A ANTIGUIDADE ORIENTAL
AS CIVILIZAÇÕES MESOPOTÂMICAS
Compreendida pelas bacias do Tigre e do Eufrates, a Mesopotâmia foi o berço de duas importantes civilizações: a assíria e a babilônica ou caldaica. A Mesopotâmia é uma planície formada por terrenos de aluvião dos dois grandes rios que a formam e que, como o Nilo, estão sujeitos a cheias periódicas. Estas inundações, quando não ocorrem com regularidade, muitas vezes se tornam agentes de destruição. O clima mesopotâmico é um clima de contrastes: invernos rigorosos com 0° de temperatura e verões que atingem a 50°, agravados pela umidade proveniente da evaporação dos pântanos.
A população mais primitiva da Mesopotâmia foi constituída de um povo braquicéfalo, talvez de origem camita – os sumérios.
OS SUMÉRIOS.
Constituíram os sumérios a base cultural da civilização mesopotâmica. Muitas instituições e conhecimentos que se atribuíam, até pouco tempo, aos babilônios e assírios, são de origem nitidamente sumeriana.
Os sumérios eram particularmente dedicados à agricultura e ao comércio. Usavam barras ou lingotes de metais preciosos, com peso fixo, a guisa de moeda. Muitas das disposições do famoso Código de Hamurábi são de origem sumeriana, como a hoje chamada “lex talionis” que admitia a retaliação, isto é, represália idêntica a ofensa ou crime cometido, olho por olho, dente por dente.
A escrita cuneiforme (em forma de cunha: gravada geralmente em pequenos tijolos) foi uma de suas mais importantes criações. Muito tempo após o desaparecimento de sua civilização, assírios e babilônios escreviam pelo mesmo processo.
As construções sumerianas feitas de argila eram naturalmente perecíveis; destacavam-se os zigurats, torres escalonadas com uma construção cúbica na parte superior.
EVOLUÇÃO POLÍTICA DA MESOPOTÂMIA.
Povos de origem semita caldearam-se com os sumérios. A Baixa Mesopotâmia, aproximadamente 4.000 a. C., já possuía certa uniformidade racial proveniente da miscigenação semítico-sumeriana, indicada claramente nas esculturas encontradas nas ruínas de suas cidades, que retratam um tipo humano de rosto largo, nariz saliente, pequena estatura e olhos oblíquos.
Os habitantes da Caldéia, em virtude da própria fertilidade do solo, eram acentuadamente agricultores. Suas cidades, carecendo de um fator de unidade como o Nilo, eram politicamente independentes, como Ur, Ourouk, Lagash e Nippur, governadas por reis denominados “patésis”. Possuíam, no entanto, elementos comuns de civilização.
Atraídos pela fertilidade mesopotâmica, os acádios, povos semitas do deserto da Síria, penetraram violentamente no norte da Caldéia em virtude de sua superioridade militar, fundando cidades como Agadé, Sippar e posteriormente Babilônia. O contato dos acádios com os sumérios originou a adoção de seus costumes e de sua civilização por parte dos antigos invasores.
A primeira tentativa de unidade acádio-sumeriana foi feita por Sargão I (2550 a.C.), cujo reino conseguiu manter-se por dois séculos. Ur e Lagash readquiriram sua antiga independência; novas invasões semitas, porém, estabeleceram o predomínio deste povo na Mesopotâmia, já profundamente influenciada pelos elementos essenciais da cultura sumeriana.
O 1º IMPÉRIO BABILÔNICO.
O maior soberano da Babilônia foi Hamurábi, famoso pelas suas conquistas militares, pela abertura de um canal que ia de Babilônia até o golfo Pérsico, correndo paralelamente ao Eufrates, e pelo seu código, que é bem um reflexo da vida e dos costumes babilônicos. Segundo a legislação de Hamurábi, a injúria e os danos deveriam ser vingados com atitudes ou fatos equivalentes: olho por olho, dente por dente. Se alguém matava injustamente, deveria ser morto pela família da vítima. Além do seu aspecto penal, o código de Hamurábi era também uma regulamentação econômico-social dos domínios do rei. Ad diversas profissões nele se achavam minuciosamente reguladas, assim como certas instituições como o casamento e o divórcio.
O 1° Império Babilônico desapareceu no segundo milênio antes de Cristo. Toda a Mesopotâmia havia sofrido o impacto de uma invasão de povos indo-europeus, arianos, entre os quais se destacavam os mitanianos, os cassitas e o hititas. Estes dois últimos povos dominaram completamente a antiga capital de Hamurábi, que caiu então em um período de decadência.
OS ASSÍRIOS.
A decadência de Babilônia, estimulou os assírios, povo semita que habitava no norte da Mesopotâmia, a libertar-se da dependência a que estavam submetidos, formando, formando um pequeno estado independente, cuja primeira capital foi Assur e, logo depois, Nínive.
Os mais importantes reis assírios foram Teglatfalasar I, que conseguiu ocupar e dominar Babilônia, por algum tempo; Sargão II (772-705 a.C.), que fez do exército assírio o melhor da época; Senaqueribe (705-681 a.C.), que mudou a capital de Assur para Nínive; e Assurbanípal (665-626 a.C.) que conquistou o Egito. No século VII a.C. o império assírio compreendia todo o Crescente Fértil, o Elã e a Média.
A Assíria era muito menos fértil do que a Caldéia. Compreendia uma região montanhosa (o atual Curdistão), na parte superior do vale do Tigre, cujos limitados recursos contribuíram para que os assírios se tornassem um povo de tendências guerreiras e imperialistas. Aproveitando-se das riquezas dos vencidos, as cidades guerreiras dos assírios transformaram-se em cidades de luxo e de prazer. A indústria e o comércio de objetos ornamentais desenvolveram-se bastantes. Nínive tornou-se uma cidade magnífica, graças sobretudo a Senaqueribe e ao cruel Assurbanípal.
Os soberanos assírios promoviam campanhas militares anualmente, na primavera, ora para cobrar tributos de súditos ora para empreendimento de novas conquistas. O exército assírio foi o primeiro exército do mundo a usar a cavalaria e uma tática definida para sitiar; possuía também um corpo de sapadores e torres de assédio.
A crueldade dos assírios era proporcional à eficiência de seus exércitos. Arrancavam os olhos aos vencidos e cortavam-lhes as línguas. Muitos eram empalados, outros eram esfolados vivos. A violência dos dominadores assírios estimulou a união de babilônios e medos. Nabopalassar, rei caldeu da Babilônia, e Ciaxares, rei dos medos e persas, unidos, atacaram Nínive, que foi totalmente destruída. Muitos povos exultaram com a destruição do poderio assírio. Com certa razão teria dito um profeta hebreu daquela época, referindo-se à queda da antiga capital assíria: “Todo aquele que soube de tua queda alegrou-se; pois quem não sofreu o efeito de tua maldade?”
A ARTE ASSÍRIA.
Havia certa identidade artística entre assírios e caldeus, mas na escultura a arte assíria foi muito superior, sobretudo nos relevos, que se destacam pela impressão de movimento das cenas de caça e de guerra, temas preferidos nas manifestações artísticas dos assírios e reflexo de seu espírito belicoso.
Os palácios assírios impressionavam pelo tamanho; possuíam geralmente arcos e cúpulas imponentes; as colunas, porém, não representavam um papel arquitetônico de destaque.
A literatura assíria girava em torno de campanhas militares e tinha um sentido profundamente nacionalista. No reinado de Assurbanípal a cultura assíria desenvolveu-se bastante. Homem inteligente, não se preocupando exclusivamente com a guerra, como a maioria dos monarcas assírios, a biblioteca real, sob seu patrocínio, veio a ter mais de 22000 tabuinhas com escritos cuneiformes e seus escribas atualizaram os conhecimentos assírios da época nas fontes babilônicas mais adiantadas.
O 2° Império Babilônico.
Com a destruição de Nínive, surgiu novamente o Império Babilônico ou Caldeu (O termo “caldeu” deriva de “kaldi”, tribo semita muito belicosa que se fixou na baixa Mesopotâmia, durante a hegemonia assíria.)
O sucessor de Nabopalassar, seu filho Nabucodonosor, tentou restaurar a época de Hamurábi. Reconstruiu Babilônia e cercou-a de enorme muralha com cem portas de bronze. Pelo desenvolvimento de seu comércio, tornou-se, a antiga cidade caldaica, a maior cidade da Ásia. Sua beleza e poderio são referidos pelos historiadores gregos com palavras de admiração. Eram famosos os chamados jardins suspensos – uma das sete maravilhas do mundo antigo, construídos em terraços superpostos e onde vicejavam árvores exóticas.
Os refinamentos de Babilônia transformaram-na numa cidade de corrupção e, pouco a pouco, suas defesas foram-se relaxando. Em 539 a. C., Ciro, Rei da Pérsia, aproveitou-se da decadência moral e militar da grande cidade e atacou-a, tornando impossível qualquer resistência. Os exércitos persas entraram na cidade sitiada sob os aplausos do povo, fato mais ou menos raro na Antiguidade; o sibaritismo da corte de Nabonide, seu último rei, provocara o descontentamento da população, o que facilitou a conquista persa. Estava findo o poderio babilônico.
A CULTURA CALDAICA.
O renascimento do Império babilônico havia dado um novo sentido à civilização mesopotâmica.
O antigo antropomorfismo dos deuses sumerianos foi substituído por uma concepção religiosa segundo a qual os deuses eram onipotentes e profundamente distanciados do homem, simples pecador sujeito à vontade divina.
A astronomia foi o ponto alto da cultura caldaica. Calculou-se exatamente a duração do ano e a variação anual da inclinação do eixo da Terra. A grande motivação da astronomia caldaica, porém, foi a religião; daí o seu aspecto astrológico. Os sacerdotes, ou magos, pretendiam predizer o destino humano pela observação dos astros. A vida do homem dependeria da posição dos corpos celestes no dia de seu nascimento, embora pudessem ajuda-lo gênios bondosos ou os deuses, como Anu – pai de todas as divindades, Nergal – “senhor do país de onde não se volta”, e Ishtar – simbolizada pelo planeta Vênus e deusa do amor e da fecundidade. Durante a segunda hegemonia babilônica, Marduque foi considerado como o maior deus nacional.
A arquitetura não foi, como no Egito, orientada no aproveitamento da pedra como material de construção. Nas terras de aluvião da Mesopotâmia a pedra era rara, sendo substituída por tijolos de barro cozido. Palácios e templos constituem os temas arquitetônicos de maior destaque.
A escultura mesopotâmica, embora algumas vezes associada à arquitetura, foi, como arte autônoma, uma das mais importantes. As mulheres são raramente representadas. A cabeça é a parte mais importante das estátuas e o rosto reflete sempre uma atitude de impassibilidade. São famosos os touros alados de Corsabad, com rosto humano.