EPIDEMIA DE CORES ILUMINA A ARTE COMO TERAPIA PSIQUIÁTRICA
É interessante que o documentário gaúcho EPIDEMIA DE CORES coincida sua estreia na Sala Eduardo Hirtz da Casa de Cultura Mario Quintana com a já longeva permanência em cartaz da ficção NISE – O CORAÇÃO DA LOUCURA. Porque são dois filmes que se complementam na proposta de iluminar a criação artística como um efetivo recurso de tratamento médico e integração social para pacientes com diferentes graus de transtornos mentais.
Com direção do antropólogo Mário Eugênio Saretta, EPIDEMIA DE CORES acompanha o trabalho realizado na Oficina de Criatividade do Hospital Psiquiátrico São Pedro, em Porto Alegre, na qual os internos realizam trabalhos em pintura, escultura, bordado e escrita criativa.
A oficina foi criada 1990, inspirada na revolucionária iniciativa da médica psiquiatra alagoana Nise da Silveira, que, nos anos 1940, apresentou em um hospital psiquiátrico do Rio de Janeiro essa forma de tratamento humanizado em contraponto a métodos violentos como eletrochoques e lobotomia. Na cinebiografia dirigida por Roberto Berliner em cartaz no Espaço Itaú, Nise é vivida por Glória Pires.
Saretta captou imagens e realizou entrevistas ao longo de dois anos com pacientes, funcionários e voluntários que colaboram com o São Pedro. Sua abordagem é delicada e respeitosa. Destaca tanto os dramas de quem rompeu, alguns bruscamente, os laços com a família e a sociedade quanto a abnegada dedicação daqueles que os acompanham na rotina da expressão criativa – que é, como demonstrou Nise da Silveira, um eficaz canal de comunicação e reconexão desses pacientes com realidade que os cerca.
Fonte: ZeroHora/Segundo Caderno/Marcelo Perrone (marcelo.perrone@zerohora.com.br) em 3 de junho de 2016.