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Ler é Resistência
Ler é Resistência

LER É RESISTÊNCIA E PRECISAMOS ENSINAR ISSO DESDE CEDO

Esvaziamento da leitura explica o sucesso dos discursos simplistas e das fake News. Se quisermos reverter esse cenário, precisamos de um pacto nacional pela leitura

 

Cada vez que uma criança cresce sem sequer o incentivo de abrir um livro, cometemos uma negligência intelectual grave. A formação de leitores não é detalhe de política pública: é o alicerce de qualquer nação que deseja pensar por conta própria. No entanto, no mundo digital de hoje, parece mais fácil aceitar memes rasos, vídeos curtos e feeds infinitos do que exigir que mentes jovens sejam alimentadas por literatura, imaginação e pensamento crítico. É a cultura do fast food mental, e estamos servindo porções generosas.

 

A leitura nunca foi mero passatempo. Ela molda o cérebro, fortalece sinapses, amplia vocabulário, constrói empatia, estrutura pensamento abstrato e disciplina a reflexão. Um adolescente que lê aprende a adiar a gratificação imediata para imaginar futuros possíveis. Quem não lê, em contrapartida, ergue muros internos, se torna refém do óbvio e presa fácil da manipulação.

 

Essa é a raiz do colapso que vivemos. O esvaziamento da leitura explica o sucesso dos discursos simplistas, das fake news e dos líderes populistas que prosperam justamente sobre o terreno fértil da ignorância. Políticos autoritários odeiam leitores porque leitor não se contenta com slogan. Leitor dúvida, questiona e desmonta narrativas prontas.

 

Sabemos que a leitura desde a infância é um escudo contra a manipulação. Crianças alfabetizadas em histórias, poesia e imaginação se tornam adultos mais críticos e menos suscetíveis à histeria das redes. Mas quem está garantindo esse direito? Onde estão as bibliotecas escolares dignas desse nome? Quantas escolas têm professores com tempo e formação para ensinar amor aos livros, e não apenas "resumo para a prova"?

 

A verdade é dura e o fracasso é institucional. Orçamentos minguados, currículos burocráticos e salários indignos tornam a literatura um luxo dentro da sala de aula. É mais fácil investir em outdoor político do que em acervo escolar. A ausência de política de leitura revela prioridades: o espetáculo vale mais que o pensamento.

 

Do lado de casa, a responsabilidade também é nossa. Muitos pais entregam tablets antes de oferecer livros e ainda culpam a "falta de interesse" dos filhos. Mas desinteresse não nasce do acaso, ele é cultivado quando a leitura nunca foi um gesto de afeto. Criança que vê o livro como castigo aprende a rejeitá-lo. A escola que trata literatura como obrigação mata o prazer que poderia salvar gerações.

 

Nem tecnologia é desculpa. E-books e audiobooks são aliados, mas não substituem o ritual de folhear, reler, pausar, refletir. O cheiro do papel, o peso do livro, o silêncio da leitura, tudo isso constrói presença mental. Leitura digital sem profundidade vira rolagem automática, não experiência cognitiva.

 

Se quisermos reverter esse cenário, precisamos de um pacto nacional pela leitura. Gestores públicos devem criar leis que garantam verba mínima para bibliotecas municipais, rankings de leitura por cidade, bibliotecas móveis e parcerias com editoras para baratear o acesso. Empresas podem promover clubes de leitura, incentivar funcionários e comunidades. Cada cidadão pode doar livros, ler para uma criança, criar acervos comunitários. Pequenos gestos geram grandes resistências.

 

Uma sociedade que não lê entrega sua opinião a quem grita mais alto e seu destino a quem manipula. Se queremos líderes que pensem, precisamos formar leitores que questionem. Leitura não é privilégio, é sobrevivência democrática.

 

Sem livros, o pensamento murcha. Sem leitores, a nação adoece. Cultivar leitores é plantar pensadores e essa, talvez, seja a única rebelião que ainda vale a pena.

 

Fonte: Folha S.Paulo/Natalia Beauty/Multiempreendedora e fundadora do Natalia Beauty Group em 14/10/2025