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O Novo Mapa do Poder... de Daniel Yergin
O Novo Mapa do Poder... de Daniel Yergin

DECIFRANDO O MAPA DO PODER

Best-seller sobre as novas tensões da política global chega ao país

Livro:  O NOVO MAPA: ENERGIA, CLIMA E O CONFLITO ENTRE NAÇÕES de Daniel Yergin. Grupo A/Bookman, 494 páginas

 

Em 1991, o historiador americano Daniel Yergin escreveu um livro que se tornaria um clássico e pelo qual ganharia o cobiçado Prêmio Pulitzer de não ficção: O PETRÓLEO: UMA HISTÓRIA MUNDIAL DE CONQUISTAS, PODER E DINHEIRO.  Os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, em Nova York e Washington, obviamente, não haviam ocorrido. Os Estados Unidos também não tinham invadido o Iraque em busca das nunca encontradas armas de destruição em massa. Mas Yergin, um dos principais pesquisadores da área de energia no mundo, não precisaria testemunhas as tragédias que viriam nas décadas seguintes para antevê-las.  Afinal, muitas crises haviam passado diante de seus olhos: o mundo enfrentara choques de preços do petróleo que mudaram a economia global, nos anos 1970, o Muro de Berlim caíra no final dos 1980 e, em 1991, enquanto os campos de extração do produto no Oriente Médio queimavam na Guerra do Golfo, o império soviético colapsava.

 

Por todo o século 20, o petróleo significou hegemonia. E Yergin, combinando pesquisa, aventura e um pouco de jornalismo, soube captar as mudanças sociais, políticas e econômicas decorrentes de sua descoberta, na segunda metade do século 19.  O produto que substituiu o carvão como fonte de energia predominante andou de braços dados com a ascensão e o desenvolvimento do capitalismo em um mundo que se industrializou (ao menos em parte) e esteve também por trás de estratégias nacionais e internacionais de governantes em busca de poder e cujo resultado, não raras vezes, foi a guerra.

 

Passados 32 anos, Yergin escreveu O NOVO MAPA: ENERGIA, CLIMA E O CONFLITO ENTRE NAÇÕES, que agora, traduzido para o português, chega ao Brasil pela Bookman, selo da +A Educação, de Porto Alegre.  Reconhecida como best-seller pelo The Wall Street Journal, a obra já nasce referendada por importantes pesquisadores mundo afora.  No prefácio da edição brasileira, o físico professor da Universidade de São Paulo (USP) e ex-ministro da Educação José Goldemberg a eleva ao panteão onde estão Émile Zola, com GERMINAL, e Charles Dickens, com GRANDES ESPERANÇAS.

— Yergin teve um papel muito importante ao escrever seu primeiro livro, mostrando que o problema dos choques do petróleo não eram as reservas.  Havia muito petróleo no mundo, mas havia um conchavo entre os países do Oriente Médio que resolveram aumentar o preço.  O mundo, depois de 1973, ficou diferente.  Quando chegou o ano de 2019, com a covid-19 e uma nova crise, as pessoas também ficaram desorientadas.  E aí ele escreveu esse segundo livro, que está sendo traduzido – celebra Goldemberg, em entrevista a ZH.

 

Adriane Kiperman, diretora editorial do Grupo A, braço da +A Educação,  explica que buscava um trabalho disruptivo:

— Em todas as áreas em que a gente publica, a ideia sempre foi trazer o que há de mais atualizado, emergente, com evidências científicas.  Yergin entra nesse tipo de livro, que interessa a um grande público informado, diferenciado.

 

Quem se aventurar pelas 494 páginas da edição brasileira, de capa dura e recheada com mapas e fotos, não escapará de dois sentimentos. O primeiro é uma sensação de déjà vu: boa parte dos confrontos geopolíticos do século 21 em muito lembram conceitos passados: Guerra Fria, proxy wars (guerras por procuração), hegemonia e outras expressões do léxico das relações internacionais do século 20.  O segundo é uma leve percepção de que novas formas de energia (solar e eólica, por exemplo) alteram a lógica dos conflitos, mas, no fundo, recursos naturais seguem pautando as disputas por poder entre as nações.

 

O NOVO MAPA é, na verdade, vários "novos mapas": o mapa dos Estados Unidos e a inesperada revolução do xisto, que está transformando a posição global do país, virando os mercados de energia mundiais de pernas para o ar e reconfigurando a geopolítica; o mapa da Rússia, que trata da bomba-relógio criada pela interação entre fluxos de energia, competição política e continuidade dos conflitos de fronteiras causados pelo colapso soviético e pelo plano de Vladimir Putin de retornar o fulgor imperial; o mapa da China, com seus avanços fenomenais em poderio militar e econômico; e o mapa do Oriente Médio,  campo de batalha histórico desde a Antiguidade e sempre em ebulição.

 

Um dos méritos de Yergen é combinar análise geopolítica com histórias comezinhas, como a do compatriota George P. Mitchell, o sonhador que acreditava ser possível extrair gás natural do xisto denso de forma comercialmente viável. Ele e sua equipe fizeram isso no poço de gás natural SH Griffin nº 4, na cidadezinha americana de Dish, Texas. Lendo assim, parece história do século 19, dos primeiros desbravadores em busca de petróleo.  Mas a história de Mitchell, cuja descoberta permitiu a revolução do xisto, ocorreu em 1998.

 

Assim como Yergen escrevera O PETRÓLEO: UMA HISTÓRIA MUNDIAL DE CONQUISTA, PODER E DINHEIRO em 1991, antes que George W. Bush invadisse o Iraque de olho no petróleo de Saddam Hussein, seu novo livro foi escrito antes que Putin atacasse a Ucrânias, em 2022.  Mas os sinais já estavam lá.  Por isso, O NOVO MAPA permite compreender o passado e, sobretudo, prever o futuro.

 

Fonte: Zero Hora/Caderno DOC/Rodrigo Lopes [rodrigo.lopes@zerohora.com.br] em 12/03/2023