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Rússia Coloca em Risco Segurança Alimentar Mundial
Rússia Coloca em Risco Segurança Alimentar Mundial

ACUADO, PUTIN ELEVA O TOM

 

Sabemos que, sempre quando está acuado, Vladimir Putin eleva o tom das ameaças. Foi gradual. No início da semana, suspendeu a participação da Rússia no acordo que permitia o escoamento da produção de grãos da Ucrânia via Mar Negro, colocando em risco a segurança alimentar de boa parte do mundo – em especial de populações do Oriente Médio e da África que dependem dos cereais ucranianos para subsistência. Depois, passou a atacar silos e armazéns de cereais. Em três dias, suas bombas destruíram cem toneladas de ervilhas e 20 toneladas de cevada em portos de Odessa e Mikolaiv.  Ora, só há uma coisa pior do que transformar depósitos de comida em alvos de guerra: atacar hospitais. Putin já fez isso, com menos de um mês de conflito, quando despejou bombas sobre uma maternidade de Mariupol.

 

Agora, além de atacar silos, ele põe na mira navios civis. O Kremlin tem dito que embarcações que navegarem pelo Mar Negro a caminho da Ucrânia serão consideradas alvos militares porque entende que estariam transportando armas para as tropas de Volodimir Zelensky. Na sexta-feira, mísseis de cruzeiro foram disparados contra um navio usado como alvo fictício pelos russos. Daí para um erro de cálculo é um passo. O que ocorrerá se uma embarcação com bandeira do Ocidente for torpedeada naquela região? Sem dúvida, será considerado um ato de guerra.

 

A história é pródiga em episódios em que navios civis foram a pique levando nações ao conflito. O Brasil mesmo, em 1942, se aproximava dos países do eixo, mas se decidiu pelo lado dos Aliados quando, naquele terrível agosto, submarinos alemães passaram a afundar embarcações mercantes em nossa costa. Em 72 horas, cinco navios foram torpedeados, nas águas entre Sergipe e Bahia, matando 607 pessoas. Na sequência, a tragédia do Baependi, navio de passageiros, matou 63 tripulantes e 233 passageiros. O Brasil de Getúlio Vargas, ainda que hesitante, entrou na Segunda Guerra Mundial, no lado certo da História.

 

A semana no Leste Europeu terminou em alta tensão, com Putin alertando que a Polônia pretende intervir na guerra da Ucrânia, com o envio de tropas para a região oeste do país invadido.  Não mostrou provas. Mas sua lógica seria de que o Ocidente se encarregaria de proteger a porção do país de Zelensky mais próxima à fronteira da Otan, seguindo até o Rio Dnieper e a capital Kiev. Na prática, isso significaria partir a Ucrânia ao meio, já que boa parte do Leste está ocupada pela Rússia.  Mais: seria entendido como o envolvimento direto de um país da Otan no conflito – o que certamente não seria permitido, neste momento, pelos Estados Unidos, sem que houvesse, primeiro, uma ação agressiva contra a aliança atlântica por parte de Moscou.  Putin também deixou claro que irá proteger Belarus, onde, diga-se de passagem, estão posicionadas armas nucleares russas.  Nada muito novo, nem se esperava algo diferente já que o país do ditador Aleksandr Lukashenko se tornou títere do Kremlin.

 

As ameaças soam como blefe de alguém acuado. Aliás, toda essa gritaria de Putin, veio na semana na qual o presidente também decidira não viajar para a cúpula dos Brics na África do Sul por medo de ser preso por ordem do Tribunal Penal Internacional (TPP), por crimes de guerra. Putin já não pode colocar o pé fora da Rússia.

 

KIEV ACUSA RÚSSIA DE BOMBARDEAR DEPÓSITO

Cidade de Odessa virou alvo após encerramento de acordo sobre exportação de grãos

 

Mísseis de cruzeiro da Rússia, voando baixo e contornando as defesas aéreas ucranianas, destruíram edifícios de armazenamento agrícola na região de Odessa nesta sexta-feira, disseram autoridades ucranianas. As forças do Kremlin expandiram seus alvos após três dias de bombardeios na infraestrutura portuária do Mar Negro da região, após a retirada dos russos do acordo de grãos na segunda-feira.

 

Duas pessoas ficaram feridas, além de cem toneladas de ervilhas e 20 toneladas de cevada que ficaram destruídas, após o ataque russo a um depósito agrícola, segundo o governador da região de Odessa, Oleh Kiper.  Enquanto trabalhadores tentavam conter um incêndio desencadeado por dois mísseis, outro míssil atingiu o local destruindo equipamentos agrícolas e de combate a incêndios, informou Kiper.  O ataque foi de menor escala em comparação com os dos últimos dias que colocaram Odessa no alvo da Rússia.

 

A Rússia mirou a infraestrutura de exportação de grãos da Ucrânia após prometer retaliar um ataque que danificou uma ponte entre a Rússia e a Península da Crimeia.  Embora o ato de sexta-feira tenha sido mais moderado, o avanço nos ataques manteve a população de Odessa em alerta.

— O inimigo continua aterrorizando e isso está, sem dúvida, relacionado ao acordo de grãos – disse Natalia Humeniuk, porta-voz do Comando Operacional Sul do exército ucraniano.

 

O Instituto de Estudos da Guerra, em Washington, EUA, disse que os recentes ataques no sul da Ucrânia fazem parte de uma estratégia geral.  "Os intensos ataques do exército russo contra a infraestrutura portuária e de grãos ucraniana e ameaças de escalada marítima provavelmente fazem parte do esforço do Kremlin para aproveitar a saída da Rússia da iniciativa de grãos do Mar Negro e obter extensas concessões do Ocidente", informou, em avaliação na quinta-feira.

 

 Exercícios

 

O Ministério da Defesa russo disse que a Marinha realizou exercícios que simulavam ação para bloquear uma seção do Mar Negro. Uma lancha disparou mísseis de cruzeiro antinavio contra um alvo simulado. Tanto a Rússia quanto a Ucrânia anunciaram que vão tratar os navios um do outro como possíveis alvos militares em trajetos para os portos do Mar Negro.

 

MOSCOU AMEAÇA RETALIAR ATAQUE A PAÍS ALIADO

 

O presidente russo, Vladimir Putin, alertou nesta sexta-feira que Moscou usará "todos os meios" à sua disposição para proteger seu aliado Belarus de possíveis ataques.

— Uma agressão contra Belarus será equivalente a uma agressão contra a Federação da Rússia. Responderemos com todos os meios à nossa disposição – disse Putin durante uma reunião do seu Conselho de Segurança, transmitida pela televisão.

 

A Polônia, um dos aliados mais próximos da Ucrânia, com fronteira com esse país e também com Belarus, tem fornecido armas a Kiev e acolhido refugiados ucranianos.  Porém, não manifestou interesse em enviar tropas à Ucrânia. Putin acusou seu governo de tentar "interferir diretamente no conflito" para ocupar o território ucraniano.

 

Fronteira

 

A Polônia reforçou suas defesas na fronteira com Belarus, para onde foram transferidos os combatentes do grupo paramilitar russo Wagner, após uma rebelião interrompida na Rússia. Moscou utilizou o território de Belarus para lançar a ofensiva na Ucrânia.

 

O presidente afirmou ainda que as armas ocidentais "não ajudam" a Ucrânia em sua contraofensiva, que, segundo ele, não tem dado "nenhum resultado".  No mês passado, Kiev lançou uma contraofensiva com o apoio de armas fornecidas por potências ocidentais. As forças de Moscou ocupam partes do sul e do leste da Ucrânia e, em grande medida, o front parece bloqueado.

 

Fonte:  Jornal Zero Hora/Jornalista Rodrigo Lopes/ rodrigo.lopes@zerohora.com.br / @rlopesreporter em 23/07/2023