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Eduardo Baccarin Costa
Eduardo Baccarin Costa

ENTREVISTA: escritor EDUARDO BACCARIN COSTA

 

Sua Biografia:


Eduardo Baccarin-Costa é professor, poeta, produtor cultural e vive em Londrina (PR). Tem três livros de poemas publicados: TRÊS ANOS, em parceria com Rosby Queiroz; CAMINHADA (1985) e UAAUUU!!!! (2012); cinco peças encenadas: UM CARA CHAMADO PAI (1978), CASTRO ALVES, SÓ ISSO (Monólogo em que atuei e dirigi e que venceu o Festival de Teatro Estudantil de Londrina em 1982); RETRATOS (que também dirigi em 2001, em Arapoti, reencenada em 2004 em Londrina, e nesta versão eu atuei); UM NOIVO PARA QUATRO IRMÃS (2001, também com direção minha); CONFISSÕES DE UMA DROGADA (2004), alguns poemas transformados em letras de músicas e gravados. Especialista em Língua Portuguesa e Mestrando em Estudos Literários. O Solitário do 406 é sua estreia como romancista.

 

Suas Obras:

TRÊS ANOS, meu primeiro livro de poesia, foi escrito com a finalidade de celebrar minha amizade com Rosby Queiroz, parceiro e melhor amigo, que conheci na minha experiência como radialista.
Ali eu sou intenso e apaixonado como hoje e ali já aparecem os primeiros poemas que fiz para Josy, minha primeira namorada e com quem sou casado há apenas 4 anos e 10 meses.
Em Três Anos estão poemas como Lúmem (que depois viraria música e que seria finalista de dois festivais, ficando em segundo lugar no festival Música Viva - 1983)

CAMINHADA, retoma a proposta poética de escrita amorosa, porém já aparecem bem destacados o meu estilo crítico, irônico, satírico, engajado. Em Caminhada, meu primeiro livro solo, aparecem os poemas “Londrina de Perna Aberta” (em homenagem aos cinquenta anos da cidade em que nasci e vivo e, que ficou em segundo lugar no Concurso Poesia do Cinquentenário) e os poemas “Cantada” e “Denise - Poema de Muro”, (posteriormente musicado por Eduardo Blanco), Laços (musicado por Jane Duboc e terceiro colocado na Mostra de MPB de Londrina de 1983), Voo leve (musicado por Walter Neto)

UAAUUU!!!! já é um livro mais maduro, mais interartístico (tem os meus poemas com os desenhos do Willian Alexandre) e que está mais repleto de epigramas, como eu gosto de compor meus poemas. Uaauuuu!!!! é um livro mais eu, mais centrado. Continua político, mas essencialmente lírico. Talvez um “pré-faço” do SOPRO DA EMOÇÃO, livro de poemas que pretendo lançar ainda em 2019, quem sabe pela Leia-Livros.

 

O SOLITÁRIO DO 406: 

O solitário do 406 começou a nascer em mim em 2001, 2002, quando lecionei em Arapoti, cidade paranaense que fica a 240 km de Londrina. Ali, além das aulas de Literatura e Redação, iniciei um projeto de teatro que gerou uma verdadeira revolução na cidade, e hoje Luana Cordeiro - que foi minha atriz na época - coordena um Festival de Artes (música, dança e teatro) que é vital para a cidade. O personagem Davi Peres é inspirado num velhinho que via, na rua da casa de um professor com quem almoçava, às vezes. Sempre sozinho, lendo ou mexendo no jardim, nunca falava com ninguém. Até que um dia o vi dançando e conversando com uma parceira imaginária, aparentemente embriagado. Decidi que ainda faria dele um personagem das minhas histórias. Ficou guardado 12 anos na minha memória. Até que em 2013 ele começou a nascer como João Só, um solitário que vai morar numa favela, vivendo como ermitão, e com um desejo de morrer. Nada, além disso. Não passei de quatro parágrafos com essa ideia e a escrita travou. A história ficou parada por dois anos quando, num culto, durante a música “Ao cheiro das águas” do Beno César, o Espírito Santo me mostrou como o personagem poderia fazer a diferença na vida das pessoas e como ele e os demais poderiam ser salvos e não morrer, como era a ideia inicial. E também comecei a ser ministrado sobre a ideia de um Centro de Artes e Educação Apostólico, onde a palavra e os ensinamentos de Jesus fossem vividas e expressadas por meio da arte e da cultura.
Então aí, nasceu o Davi Peres.
O Solitário do 406 conta a história de um homem, que após perder o sentido da vida com a morte da mulher, encontra Deus num dos bairros mais carentes de Campos Floridos. Desse encontro nasce um grande Centro Apostólico e de Artes e Educação que transforma toda a região. Uma versão urbana de A Cabana? Talvez. O importante é que Deus está em todo lugar e fala das mais variadas formas com aqueles que ama.

 


Como surgiu o escritor Eduardo Baccarin Costa?

O poeta surgiu em 1976, numa sala de aula, quando tive meu primeiro amor platônico por uma colega de sala. Ela não sabe que foi a primeira musa, vamos assim dizer, mas no meu próximo livro de poesias revelarei esse segredo. Ali escrevi algumas coisas bem tórridas para os meus quatorze anos. Depois parei um tempo, e encontrei o teatro. Mergulhei nos textos teatrais e em 1977, também na escola e dirigido por João Arruda - amigo de sala e parceiro, de família com fortes vínculos no teatro, jornalismo e política - fiz “Arena conta Tiradentes”, de Gianfrancesco Guarnieri e Augusto Boal e “O Auto da Compadecida”, de Ariano Suassuna.

Em 1978 faço parte da fundação do Grupo Proteu - um dos mais importantes grupos teatrais do Paraná e que sobreviveu até o início dos anos 2000, mesmo eu tendo saído em 1982 - e me apaixono pela Josy e pela escrita teatral. Nessa época eu frequentava, também, Grupos de Jovens da Igreja Católica. Fazia isso mais por atuação política do que por fé, mesmo. Um dia fui convidado a escrever uma peça para um outro grupo que também tinha uma atuação social na periferia e escrevi “Um Cara Chamado Pai”, um intertexto com a parábola do pai amoroso, como diz o Apóstolo Adriano José e conhecida como a parábola do filho pródigo.

Em 1979 voltei a fazer versos e continuei a atuar e escrever alguns esquetes. Nesse mesmo ano começo a namorar a Josy pela primeira vez e reato com a poesia.

Em 1980 conheço Rosby no mundo do rádio e passo a produzir poemas em larga escala. Também nesse período escrevo algumas crônicas, inspirado inicialmente num sorveteiro, que passava sempre pela rádio e tinha orgulho de dizer que ganhava algo como 25 centavos de real por sorvete que vendia, em dinheiro de hoje.

Também em 1980 conheço Neri Floriano, infelizmente já falecido, e ele vê qualidades no meu texto e me impulsiona a querer publicar e participar de concursos literários, principalmente o Mural de Poemas, de Londrina. Neste evento participavam os “maiorais” da poesia regional, estadual e até nacional: Domingos Pelegrini, Nilson Monteiro, Mário Romagnoli (avô de Ika Romagnoli, ganhadora do I Prêmio Leia-Livros, de Literatura), Nelson Capucho, Cássio Leite Machado, Pedro Barros, Ademir Assunção, Marinósio Filho, entre outros. Este último é o autor da célebre marcha de carnaval “Cachaça” e é autor de versos lindos, líricos, satíricos, políticos. Os poemas que Marinósio fez para as duas filhas, por exemplo, são simplesmente fantásticos. Marinósio foi o autor que mais influenciou meus poemas, mais me incentivou e que fez questão de prefaciar meu segundo livro, Caminhada, além de me incentivar a participar de concursos literários e musicais. Capucho, Nilson e Pinduca (Ademir Assunção) sugeriram a ideia da capa do meu primeiro livro, que saiu em 1983. Nesse meio tempo continuei com o teatro, atuando e dirigindo. Em 1981, fiz o meu primeiro monólogo, atuando e dirigindo.

Em 1985 lancei o segundo livro, também de poesia. Depois enveredei para as letras de canções. Em 1984, ainda, abandono o curso de Direito e fico só com a intenção de me profissionalizar nas artes cênicas e eventualmente na escrita, além do rádio. Vivendo quase todo o ano de 1985 em São Paulo, entro na Ala de Compositores da Vai-Vai e quase ganho o Samba-Enredo daquele ano (apadrinhado por Walter Babú, o Martinho da Vila da escola do Bixiga, que me permitiu participar do seu samba, naquele ano). Também, nesse ano, minha poesia se torna essencialmente erótica e esboço um conto nessa área, mas não consegui sair da primeira página.

A partir de 1990, começo a dar aula (mesmo estando ainda no início da Graduação em Letras, que foi abandonada duas vezes até eu terminar em 2017), de redação e literatura. Passo a investir na minha paixão pela escrita, nas aulas e no incentivo de que surjam novos autores. Consegui. Fiz algumas coletâneas nas escolas em que trabalhei, com textos dos meus alunos e até uma, Michele Varrasquim, chegou a escrever um romance em que parafraseava a própria história de vida.

Em 1995, o álcool começa a dominar minhas vontades e prioridades e começo a perder espaço, credibilidade, verdade. Ainda assim escrevo poemas, de sopetão, nos quadros-negros nas aulas de interpretação de textos. E só. Essa letargia vai até 2001, quando sou convidado a substituir uma professora em Arapoti e ali começa uma revolução em mim, nos meus meninos do ensino médio e na cidade. Retomo a escrita teatral e escrevo quatro peças - A História do Zoo, Retratos, Um Noivo para Quatro Irmãs, Domingo é dia de macarrão e Silvio Santos na Televisão. Aos poucos a escrita vai voltando.

Em 2008 escrevo um conto erótico. Depois duas novelas infantojuvenis. Depois, um roteiro para um filme, bastante dark e sensual. O álcool, porém, distorcia minha escrita e exigia mais a minha presença. Os poemas secaram.

Fui retomar a escrita só em 2011, como terapia, numa clínica de recuperação. Escrevi meu primeiro romance “Violetas para Valkiria”. Depois, retomei as poesias. Em 2011, Josy e eu reatamos pela terceira vez, e, após 28 anos, “faço as pazes” com Deus, aceitando-o como meu Senhor e começo a escrever meio que, alucinadamente. Começando pela trilogia O Casulo e a Borboleta, que é a minha história e de Josy romanceada, com muita imaginação e alguns fatos.

Em 2012 vem o Uaauuu!!!! e a partir de 2014 retomo a escrita de romances e peças teatrais. Escrevi “O Solitário do 406” e “Apenas três Palavras” e atualmente estou escrevendo “Liberdade Condicional”, que é o início da saga de Neri Reis, que deverá ser composta de quatro romances e três peças. No teatro, escrevi Retratos 2; Miga, Te Contei?; Paulo e Marcos; De amor e liberdade; Idílio; e agora escrevo Liberdade Condicional, a peça. Acho que é mais ou menos este o processo.

 

 

Seus poemas têm uma linguagem simples, que vai direto ao coração. De onde vem a inspiração? O amor é o fio condutor da sua poesia?

O amor deve ser o fio condutor da vida. Sem amor, não há liberdade. Sem liberdade, não há paixão. Sem paixão e liberdade, não há uma sociedade justa, um país solidário, uma nação em que todos tenham direito a tudo, sem privilégios e corrupção. Para se chegar a isso, imagino que tem que ser simples, falando direto ao coração, mexendo de alguma forma com as pessoas. Inspiração? Não sei se conheço bem essa palavra (risos). Tudo me motiva: um abraço amigo, um reencontro, uma paixão platônica, um discurso de político, uma notícia de jornal, um bom dia de um motorista de ônibus, criança brincando, um sorriso de um aluno descobrindo o amor, a partir dos meus versos, o desejo, o sexo. E Deus, é claro. Deus realmente me motiva.

 


Fale a respeito das peças encenadas. Temas, onde aconteceu, repercussão, público.

Um Cara Chamado Pai: foi apresentada apenas três vezes, em igrejas lotadas no interior do Paraná. O tema sugeria isso. Como já disse, uma peça que era um intertexto com a parábola do Filho Pródigo;

Castro Alves, Só Isso: era um monólogo que em dois tempos - presente e passado - contavam a vida do poeta. Fiz apresentações em Londrina, no interior do Paraná e São Paulo e foi a peça que mais me projetou, porque “tive a honra” de ser censurado e ter 14 páginas do meu texto proibido. Nestas 14 páginas, três poemas escritos por Castro Alves no século XIX. Ou seja, por causa do meu texto o “poeta dos escravos” se tornou proibido, por um tempo. Também por causa da peça fui convidado a “prestar esclarecimentos” na PF e passei uma tarde lá, que não recomendo a ninguém;

Retratos: é uma peça que fala da relação pais e filhos e do mundo adolescente no início do século XXI e que retomei em Retratos 2, dezesseis anos depois. A peça foi apresentada em Arapoti e Jaguaríava, no interior do Paraná em situações distintas. Em Arapoti, quatro vezes, com casa lotada, e gente que chegou a assistir a todas e, se emocionou também em todas. Em Jaguariaíva apenas para oito pessoas, mas com todas amando o espetáculo;

Um Noivo para Quatro Irmãs: foi uma tentativa de fazer alguma coisa no gênero besteirol. Ficou engraçado, fizemos em Arapoti, e no dia da estreia teve um apagão de elétrico na cidade e tivemos que parar o espetáculo. Perdemos o tesão e não retomamos essa peça até hoje;

Confissões de uma Drogada: é um monólogo baseado numa história real que me foi contada e que foi apresentado apenas em Londrina.

 

Uma editora gaúcha está relançando as peças romanas de William Shakespeare. Deve ser difícil a leitura, numa linguagem bem poética. Alguma vez pensou em lançar um livro com suas peças ou uma compilação, talvez?

Nunca. Sempre achei que ninguém teria interesse em ler meus textos, além dos meus atores. Se receber, porém, uma proposta e um editor achar interessante, por que não?

 


Você tem poemas transformados em letras de músicas e que foram gravados. Quem gravou?

“Lúmen”, fiz com o Eduardo Blanco e nós gravamos - um quarteto familiar - no vinil do Festival. “Cobertor” é um poema meu, musicado pelo Rafael e que teve um problema de roubo, por parte de um ícone do mundo sertanejo. Mas, já foi provado que ele é, de fato, “compositor” e foi gravado por Gilson e Gislene. “Laços” foi musicado pela Jane Duboc e me deu o terceiro lugar na Mostra de MPB em Londrina. A Claudia Ramos, que foi intérprete dessa canção disse certa vez, que está na sua playlist e que deverá gravar num eventual disco. “Voo leve” eu fiz com o Walter Neto para o Projeto Pixinguinha, que a mesma Claudia Ramos participou, em 1984. Agora, há poucos dias, o Paulo Vitor Poloni musicou dois poemas meus e transformou numa canção e também disse, que há chance de entrar no próximo disco.

 


Muitos poetas fazem vídeos de suas poesias com fundo musical, declamando ou os versos escritos na tela. Isso lembra o Trovadorismo português, quando a poesia e a música eram parceiras. O que queremos saber é se já fez vídeos com seus poemas, para que possamos apreciar.

Não fiz. Não me empolguei ainda para fazer videopoema. Creio que não devo demorar para fazer, mas ainda não fiz.

 


O que você acha de ser escritor em um país de poucos leitores, onde a literatura nacional não é valorizada e o custo de edição é alto?

Acho triste e desafiador. Fazer com que se leia mais e principalmente o autor nacional, é uma das minhas metas de vida. Popularizar a literatura e fazer a transposição do texto escrito para os palcos, por exemplo, é quase que uma obsessão minha. Semana passada assisti ao monólogo “Meu quintal é maior que o mundo”, baseado no texto do poeta Manoel de Barros, com a Cássia Kiss e me emocionei do começo ao fim. O teatro estava lotado. Acho que esse pode ser um caminho para a literatura e para o teatro, por exemplo.

 


Na sua opinião, o que nós devemos fazer, a sociedade em geral, os governos, para mudar esse cenário cultural? A falta de cultura, de incentivos à cultura, de projetos públicos.

Eu defendo o mecenato. Artista não sabe ser burocrata. O governo pode, e deve, instituir programas que auxiliem na produção e estimule o setor produtivo a investir na literatura, na cultura e nas artes em geral. Creio que se pudermos levar a arte, a escrita, a cultura a todos, de forma mais simples, mas sincera, isso pode mudar, e muito. Por exemplo, minha enteada - que carinhosamente chamo de minha segunda filha - que é uma atriz incrível, está com um projeto sensacional de levar arte, teatro e leitura nos condomínios para as crianças e pré-adolescentes. O projeto chama Te-ser e já tem até site. Te-ser lembra texto, tecitura, e ao mesmo tempo, teatro, ser. Quer coisa mais bonita que isso? Eu acho que esse pode ser um caminho. Eu defendo a participação de todos em projetos e processos culturais, sem nenhum tipo de censura e predileção. Uma nação que investe em educação, leitura e cultura é uma nação que cresce e desenvolve. Isso é fato, não utopia.

 


O que os pais precisam fazer, como educadores, para que seus filhos se tornem bons leitores? Ou acha que a maioria dos pais não está preocupado com isso?

Infelizmente, não estão não. A TV continua, ainda, fazendo a função que os pais deveriam fazer. Educar, estimular, debater. Às famílias, de modo geral, estão consumidas pela internet - ruim, de má qualidade - e pelos programas da TV aberta que são de péssima qualidade e altamente nocivos. Os pais deveriam ler com os filhos, conversar, estimular a pensar, saírem todos do computador, das redes sociais, da frente da TV e contar histórias, ler, um para o outro. O governo Bolsonaro defende a Escola à Distância, mas não tem a mínima ideia de como está esfacelado o núcleo familiar. Faz décadas que a escola - a quem o dever é ministrar conteúdos e provocar reflexões - está fazendo o que deveria ser feito em casa.

 


Você é professor universitário, e ensina jovens. De uma maneira geral, como os jovens estão se comportando, há interesse no aprendizado, estão disciplinados, focados ou para eles, tanto faz?

Eu não sou professor universitário, ainda. Mas estou aberto a propostas (risos)… Minha “praia” até aqui é o Ensino Fundamental II e o Ensino Médio. Amo trabalhar com esse público. Para mim, do oitavo ano do Ensino Fundamental ao terceiro do Ensino Médio é a cereja no bolo da educação. Se você conseguir fazer o adolescente se sentir desafiado e não tolher a liberdade dele, você não tem ideia do que eles são capazes de produzir, do conteúdo que eles são capazes de apreender, e de como eles podem ser a diferença no futuro. Meus ex-alunos até hoje, quando me encontram, dizem que aprenderam a ler e amar e respeitar a literatura, graças às minhas aulas. Isso não é lindo?

 


Quais medidas deveriam ser implantadas pelo governo, para melhorar a situação da literatura no país?

Diminuição de impostos sobre livros. Estímulo para surgimento de livrarias, sebos, espaços culturais que estimulem a leitura. Criação de espaços para oficinas literárias e teatrais e que isso, de alguma maneira, fosse absorvido pelo currículo das escolas. Estímulo ao surgimento de novos autores, diminuindo a carga tributária sobre o recolhimento de Direitos Autorais e incentivando a contratação de novos escritores, pelas editoras. Incentivo a concursos literários.

 


Cientes de que muitos autores são preteridos em favor de uma minoria, que, o que vale é o “QI”, isto é, “quem indica”, como mudar esse conceito arcaico?

Para isso as editoras precisam mudar a mentalidade e quem faz a triagem dos textos ser alguém isento, coisa bem difícil no grande mercado editorial.

 


Em uma crônica que li recentemente, o jornalista perguntava: Por que as pessoas pagam pela comida, pagam pelas roupas e acham que a cultura deve ser gratuita, principalmente os livros e jornais? Qual sua opinião a respeito. A maioria não lê por que acha que os livros são muitos caros? Ou a tecnologia está acabando com a vontade de ler?

Tudo que liberta, que faz pensar, que dá senso crítico é supérfluo. Governo nenhum - de direita e esquerda - quer uma nação crítica, reflexiva, que questiona, que reivindica. A cultura proporciona esta liberdade. Uma pessoa que lê, que vai a teatro, que vai a museus, que vê dança, que ouve todo o tipo de música dificilmente é “pega” na armadilha da indústria de massa. Porém, existe no Brasil um estímulo ao menor esforço. Pagar por um trabalho bem-feito para que, se eu posso piratear, baixar sem pagar, ver programa ruim, como os realitys mas que dão a catarse que tanto quero? R$ 30,00 reais num livro? R$ 50,00 num ingresso de teatro? R$ 80,00 num show? Você tá louco. Pago R$ 300,00 num tênis que explora trabalho escravo - e finjo que não existe, porque isso pode ser fake news - do que pagar para a arte e a cultura de qualidade. A tecnologia, por este viés, está mais matando do que auxiliando a arte. Como disse o Umberto Eco “a tecnologia tá dando muita voz a quem não tem nada a dizer.”

 


O Solitário do 406 é o seu livro de estreia como romancista. O que o levou a navegar por outro caminho, além da poesia?

A curiosidade e a vontade de testar meus limites. Também a necessidade de me disciplinar, de ser alguém focado num objetivo. Quem produz narrativa em prosa necessita ser disciplinado.

 


Você mesmo escreve na sinopse, de uma possível comparação com “A Cabana”, de William P. Young, como se fosse uma versão urbana. Por quê?

Davi Peres tem a pegada do personagem de “A Cabana”. Uma morte na família o leva para um mesmo espaço - uma casa abandonada - onde Deus irá se manifestar. A maneira como isso acontece é que é diferente.

 


É mais fácil encontrar Deus em um bairro carente da periferia, do que num condomínio luxuoso? Por que o protagonista só o encontra quando abandona a sua vida indo viver quase numa favela, onde falta tudo e mais um pouco?

Creio que é porque ele dá tempo para si mesmo ouvir a voz de Deus. No caso de Davi Peres, Deus escolheu aquele lugar, tão distinto da realidade em que vivia, para falar com ele. Deus não escolhe lugar para falar com ninguém. Tudo e todo o lugar é espaço para Sua Graça se manifestar.

 


Inicialmente, pensei que fosse uma cidade fictícia, mas ela existe e situa-se no chamado Triângulo Mineiro. Qual a sua relação com a cidade de Campo Florido do Estado de Minas Gerais?

Não. Campos Floridos é a tradução de Arapoti, a cidade que é o meu segundo lar e onde vivi uma experiência rica, e onde a escrita voltou a fluir em mim. O velhinho que inspirou Davi Peres também era de Arapoti. Daí ser o nome da cidade.
Nota da Nell: Coincidência. Existe uma cidade no Triângulo Mineiro chamada Campo Florido, que pensei ser a cidade mencionada na narrativa.

 


Fale sobre a passagem em que ele se enamora pela Lua e dança para ela. Aí, então, é o poeta falando através do personagem?

É. Nos meus textos eu preciso manifestar a poesia. Minha poesia flui naturalmente em todos os meus textos, você vai identificar isso. Agora mesmo, no Liberdade Condicional, coloquei um poema meu que gostei muito. Especificamente, essa cena me diz muito. Nasceu num dia que estava triste, e precisava colocar isso pra fora. Um dia muito difícil, mas que no final deu uma lua linda. Aí pensei: Acho que Davi Peres merece uma experiência dessa.

 


Quais seus projetos literários para 2019? Ainda estamos no início do ano.

Pretendo terminar o “Liberdade Condicional” e enviá-lo para vários concursos. “Apenas três palavras” pretendo inscrever num grande concurso, tipo Prêmio Jaboti, e terminar as peças. Também pretendo publicar “Sopro da Emoção”, meu quarto livro de poemas. Quem sabe tudo isso pela Leia-Livros, né?

 


Por que você recomenda a leitura de seu livro?

Porque meu livro tem uma história legal, que edifica e dentro de uma proposta redentiva. Quando tudo parecia caminhar para uma vida sem sentido, Deus mudou a história de Davi Peres. Assim como ele faz comigo, e com você. Mesmo com um final quase triste, o que você tem, no final, é uma mensagem positiva: quando nos alinhamos aos planos Dele, o impossível é apenas um detalhe.

 

Deixe uma mensagem para seus leitores.

Espero que gostem do "Solitário" e me deem um retorno disso.

 


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AlmanaqueLiterário/Nell Morato/01.03.2019