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O Teatro de Simões Lopes Neto
O Teatro de Simões Lopes Neto

LUZ SOBRE SIMÕES

 

Livro reúne peças de teatro de Simões Lopes Neto escritas no século 19 dentro do mais abrangente resgate da dramaturgia do autor pelotense.

 

Mesmo que se possa questionar a pertinência do termo “regionalista”, às vezes mais confuso do que esclarecedor, não há dúvida de que João Simões Lopes Neto (1865-1916) é principalmente conhecido como o grande prosador que registrou e imaginou as coisas do campo em obras-primas como CONTOS GAUCHESCOS e LENDAS DO SUL. Um lançamento, entretanto, resgata um segmento menos conhecido de sua produção: a dramaturgia – ambientada na zona urbana, assim como eram suas crônicas.

 

Publicado recentemente pelo Instituto Estadual do Livro (IEL) em parceria com a Zouk, TEATRO (SÉCULO XIX) é o primeiro de dois volumes que somarão as 14 peças do autor pelotense (uma delas, NOSSOS FILHOS, é tradução de uma peça do uruguaio Florencio Sánchez. O segundo tomo, com a produção dramática do século 20, deverá ser lançado no primeiro semestre de 2018.

 

O esforço de pesquisa de João Luis Pereira Ourique e Luíz Rubira, ambos professores da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), é o mais abrangente de que se tem notícia sobre o teatro de Simões Lopes Neto. Resultou na publicação de textos nunca antes editados em formato de livro, como MIXÓRDIA!…, COIÓ JÚNIOR e A FIFINA. Também integram o prieiro volume, relativo à produção do século 19, as peças O BOATO, OS BACHARÉIS, O BICHO e A VIÚVA PITORRA, todas precedidas de ensaios críticos.

 

Um dos objetivos do trabalho é questionar pressupostos sobre a dramaturgia do autor, que foi considerado por alguns uma parte menos relevante de sua produção. Como explica Ourique, estão presentes no teatro simoniano, críticas à sociedade da época, ao comportamento social e à burocracia da administração pública, muitas vezes por meio do recurso da comicidade. Sob o pseudônimo Serafim Bemol, Simões não procurava ocultar sua identidade, mas “identificar uma posição de produtor”, segundo Ourique.

 

Depois da publicação do segundo volume, os pesquisadores pretendem disponibilizar ao público provavelmente em um site e em um CD – as imagens coletadas na pesquisa, incluindo os manuscritos originais.

 

Antes de Ourique e Rubira, o crítico teatral Cláudio Heemann, que atuou em Zero Hora, havia publicado em 1990 a pioneira antologia O TEATRO DE SIMÕES LOPES NETO, também pelo IEL, contendo parte da obra dramática. O segundo volume planejado por Heemann, no entanto, jamais foi concretizado. Estas peças foram reproduzidas na OBRA COMPLETA organizada por Paulo Bentancur em 2003. Dois anos depois, foi editada OS BACHARÉIS, comédia-opereta recuperada pelos pesquisadores Cláudia Antunes e Márcio de Souza que resultou em montagem dirigida por Elcio Rossini em Pelotas e Porto Alegre.

 

ENTREVISTA

João Luis Pereira Ourique

Professor e Pesquisador

 

 

O que a “face urbana” revela sobre a obra de Simões Lopes Neto?

Quando mencionamos “face urbana”, não é algo gratuito ou para desviar a atenção acerca das suas obras mais conhecidas. Toda a sua literatura dramática é urbana, ambientada no espaço da cidade e discute questões de época importantes para compreendermos não somente a cidade de Pelotas, mas a ideia de uma identidade nacional perceptível a partir de suas relações culturais com o ambiente urbano das grandes cidades brasileiras. É importante destacar que nosso trabalho não é algo definitivo, longe disso, e nem uma edição crítica no sentido mais científico do termo. Trata-se de uma obra que divulga o teatro de Simões Lopes com estudos críticos para que os leitores – tanto leigos quanto especialistas – possam encontrar aspectos a serem desenvolvidos, situações que possam problematizar e avançar a leitura do escritor pelotense para além daquela que já o definiu, ou seja, como escritor somente regionalista.

 

 

Como se pode avaliar a qualidade da dramaturgia do autor?

Esse trabalho é o ponto de partida, e não de chegada. Acredito que o teatro de João Simões Lopes Neto se destaca e merece novas leituras para abordar melhor essa parte de sua produção. Os textos que antecedem cada peça apresentam uma primeira crítica que evidencia a importância dessa produção, não se restringindo ao nome do escritor pelotense, mas procurando refletir sobre a obra. Neste volume sobre o século 19 temos, por exemplo, a peça O BICHO, que comparamos com um conto de Machado de Assis que abordou a mesma temática: a contravenção do jogo do bicho. A peça de Simões Lopes discutiu essa questão oito anos antes de Machado, o que sustenta o seu olhar atento às questões do seu tempo.

 

 

O projeto dos livros poderá despertar o interesse de diretores teatrais para levar as peças novamente aos palcos? 

Esperamos que sim. Não nos atrevemos a afirmar, mas acreditamos que a leitura das peças com que profissionais e amadores do meio do teatro vejam as possibilidades cênicas em resgatar para o palco o que resgatamos para as páginas do livro. Essa expectativa se sustenta quando relembramos o lançamento de O TEATRO DE SIMÕES LOPES NETO por Cláudio Heemann em 1990. A partir desse primeiro livro sobre o teatro simoniano, houve produções significativas e que talvez se ampliem pela divulgação e alcance que tanto a editora Zouk quanto o IEL têm oportunizado a este lançamento.

 

Fonte: Zero Hora/Segundo Caderno/Fábio Priklanicki (fabio.pri@zerohora.com.br) em 14/12/2017