A FÓRMULA DOS BEST-SELLERS
Pesquisadores mapeiam características básicas que transformam um romance em um campeão de vendas.
O público norte-americano quer ler sobre heroínas jovens e fortes que sejam levemente desajustadas. Prefere cenas de intimidade às de sexo propriamente dito. Adora contrações verbais. Cachorros são mais queridos dos leitores dos Estados Unidos do que gatos. Um livro de sucesso deve, ainda, falar sobre casamentos, mortes, funerais, impostos, armas, escolas, crianças, mães e tecnologias vagamente ameaçadoras.
Essas são algumas das conclusões de uma pesquisa que analisou mais de 20 mil obras de ficção que estiveram na lista de mais vendidos do jornal The New York Times nos últimos 30 anos. O objetivo dos pesquisadores Jodie Archer e Matthew L. Jockers era desenvolver um algoritmo que pudesse identificar livros que se tornariam sucesso de vendas. Para isso, passaram quatro anos tentando ensinar computadores a mapear um enredo, identificar o começo e o fim de uma sentença, os personagens, os temas e as partes do discurso e usaram algoritmos de classificação para isolar as características mais comuns nos best-sellers literários.
Chegaram a um total de 2.799 características que estariam fortemente associadas ao sucesso de vendas de uma obra. Algumas delas são bastante previsíveis, como aquela que diz que a linguagem simples e direta é a favorita. Outras levantam suspeita quanto a sanidade do público, como aquela que diz que corpos humanos só devem ser descritos exaustivamente em cenas de crime ou em contextos de dor e que as pessoas se interessam mais pela descrição de um mercado de ações do que de um rosto.
O resultado completo está no livro THE BESTSELLER CODE: ANATOMY OF THE BLOCKBUSTER NOVEL (O Código do Bestseller: a Anatomia de um Romance de Sucesso”, em tradução literal), publicado nos EUA em setembro/2016 e ainda sem previsão de chegada ao Brasil.
- Ao analisar um livro por computador, você tem acesso a informações que simplesmente não poderia reunir usando métodos qualitativos tradicionais – afirma Jockers.
- Não se trata de substituir a avaliação humana, mas de acrescentar dados a ela.
O pesquisador da Universidade de Nebraska afirma que dá para fazer quase qualquer coisa com esses dados:
- Você pode usar para escrever um livro de maior impacto ou para saber como anda a sensibilidade do leitor.
ESTUDO AINDA ESTÁ DISTANTE DO BRASIL
O leitor mainstream quer ter a impressão de que teve um entendimento total da obra, sem lacunas. Um livro não deve tratar de muitos temas. A estrutura em três atos – que divide a história entre apresentação, conflito e resolução – é a favorita.
Quer ler um romance perfeito segundo os algoritmos? Vá de O CÍRCULO, de Dave Eggers, um livro que ironicamente traz uma profunda desconfiança em relação a esse tipo de uso da tecnologia. Para os autores de THE BESTSELLER CODE, Eggers vem seguindo quase todas as regras citadas.
Empresas que criam leitores digitais para uso em e-books, como Amazon e Apple, têm coletado informações sobre os hábitos de leitura de seus clientes. Em que página as pessoas abandonaram um livro, a velocidade média de leitura, quais trechos foram grifados ou comentados. Em países em que o mercado editorial é mais forte (e voraz), esses dados já estão sendo empregados. Há empresas que prestam consultoria a editoras fazendo pesquisas nas quais um determinado grupo recebe uma prévia de livro digital e tem seus dados de leitura coletados.
No Brasil, não há notícia de que esses métodos sejam usados. As editoras usam algoritmos, mas na ponta da venda, tentando influenciar sites de busca a mostrarem seus títulos quando a pessoa procura por um tema. Para André Conti, editor da Companhia das Letras, há uma questão de volume:
- Nos Estados Unidos, o leitor de livro digital corresponde a 20% do mercado. Aqui, apenas a 4%. Então, seria complicado usar isso para inferir muita coisa.
Mas a análise desse tipo de dados tende a desempenhar um papel cada vez mais relevante na produção e divulgação de obras comerciais. Assim como a Netflix já produz séries com base no que as pessoas têm assistido, em um futuro próximo, editoras poderão fazer o mesmo com livros.
AS 11 CARACTERÍSTICAS DE UM LIVRO CAMPEÃO DE VENDAS
A pesquisa diz que convém que, a despeito de ser jovem e forte, a mocinha, em geral, é levemente desajustada.
Uma das conclusões menos óbvias do estudo é a de que as pessoas gostam de ler cenas de proximidade, mas não de relações sexuais.
O ritmo de narrativa, e não as exclamações, devem indicar a ênfase.
Sem dizer por que, a pesquisa concluiu, numericamente, que cães fazem mais sucesso.
Casamento, morte, funeral, impostos, armas, escolas, crianças, mães e tecnologias ameaçadoras.
Sexo, drogas e rock’n’roll.
A velha estrutura que divide a história entre apresentação dos personagens, conflitos e resolução é a favorita dos leitores.
A narrativa deve ter, no máximo, três temas centrais, que devem ocupar ao menos 30% das páginas do romance.
O texto deve ter linguagem simples e direta, com frases curtas, para acompanhar a batida do coração do leitor.
A palavra “coisa” (“thing”, em inglês) tem uma incidência seis vezes maior em best-sellers do que em não best-sellers.
Estão liberados e são ótimas deixas para ganhar uma adaptação em uma série de TV.
Fonte: “The Bestseller code: Anatomy of the blockbuster novel”.
Fonte: ZeroHora/Segundo Caderno/Folhapress em 25/10/2016