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Álbuns c/Trabalho de Carlos Nine e Alberto Breccia
Álbuns c/Trabalho de Carlos Nine e Alberto Breccia

DOIS CLÁSSICOS DA HQ ARGENTINA

 

Dois álbuns apresentamos trabalhos de Carlos Nine e Alberto Breccia, mestres da narrativa gráfica.

 

Livro: CRIMES E CASTIGOS - Carlos Nine - Tradução de Rodrigo Rosa - 60 páginas.

 

Livro: Mort Cinder – Héctor Oesterheld (roteiro) e Alberto Breccia (arte) – Tradução de Ernane Ssó – 232 páginas.

 

Agora que os quadrinhos, principalmente em sua vertente americana e super-heroica, se tornaram a fonte de uma ampla parcela do entretenimento mainstream, seria um ótimo momento para tomar consciência de que HQs não são só “gibis de heróis”. Fora do reino dos bombados de cueca por cia das calças, há uma rica tradição bem aqui ao lado, na Argentina, que deu origem a nomes como Quino, Fontanarrosa e aos autores de dois álbuns que a editora Figura, do também artista gráfico Rodrigo Rosa, está pondo agora nas livrarias, Os livros são CRIMES E CASTIGOS, de Carlos Nine, e uma coletânea das aventuras de MORT CINDER, resultado da parceria entre Héctor Oesterheld e o bamba do traço Alberto Breccia.

 

São, ambos, cada qual a seu modo, apropriações de fórmulas e gêneros narrativos populares a que os autores souberam imprimir uma personalidade própria. CRIMES E CASTIGOS é composto por breves contos policiais nos quais Carlos Nine parodia clichês e tropos do gênero. São protagonizados por três detetives caricatos (tanto no visual quanto na personalidade) chamados Parker, Pirker e Babously, que investigam casos de fraudes, homicídios, adultérios e perversões. Mestre argentino consagrado na França, Nine é pouco conhecido no Brasil, embora tenha tido outros livros lançados por aqui. Um deles, de 2008, apresenta um passeio gráfico por Porto Alegre, com paisagens e edifícios da cidade vistos em conjunto com criaturas fantásticas como garçons com feições suínas e patos que voam lendo livros.

 

Essa característica absurda está de volta na forma como Nine interpreta e exacerba elementos recorrentes dos contos de crime, como o detetive solitário, a hiperssexualização das femme fatales, as intenções ocultas por trás das motivações de todos. O traço de Nine, caricatural, destila cada personagem a uma ideia distorcida, valendo-se de um repertório sofisticado da arte visual.

 

Se o policial é o gênero que Nine reinventa, MORT CINDER, da dupla Héctor Oesterheld (roteiro) e Alberto Breccia (arte), envereda pelo horror, pela aventura e pela ficção científica. São histórias originalmente publicadas nos anos 1960 na revista Misterix, nas quais Oesterheld e Breccia narram a saga do personagem título, que tem o dom sobrenatural de ressuscitar – e que, assim, viveu aventuras em momentos históricos fundamentais dos últimos cinco mil anos.

 

Um dos desaparecidos durante o regime militar argentino, em 1977, Oesterheld foi o criador do clássico O ETERNAUTA e escreveu em parceria com grandes ilustradores, de Hugo Prattt a Solano López. Com Breccia, dobradinha afinada, como prova este volume, faria ainda elogiadas biografias de Evita Perón e Che Guevara. Neste MORT CINDER, o texto sofisticado e a imaginação vigorosa de Oesterheld têm o amparo de uma arte em que, em solene preto e branco, Breccia se inspira na limpidez e no detalhismo de Hal Foster e Alex Ross, enquanto explora o alto contraste entre luz e sombra com um traço pessoal, livre e por vezes caricato.

 

Duas belas apresentações para um universo compartilhado pecaminosamente pouco conhecido: o do grande quadrinho argentino.

 

Fonte: Zero Hora/Segundo Caderno/Carlos André Moreira (carlos.moreira@zerohora.com.br) em 09/11/2018