquela pessoa, para de alguma forma ajudá-la a entender o que fez, melhorar, tornando-se um ser humano melhor e aprendendo com seus erros.

Eu sempre tive claro que cada pessoa tem uma missão na vida, pois estamos aqui de passagem e temos que viver da melhor forma possível, e se não for para ajudar nosso semelhante qual o sentido da vida? 

Desde pequena eu fazia trabalhos voluntários e tentava, da minha maneira ajudar as pessoas. Sonhava e tinha a ilusão de que eu poderia mudar o mundo...

E por fim, acredito que a gente escolhe o que vai fazer, baseado naquilo que fizeram com a gente. No caso de guardarmos mágoas, rancores, ou revidarmos na mesma moeda, nos tornamos iguais as pessoas que nos feriram, nos magoaram, e não vamos evoluir, só plantamos mais violência no mundo. Temos é de fazer a nossa parte na construção de um mundo melhor e a escolha é nossa.

 

 

Muito interessante o texto no teu site sobre “Como se formam as crenças”. Eu li uma reportagem que o jornalista dizia, baseado em um estudo: “Que o brasileiro é exímio em alimentar certezas que não correspondem aos fatos, mestre da distorção da realidade”.  Isso se refere as crenças? Tens encontrado muitas distorções nos teus atendimentos online?

Sim, as crenças, que podem ser positivas ou limitantes, elas são uma programação neural adquirida durante a nossa vida, principalmente na infância, que determina o comportamento, resultados de atitudes e as conquistas da nossa vida. Então, se tivemos experiências boas, positivas, nossas crenças serão positivas, como confiança, segurança, autoestima; se forem experiências negativas podem gerar crenças limitantes de falta de confiança, insegurança e outras destrutivas.

E as crenças limitantes, são causas de muito sofrimento, que nos impede de realizar nossos objetivos, pois muitas vezes, alimentamos essas crenças por muitos anos e acabam se tornando verdadeiras.

Infelizmente, todos nós alimentamos crenças limitantes ao longo de nossas vidas, mas alguns conseguem fazer uma reprogramação mental, derrubando essas convicções, e assim, colocando crenças positivas e fortalecedoras, mudando sua vida e tornando-se vencedores.

E essa é uma luta difícil, pois primeiro a pessoa precisa identificar suas crenças, para depois fazer uma reprogramação mental, e isso as vezes é um caminho longo, pois muitas pessoas não conseguem identifica-las, outras vezes, elas estão tão enraizadas, que se tornaram verdades absolutas. Nos coaches lidamos com isso diariamente.

 

Fale sobre o poder das palavras?

Palavras tem poder, por isso a importância da gente pensar muito bem antes de falar. Somos reflexo de nossas ações e palavras, atraímos aquilo que pensamos, fazemos e falamos. Atitudes e palavras positivas atraem energias boas e pessoas positivas, somos feitos de energia e tudo aquilo que emanamos, através de nossas atitudes, pensamentos e palavras retornam para nós.

Se não tivermos nada de positivo para falar para as pessoas, então é melhor se calar, e não dizer nada, claro que isso é um exercício diário, pois muitas vezes temos vontade de gritar, xingar, mas, o silêncio ainda é a melhor resposta.

Gosto de uma frase bíblica que diz: "Que não saia nada da minha boca que não seja para edificar".

 

 

Inadmissível o preconceito racial que ainda existe no mundo. Como tu lidas com esse assunto nos teus atendimentos?

O preconceito, o racismo é um câncer que está enraizado na sociedade. É estrutural, imposto por uma sociedade que o alimenta constantemente, por pessoas que acreditam numa supremacia branca, e trabalhar com isso é desafiador.  Muitas vezes, encontro pessoas que estão devastadas devido ao preconceito e não conseguem ou não sabem lidar com essa questão. Tentar ajudá-las a conhecer a sua história, e ter orgulho dos seus ancestrais.  Quando falo de história, não me refiro a essa contada nos livros, onde falam de negros e logo remetem à escravização, como se fosse só isso. É preciso conhecer a história da África, a cultura, ter educação africana nas escolas é um caminho, para o povo negro se empoderar e se orgulhar, pois no momento que conhecemos nosso verdadeiro “berço” seremos mais fortes e isso, eu repito sempre em palestras e nos atendimentos.

 

 

Acha que os seres humanos devem se reciclar? Como acabar com o preconceito? Educando as crianças e jovens?

Eu acredito muito na educação, acho que ela é a base de tudo. Fico muito triste por não ter um governo que investe em educação, pois a gente vê países onde a educação é vista como uma prioridade, e o nível de desenvolvimento desses países é surpreendente. Aqui, temos professores que são verdadeiros super-heróis, que lutam diariamente sem o menor incentivo, sem condições de trabalho, sem valorização. Porém, temos que continuar acreditando, e investir na educação de base, nas crianças, e adolescentes, formar pessoas melhores, mais conscientes, seres pensantes. Ensinar educação africana nas escolas, como disciplina mesmo, não somente dia 13 de maio ou na semana da consciência Negra. A Lei 10.693/03 e o Ensino da História e Cultura Afro-Brasileira e Africana está aí para isso, mas precisa ser colocada em prática de forma efetiva. Acho que a mudança já está acontecendo, estamos vivendo momentos históricos com essas manifestações antirracistas que se espalharam no mundo inteiro, onde negros e não negros lutam por igualdade, justiça e equidade.

 

 

Muitas pessoas comentam que após a pandemia, seremos diferentes. Afirmam isso, baseadas em algumas ações de solidariedade. Será mesmo? Tu acreditas que seremos mais humanos, ou tudo voltará a ser como antes ou até pior?

Eu acredito que nunca mais voltaremos ao normal, tudo isso que aconteceu, que está acontecendo virou o mundo de cabeça para baixo, e sim, seremos pessoas melhores, a maioria pelo menos. Isso é um aprendizado para todos nós, quem quis e quer aprender com tudo isso, aprendeu, se reciclou, claro que temos nosso livre arbítrio e tem pessoas que não querem mudar, não querem aproveitar essa oportunidade de crescimento, e continuarão como estão ou até piores. Mas a maioria, se tornou e está se tornando cada dia melhor, o mundo com certeza nunca mais será o mesmo. 

 

 

Vamos falar de violência doméstica: Como que uma mulher volta para o marido que a agride e tenta acabar com sua vida?

Eu sempre achei que isso não fosse possível de acontecer, sempre questionava as mulheres que tinham essa conduta, mas quando acontece com a gente, tudo muda. A violência doméstica vai minando a mulher de forma tão destrutiva, que ela vai enfraquecendo, perde a sua capacidade de ação, pois mexe com a autoestima, causa uma dor tão profunda, que é difícil mensurar.  Vamos morrendo aos poucos, e perdendo a força para reagir, principalmente quando a gente não tem com quem desabafar, onde o nosso agressor é a única pessoa com quem se pode contar.

Hoje, quando analiso o perfil de um homem que agride e bate na mulher e vejo que a maioria deles agem da mesma forma. Causam a violência, depois se arrependem, choram, pedem perdão, fazem mil juras de amor, prometem que vão mudar e são tão convincentes que a vítima, por desespero, esperança, ilusão, ou por estar cansada de lutar, de sofrer, acaba acreditando e continua na relação voltando para ele. Vira um ciclo vicioso, a mudança não acontece, as agressões continuam. Cessando quando matam sua vítima, ou ela de alguma forma consegue reagir e dar um basta.

Acredito que ela tem sempre que desabafar com alguém, ter com quem falar, um amigo, a família, uma rede de apoio, para que não volte para o agressor, não alimentando essa relação que é muito destrutiva, e que muitas vezes acabam em feminícidio.

 

 

E agora, durante o isolamento devido a pandemia, inúmeros casos de espancamentos e morte, por quem deveria proteger mulher e filhos. Tens atendido muitos casos de violência?

Sim, infelizmente os casos de violência doméstica, durante a quarentena só aumentaram. Por estarem mais em casa, mais tempo juntos, o desemprego, enfim, são vários fatores que acarretam essa violência, e a mulher acaba sendo o alvo desse agressor. Mas, apesar dos números de casos aumentando, eu vejo que elas estão procurando mais essa rede de apoio, estão denunciando mais, empoderando-se e pedindo ajuda.

 

 

No 6º capítulo, A Morte Bate à Porta, fiquei impressionada com a tua atitude, o desprendimento em perdoar quem te feriu. Fale a respeito, mas não conte muito, pois está no livro.

Eu nunca fui de guardar rancor, e penso que a pessoa que faz algum tipo de maldade com alguém, tem sérios problemas e precisa de ajuda e toda vez que uma pessoa se arrepende verdadeiramente dos seus atos, merece ser perdoado. Entender que todo ser humano erra, pois somos falhos, até porque não somos ninguém para não perdoar as pessoas, eu acredito na justiça de Deus e cada um vai responder por seus atos e não cabe a mim, julgar ou condenar ninguém.

 

 

E teus projetos literários, pode adiantar alguma coisa?

Esse é somente meu primeiro livro, já tenho mais dois prontos para publicar, agora que tomei gosto não pretendo mais parar. Tenho um pronto que é romance, outro livro de poesias, e já estou escrevendo o quarto livro, já nasci uma escritora só precisava começar, colocar minhas ideias no papel.  

 

 

O que você acha de ser escritora em um país de poucos leitores, onde a literatura nacional não é valorizada e o custo de edição é alto?

Eu acho que ser escritora no Brasil é mais uma missão do que uma profissão, pois não temos nenhum incentivo, o custo da edição é alto, o valor a ser cobrado pelos livros não pode ser muito alto, se não muitas pessoas não terão acesso. É um desafio, mas é uma sensação incrível saber que tuas ideias chegam em lugares diferentes, que conversam com diferentes pessoas e que podem de alguma forma ajudar essas pessoas.   

 

 

Por que recomenda a leitura do teu livro? 

Eu recomendo por ser uma história verdadeira, com problemas sociais que atingem direto ou indiretamente a sociedade, trata de demandas que estão presentes em nossas vidas, questões que nos levam a pensar, em como podemos mudar esse contexto atual em que estamos vivendo. Aonde as mulheres são vítimas de violência por parte daqueles que juraram amar e proteger; são mortas pelo simples fato de serem mulheres, onde a cor da pele ofende, que ser negro é quase uma sentença de morte, mesmo depois de mais de cem anos da libertação da escravatura, o racismo continua sendo uma arma devastadora na sociedade, que atinge negros no mundo inteiro. Um livro que fala sobre empoderamento, superação, uma história forte, com muita dor, mas com um final feliz.  

 

 

Deixe uma mensagem para teus amigos e leitores.

Acredito que estamos vivendo tempos históricos, onde um vírus mudou o mundo, e nós tivemos que mudar a forma de viver, se relacionar, trabalhar. Ricos, pobres, negros, brancos, todos unidos com o mesmo medo e sentimento, todos poderiam ser contaminados por essa desgraça que assustou e assusta o mundo inteiro. É momento de reflexão, de cuidar um do outro, sermos empáticos, pois não somos uma ilha, estamos todos interligados, nossas ações, nossas atitudes refletem na vida de outras pessoas. Eu espero que tudo isso nos sirva de lição e quando tudo passar sejamos pessoas melhores. Acredito nessa mudança, pois vejo dentro de todo o caos do coronavírus, esses movimentos contra o racismo que se espalha no mundo inteiro, negros e não negros lutando lado a lado, para acabar com anos de segregação, exclusão, e, convido os leitores que reflitam comigo sobre todas essas mudanças que estão acontecendo no mundo. Como podemos fazer nossa parte na construção de um mundo melhor, mais justo e igualitário; pois se cada um fizer a sua parte, com certeza teremos uma mudança, pois não podemos voltar ao normal e continuarmos vivendo num mundo tão cheio de desigualdade, preconceitos, racismo, ganância, violência, somos a mudança, e temos que cuidar do mundo, da natureza, dos animais, cuidar uns dos outros.

 

Acompanhe a escritora em sua página, blog e site

Facebook:  @CoachElzaDuarte

https://coachdecuraemocional.com/blog 

https://www.acuradaloucaloucura.com/