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A Sociedade Romana
A Sociedade Romana

 Michelangelo

 

A SOCIEDADE ROMANA.

 

A EDUCAÇÃO EM ROMA.

 

Nos primeiros séculos da República a educação romana é caracterizadamente familiar.  A obra educativa é desempenhada pela solicitude materna que juntamente com a autoridade paterna alfabetiza e transmite conhecimentos de leitura, cálculo, religião e civismo.  Aos sete anos, os meninos ficavam particularmente sob a orientação do pai, enquanto as meninas se identificavam com os trabalhos e indústrias domésticas, sob a orientação materna.

 

As pessoas de condição social humilde recebiam pouca instrução.  As classes superiores, no entanto, podiam cursar diversos graus de ensino como o do litterator (correspondente aproximadamente ao ensino básico); o de grammaticus e o de rhetor, equivalentes ao ensino médio.  Nestes últimos estudava-se literatura, especialmente as obras de Virgílio, Horácio, Cícero, Tito Lívio.  Parece que o ideal da instrução secundária em Roma era a formação de um senhor rural que, conhecendo um pouco de literatura e direito, estivesse em condições de exercer cargos públicos.

 

Após a conquista da Grécia, tornou-se ainda mais forte a influência helênica que já se vinha fazendo sentir desde muito tempo.  Encantados pela superioridade da cultura grega, os patrícios contratavam professores gregos para ensinar-lhes os filhos, e, muitas vezes, dentre os prisioneiros gregos eram escolhidos os preceptores para a orientação da juventude romana.  Nesse sentido, a influência grega foi tão forte que, somente após a helenização de Roma é que a escola veio a integrar-se definitivamente na vida social dos romanos.

  

OS JOGOS E OS ESPETÁCULOS.

Os espetáculos que originariamente eram destinados a comemorar as festas religiosas do culto público, perderam com o tempo toda a sua antiga significação; muitos imperadores os usaram para granjear simpatia popular.  A conhecida expressão panem et circenses (pão e circo) na qual Juvenal satiricamente resume as aspirações do povo romano, reflete, na verdade, a importância que se dava em Roma aos espetáculos.

 

Para o povo romano não somente representavam um divertimento como também uma oportunidade para a manifestação de suas queixas e preferências, vaiando ou aplaudindo.  Em 59 a.c., os adversários de César eram ruidosamente aclamados todas as vezes que compareciam ao circo ou ao teatro; cem anos depois, Cláudio admoestava o povo pelos impulsos dirigidos, numa representação teatral, ao cônsul Pompônio.

 

Primitivamente os espetáculos circenses eram os mais apreciados.  Nos últimos tempos da República, no entanto, eram preferidas pelo povo as lutas de gladiadores, organizadas com grande luxo.  O circo era um local de forma retangular onde se realizavam as corridas de carros, embora neles também tivessem lugar combates de gladiadores e lutas contra feras.  Os carros eram puxados por uma parelha de cavalos (bigae) ou por duas (quadrigae) e seus condutores (aurigae) os dirigiam de pé.  Na Roma imperial formaram-se partidos (factiones) de torcedores e apostadores em torno das corridas de carros;  cada partido tinha uma cor própria (vermelho, branco, verde ou azul) e era orientado por ricos proprietários da ordem equestre, havendo mais tarde se transformado em facções políticas.

  

Nos espetáculos as pessoas conhecidas em geral sentavam-se juntas, formando grupos chamados circuli.

 

Os jogos (ludi), a principio realizados no circo e posteriormente nos anfiteatros, consistiam principalmente em combates de gladiadores e lutas contra feras.  O primeiro anfiteatro romano foi o Coliseu, edificado por Vespasiano e Tito; sua arena, de forma oval, mede 77 metros de comprimento por 40 metros de altura, comportavam 50 mil pessoas.  Os gladiadores eram na maioria prisioneiros de guerra, escravos e delinquentes.  Havia escolas especiais para o seu treinamento, onde eram constantemente vigiados e exercitados na arte de se matarem mutuamente.

 

Toques de trombetas anunciavam o início dos espetáculos nos quais se sucediam as mais cruéis cenas.  Para divertirem a massa exultante, os retiari (homens armados com pesadas redes e tridentes) tentava m envolver os adversários com suas malhas para mata-los ou, então, gladiadores de espada curta e escudo ensopavam o chão da arena com o chão dos companheiros.  Quando o adversário jazia no chão, o vencedor levantava a mão esquerda e indagava do povo se desejava que o matasse.  Outras vezes era o vencido, quem indagava se a multidão desejava que lhe fosse poupada a vida.  O público manifestava-se agitando lenços, salvando-o ou volvendo o polegar da mão direita para baixo, sinal de que deveria ser desferido o golpe final.  Nos intervalos era removida a areia ensanguentada; os que haviam tombado eram retirados da arena, pela “porta da deusa da morte”, por funcionários com máscaras de Caronte, os quais os levavam ao depósito de cadáveres, onde era desferido o golpe de misericórdia naqueles que ainda apresentavam algum sinal de vida.

 

Se compararmos com os jogos gregos, os jogos romanos representam tão somente espetáculos brutais, destinados a satisfazem o sadismo de uma civilização sedenta de sangue e já em acelerada decadência.

 

O TEATRO

As origens do teatro romano remontam às representações pantomímicas etruscas que, por sua vez, já tinham forte influência grega.  O primeiro autor de comédias e tragédias romanas foi Lívio Andrônico, de Tarento, seguido mais tarde por Plauto e Terêncio.

 

Os principais gêneros dramáticos eram a atelana (De Atela, cidade osca), simples Farsa em um só ato, sempre apresentada com os mesmos personagens e onde não eram raras as frases grosseiras e obscenas, e os mimos, sem personagens fixos e com temas geralmente tomados da vida urbana, nos quais se ridicularizavam fatos verídicos, mais ou menos recentes.  Como na atelana, no mimo era usada uma linguagem rude e frequentemente imoral.

 

As comédias e as tragédias romanas são quase sempre simples traduções do grego.

 

Pompeu construiu em Pompéia o primeiro teatro de pedra.  Na época de Augusto construiu-se o de Marcelo, cujas ruínas ainda hoje se conservam.

  

A CONSCIÊNCIA MORAL

O romano era antes de tudo um homem prático e utilitário.   Vida contemplativa nunca lhe ofereceu atrativos, pois o que caracterizava sua índole era o desejo de realização de propósitos concretos.  Era um homem, como assinala Paul Monroe, “para lutar por algum melhoramento ou por uma vitória de ordem material para os seus companheiros, seguro da reciprocidade.”  Daí, considerarem sempre os gregos como visionários e ineficientes; estes, por sua vez, julgavam os romanos um povo bárbaro, dotado apenas de valor militar, porém incapaz de apreciar os aspectos superiores da vida.

 

As virtudes romanas eram as de caráter prático e a varonilidade, personificada nos grandes homens e nos heróis mitológicos, constituía um ideal a ser atingido através da obediência e da religiosidade.  Esta, era não somente um meio de se alcançar a “pax deum” (paz com os deuses), mas também a própria noção de respeito filial ante a autoridade paterna.  A varonilidade, ou firmeza de caráter, era uma virtude altamente estimulada;  seus atributos de bravura e coragem levaram muitos romanos a extremos só conhecidos pelos espartanos.

 

A austeridade e a seriedade do romano contrapunham-se à ideia grega de gentileza e a síntese de suas virtudes era, sem dúvida, a noção de dever.  Por ser um homem acorrentado ao dever, por isso mesmo o romano foi também um organizador competente e sistematizador dos princípios de justiça que vieram a formar o Direito Romano.

 

Naturalmente que essas características morais obedeceram às variações naturais de indivíduo para indivíduo e sofreram a influência da sequência histórica de Roma.  Após as conquistas, as riquezas mal distribuídas, o luxo, a devassidão, o afã pela riqueza e pelo poder material superaram as antigas tradições morais e religiosas, fazendo com que Roma vivesse o mesmo drama do Egito, da Fenícia e da Babilônia que se autodestruíram pela subordinação dos valores morais e espirituais aos econômicos.  Não se poderia, porém, negar a contribuição incomensurável de Roma à civilização ocidental, não somente lançando os fundamentos de sua organização social, como também por haver estimulado as virtudes práticas por meio do Direito e do Estado, e, sobretudo, pela divulgação da filosofia estóica e pela propagação da religião cristã que, inegavelmente, foi uma plenificação da mais perfeita concepção moral da vida.