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Todo Documento Histórico é Verdadeiro?
Todo Documento Histórico é Verdadeiro?

Todos os documentos históricos são verdadeiros?

 

 

Nenhum documento histórico é cem por cento verdadeiro do mesmo modo nenhum documento, ainda que falso, deve ser considerado inútil pois até mesmo nestes o historiador pode encontrar um fundo de verdade ou um modo de aferir a veracidade dos factos. Jacques Le Goff refere“… não existe um documento-verdade. Todo o documento é mentira.

 

”O facto de o historiador ter à sua disposição um grande número de documentos históricos, de poder dispor de testemunhos deixados pelos seus antecessores, não significa que tenha a tarefa facilitada. Cada documento, cada testemunho, deve ser analisado criticamente pelo historiador.

 

Só assim este poderá aferir da sua autenticidade e atribuir-lhe o valor que possa ou não merecer.

 

É um documento autêntico sempre verdadeiro? Pode um documento autêntico incorrer na mentira? Qualquer documento é tratado pelo historiador como uma possível fonte de informação. Como um possível testemunho. No entanto, antes de considerar a informação como válida, antes de aceitar um documento como um testemunho autêntico e fiável, deve o historiador submetê-lo a toda uma análise e critica sistemáticas que o isentem de qualquer dúvida.

 

Ao historiador compete a procura da informação que ateste a veracidade dos factos. Se por um lado é verdade que a autenticidade de um documento pode ser aferida pela aposição de uma data e de uma autoria que lhes garantam a veracidade, por outro há que ir mais fundo, procurar através de todos os meios ao dispor se este não incorre em falhas, em informações incorretas ou inexatas. Sabe-se que a datação pode não ser exata. Casos há em que estes podem ser pré datados ou em que a data pode ser aposta à posteriori. Há também a possibilidade do seu conteúdo ser, de algum modo, adulterado. A idoneidade do autor, a sua integração na sociedade em que viveu e sob a qual produziu o documento, o seu sentido critico, a autoria material ou moral do mesmo e até a intenção com que aquele foi produzido podem “mascarar” a realidade relatada.

 

Por outro lado pode dar-se o caso de o historiador não ter acesso a documentos originais mas apenas a cópias. Como proceder perante a situação? Serão as cópias dignas de confiança? Tal como com os originais está nas maus do historiador apreciar criticamente estes documentos. Apenas um detalhado trabalho de análise, de comparação, de crítica o poderá orientar na busca pela verdade dos fatos. Uma cópia pode ser uma reprodução exata de um original ou pode ter sido alvo de erros, intencionais ou não. A possibilidade de existirem erros é grande, o cansaço ou a distração do copista. Atos intencionais levados a cabo por iniciativa do próprio ou por coação de terceiros, podem ser a causa de introdução de falsidades nos documentos.

 

É através de uma crítica exaustiva, da comparação de várias cópias que possam existir ou de documentos em que os mesmos fatos sejam relatados que o historiador extrairá a veracidade ou a inverdade dos mesmos. O historiador, por natureza, não é crente. A sua capacidade de crítica depende da sua capacidade de interrogar. De questionar e conseguir respostas. A crítica deve englobar desde a credibilidade do documento à idoneidade do autor, aos factos relatados, ao contexto em que os mesmos estiveram inseridos. Para aqui chegar, cabe-lhe “transportar-se” para a época em estudo.

 

Conhecer a língua, reconhecer palavras ou expressões e o contexto em que as mesmas eram então utilizadas. A utilização de dicionários e enciclopédias produzidos na época em apreço podem e devem ser considerados. Mas não basta o conhecimento da língua. O conhecimento da época, a familiaridade com a realidade social, politica, económica e religiosa, o conhecimento do autor e da sua integração na sociedade em que produziu o documento, bem como se dependia hierarquicamente de órgãos ou personalidade passíveis de influenciar o seu discurso são também fatores a ter em conta.

 

Em conclusão, não basta ao historiador escolher documentos históricos verdadeiros. Mesmo estes podem não ser autênticos. Nenhum autor é completamente inócuo. Nenhum autor é absolutamente imparcial, como também nenhum é conhecedor de toda a realidade que pretende relatar.

 

A história é algo em permanente atualização. “Cada instante do presente esclarece sob um outro ângulo o passado, suscitando realces imprevistos” (MENDES. 1993-135). Cabe ao historiador compulsar todos os documentos ao seu dispor. Apenas a comparação e análises critica dos documentos históricos, verdadeiros ou falsos, a capacidade do historiador se imiscuir em toda a ambiência que envolveu os factos que pretende estudar, os conhecimentos abrangentes e expansíveis à realidade passada, à sua cultura, à sua linguagem, aos fatos e mesmo ao conhecimento do autor e da sua idoneidade, realizadas com verdadeiro sentido critico, lhe permitirá aferir de quais os testemunhos que deve considerar válidos.

 

A análise a realizar deve abranger não só as verdades relatadas como também as mentiras descritas. Conhece-las e conhecer quais as suas causas, as condições que levaram ao seu aparecimento, bem como as consequências que daí advieram. Uma boa crítica promoverá um bom resultado. A escolha dos documentos históricos não pode, sob pena de incorrer em falsidade, apoiar-se apenas em documentos históricos verdadeiros.

 

Bibliografia:

Bloch, Marc, Introdução à história. Mira-Sintra; Mem Martins: Publicações Europa América, 1997.Col. "Fórum da História " [Edição revista, aumentada e criticada por Etienne Bloch, com prefácio de Jacques le Goff].

Duby, Georges, A História continua. Porto: Edições ASA, 1992.

Mendes, José M. Amado. A História como Ciência. Fontes, Metodologia e Teorização, 3ª ed., Coimbra, Coimbra Editora, 1993, pp. 123-134.

Videoconferência inaugural do I Colóquio Internacional "Historia, educación y fuentes para su estudio"organizado por la Universidad Autónoma del Estado de México. Toluca, 22 de marzo de 2010. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=iyBz_dlMgf8&feature=related  http://www.youtube.com/watch?v=6Ul7p5r6ivQ&feature=bf_prev&list=PL7499EA5EF64F3421&index=10

http://www.youtube.com/watch?v=8StCvHe5nRc&playnext=1&list=PL7499EA5EF64F3421-

http://www.youtube.com/watch?v=iLWgZUE1zmI&feature=related

http://www.youtube.com/watch?v=bRuNGq1Yvhs&feature=related

Por: Adelina Antunes