Translate this Page




ONLINE
80





Partilhe esta Página

                                            

            

 

 


Tropicália na Fundação Iberê Camargo
Tropicália na Fundação Iberê Camargo

ATMOSFERA CARIOCA NA FUNDAÇÃO IBERÊ

 

Tropicália e Rio de Janeiro são temas da nova exposição.

 

Você precisa / Saber da piscina / Da margarina / Da Carolina / Da gasolina… Os versos de Caetano Veloso, eternizados por Gal Costa e os Mutantes, vão subir as rampas da Fundação Iberê Camargo (FIC) e ecoar por lá até dezembro. Tocada periodicamente por um conjunto de amplificadores instalados no saguão do edifício, a música BABY dará o tom da nova exposição da instituição, que tira seu nome de um dos versos: VIVEMOS NA MELHOR CIDADE DA AMÉRICA DO SUL. A partir deste final de semana, a mostra pode ser visitada e, em sua esteira, será iniciada uma programação paralela em ciclo de cinema, seminário, performance, música e outras atividades.

 

A exposição pega carona no aniversário de 50 anos do Tropicalismo, em 2017, para repensar o movimento e fazer uma investigação sobre a identidade nacional que ele ajudou a construir. Para isso, foca na paisagem cultural e política do Rio de Janeiro, entendendo a cidade como um espaço de síntese da imagem do país, ao mesmo tempo em que tenta desconstruir o mito da “cidade maravilhosa”. Embora Caetano Veloso nunca tenha esclarecido qual seria a “melhor cidade da América do Sul”, os curadores Bernardo José de Souza e Victor Gorgulho relacionam o verso ao Rio.

- BABY dá medida do que foi o movimento tropicalista há 50 anos. Dava conta do que era o Brasil que buscava se internacionalizar, que flertava culturalmente com os Estados Unidos e não absorvia apenas o vocabulário, mas toda uma ideia de entender o mundo e de modernidade – explica Soua.

 

A mostra foi concebida originalmente para o espaço cultural Átomos, no Rio de Janeiro, onde ficou em cartaz durante a feira ArtRio, de 29 de setembro a 2 de outubro de 2016. Em Porto Alegre, ocupará o saguão e dois andares da FIC com pinturas, esculturas, fotografias, instalações, vídeos e performances que exploram noções de corpo, tropicalidade e violência.

- O projeto vai para trás e para frente, investigando o Rio como essa paisagem idílica por um lado e sangrenta por outro – diz Souza, lembrando também as notícias recentes sobre a cidade: - Esse debate agora faz ainda mais sentido em função da invasão da Rocinha. A cidade está se desconstruindo mais uma vez. Essa desconstrução é do Brasil todo, mas no Rio ela é mais sentida.

 

COR E MÚSICA PARA DESCONTRAIR O AMBIENTE

 

Ao todo, 32 artistas participam da exposição, entre nomes do centro do país e também do Exterior. Hélio Oiticica, autor da instalação TROPICÁLIA, que inspirou o movimento musical, está representado na mostra com o registro (filmado por Raymundo Amado) da performance APOCALIPOPÓTESE, realizada em 1968, no aterro do Flamengo. Outras obras históricas são os famosos ZERO DOLLAR e ZERO CRUZEIRO, de Cildo Meireles, a foto PODER, de Carlos Vergara (1972) e as fotos da série POSTO 9/PÍER (1969), de Alair Gomes. A utopia do “Brasil do futuro” aparece nos estudos de Le Corbusier que projetavam, em 1929, um Rio de Janeiro cruzado por vias expressas.

 

Esses trabalhos são relacionados com obras atuais, que compõem a maioria da mostra. Ao lado de Oiticica, Débora Bolsoni usa os materiais referenciados no título da obra CONFETE E ARAPUCA (2007) para evocar uma reflexão sobre como o brasileiro pode se tornar refém de um imaginário de hedonismo.

 

Apesar do tom crítico, a exposição é cheia de cor, humor, música, tal como a Tropicália. Em sintonia com o reposicionamento da FIC, busca quebrar a austeridade do espaço. Um exemplo é a obra SOFARAOKÊ (2015), do coletivo OPAVIVARÁ!: um sofá adaptado com um sistema de som e DVD no qual visitantes poderão sentar e cantar karaokê. A ideia dos curadores foi priorizar obras que, como essa, possam ser apreciadas por quem não conhece a fundo a história da arte.

 

 

Mas a diversão está sempre colada à crítica. Os amplificadores mencionados no início do texto, por exemplo, integram uma obra de arte, assinada por Vivian Caccuri: ODEBRECHT SOUNDSYSTEM (2016). Às caixas de som estão fixadas placas de vidro retiradas de um edifício abandonado pela Odebrecht no Rio. Diante da obra, que recepciona os visitantes no térreo, serão realizadas várias performances e shows. A promessa dos curadores é que, por meio dessas atividades paralelas, Porto Alegre também entre na programação, em debates focados no cenário cultural local.

 

Espetáculo: VIVEMOS NA MELHOR CIDADE DA AMÉRICA DO SUL

Visitação: Sábados e domingos, das 14h às 19h, até o dia 17 de dezembro.

Fundação Iberê Camargo – Curadoria: Bernardo José de Souza e Victor Gorgulho

Entrada Franca

 

 

Fonte: ZeroHora/2º Caderno/Luiza Piffero (luiza.piffero@zerohora.com.br) em 29/09/2017