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As Mulheres Devem Chorar...Ou: de Virginia Woolf
As Mulheres Devem Chorar...Ou: de Virginia Woolf

LIVRO ILUMINA FEMINISMO DE VIRGINIA WOOLF

 

Antologia de textos da escritora inglesa destaca sua militância contra papel secundário relegado às mulheres em seu tempo.

 

Livro: AS MULHERES DEVEM CHORAR… OU SE UNIR CONTRA A GUERRA – PATRIARCADO E MILITARISMO – De Virginia Woolf – Tradução e Organização: Tomaz Tadeu – Editora Autêntica, 160 páginas.

 

Com um título incendiário, AS MULHERES DEVEM CHORAR… OU SE UNIR CONTRA A GUERRA é uma antologia de textos da escritora inglesa Virginia Woolf (1882-1941), cuidadosamente organizada e traduzida por Tomaz Tadeu. O título alude a um poema de Charles Kingsley, OS TRÊS PESCADORES, que conta a história de três homens que saem para pescar e morrem no mar, “pois os homens trabalham e as mulheres choram”, diz o poema.

 

No primeiro texto do livro, o conto UMA SOCIEDADE, Virginia reproduz esse verso, que suscita o protesto veemente das personagens femininas, que dizem: “Não suportamos ouvir mais nada dessa algaravia”. Essas mulheres, com senso crítico aguçado, depois de anos de leitura e formação, passam a duvidar dessa e de outras afirmações que até então eram indiscutíveis, e uma delas conclui: “Enquanto trazíamos crianças ao mundo, eles, supúnhamos, traziam ao mundo os livros e as pinturas. Nós povoávamos o mundo. Eles o civilizaram. Mas agora que sabemos ler, o que nos impede de julgar os resultados?”. Essa é a deixa para o próximo texto do livro, PROFISSÕES DE MULHERES, em que Virginia fala em matar o “Anjo da Casa”, alusão a um poema de Coventry Patmore, no qual a heroína, esse anjo, não tem voz própria.

 

Enquanto resenhista, Virginia estava ciente de que só poderia ter voz própria se calasse esse anjo que lhe atormentava, principalmente quando escrevia sobre livros escritos por homens: “Minha querida, você é uma jovem mulher. Está escrevendo sobre um livro que foi escrito por um homem. Seja boazinha; seja meiga (...)”. Em duas cartas dirigidas a um crítico literário inglês que considerava a capacidade intelectual das mulheres inferior à dos homens, Virginia, além de refutar essa ideia, alerta para o fato de que, enquanto a dominação dos homens e a servidão das mulheres existir, continuaremos vivendo na condição de um “barbarismo semicivilizado”, e conclui: “A degradação de ser escrava se equipara apenas à degradação de ser senhor”.

 

Em outra carta, a Margaret Davies, Virginia lembra que em 1913 participou de um encontro de mulheres proletárias, donas de casa, cujo discurso e reivindicações não condiziam com os das mulheres eruditas. Contudo, diz a escritora, no fundo todas se igualavam, pois nenhuma tinha o direito ao voto; assim, suas reivindicações eram inócuas.

 

Nesta excelente antologia, lê-se ainda uma importante reflexão sobre a guerra que poderia ser combatida, diz Virginia, por meio de uma nova faculdade, chamada de “pobre”, que ensine a arte de não dominar, não mandar, não matar e não acumular terra e capital, e que ensine medicina, matemática, música, pintura e literatura, dialogando com outros povos e culturas. Uma faculdade cujo objetivo “não deve ser segregar e especializar, mas combinar”. Nela, a protagonista seria a mulher. Para combater a guerra é necessário ainda “pensar contra a corrente, não junto com ela. Essa corrente flui ligeira e furiosa. Ela brota, num jorro de palavras, dos alto-falantes e da boca dos políticos”.

 

O lado crítico da escritora sobre as condições de gênero já havia aparecido em UM TETO TODO SEU (1929), que reúne textos, proferidos em palestras, em que reflete sobre a situação da mulher na literatura – é neste livro que inventa uma situação para apontar a diferença de oportunidades entre homens e mulheres. Supondo que William Shakespeare, o mais célebre escritor em língua inglesa, tenha tido uma irmã com a mesma inteligência e talento, Virginia defende que o peso das tarefas domésticas encarregadas à garota e os obstáculos que a sociedade colocava no caminho das mulheres iriam ofuscar o brilhantismo dessa fictícia parente do sexo feminino.

 

Fonte: Zero Hora/Segundo Caderno/Dirce Waltrick do Amarante/Folhapress em 19/03/2019