O escritor ELTON DA FONTOURA retornando ao site com todo o seu talento, entrevista o também escritor JOSUE MATOS
A obra inaugural deste escritor baiano, residindo atualmente nos encantos da cidade maravilhosa, traz em sua bagagem, uma metamorfose de acontecimentos que alteraram de forma significativa, a dialética do enredo e trama.
O prefácio da literatura de Josué Matos, há dezessete anos atrás, focava a ficção de seres interplanetários, entreverados com o misticismo terráqueo. No entanto, houve oscilações, alterações e amadurecimento no perfil literário de Josué, e seu primeiro livro, Eu Inabalável, retrata a cruel realidade, em forma de instigante prosa; até onde você iria por vingança?
O site das Literárias Mosqueteiras reabre as cortinas de entrevistas, procurando esmiuçar a trajetória de um autor que adquiriu a missão de tramar as facetas do mundo contemporâneo, através de um romance policial.
“Eu, Inabalável: Até onde você iria por vingança?”, é um volume com 192 páginas, e foi publicado em 2014 pela Editora Selo Jovem.
Acompanhe as respostas.
Um Analista de Sistemas talvez não consiga encontrar nas linhas de um programa de computador, qualquer similaridade com um romance, ou um texto literário qualquer. Estou enganado?
Há nas entrelinhas de um software, algum símbolo de impulso, princípio de inspiração, ou metáfora que de alguma maneira, te projete ao ambiente de Escritor ?
Josué Matos: Com respeito à Veronica Roth, sou um divergente... (risos) Não me enquadro em rótulos ou conceitos pré-definidos. Apesar de todos acharem que quem faz “exatas” só gosta de matemática e quem faz “humanas” não, sigo no caminho contrário. Gosto de tudo. Já tive contato com todas as áreas e possuo um pouco de cada uma. Acredito que essa mistura de afinidades e a falta de definição social me definem. Portanto, tudo que existe nas entrelinhas, seja de um programa de computador ou de uma ação cotidiana, me projetam ao ambiente de escritor.
O desejo de ser Escritor, de desenvolver novas inteligências a partir da leitura, acabou definindo tua predileção em ler e escrever romances policiais. Além dos mistérios, quais as outras características que este gênero proporciona ao Autor Josué e em consequência, ao leitor?
Josué Matos: Acredito que qualquer gênero pode possuir características que fazem uma história ter qualidade. Apesar de ter escrito um romance policial, leio de tudo. Meu segundo livro é um romance agnóstico! (risos) Qualquer boa trama, seja ela com enfoque em mistério, em relações “hot”, ficção científica ou romance açucarado, deve ter elementos de discussão que façam o leitor pensar, tirá-lo da sua zona de conforto. A meu ver, é esse paralelismo e, em algum momento, encadeamento dramático que fazem de um livro uma obra prima.
Afirmas através de um slogan, (http://eupapeleletras.com.br/2014/10/17/sinopse-de-eu-inabalavel-pronta/) que a vingança não significa justiça, e amor e ódio não são compatíveis.
A narrativa procura provar que estas são verdades absolutas, apenas sugerir reflexões, ou propõe que o leitor investigue suas próprias conclusões?
Josué Matos: Não acredito em verdades absolutas. Cada um tem a sua verdade. Acredito que cada ação tem uma consequência, e esta pode afetar a você e a outros, mesmo que não sejam próximos. Ação e reação. O livro procura demonstrar isso. Um ato impensado ou egoísta pode comprometer a vida de várias pessoas. Precisamos mudar a forma como vemos o outro. Deixar de olhar para o umbigo e passar a olhar para frente.
Conte-nos em detalhes, o passo a passo da tua obra, desde a concepção, até à publicação. Novos, ou futuros autores, poderão através deste depoimento, dirimir dúvidas, constatar coincidências e obter conselhos importantes.
Josué Matos: Sempre tive vontade de escrever um livro. Desde a escola possuía facilidade com a escrita. Durante minha vida, imaginei milhões de histórias que poderiam ter se transformado em livro. Apesar disso, deixei as responsabilidades e rotina protelar esse desejo reprimido. Apenas agora, mais maduro, foi que decidi concretizar esse sonho e, de uma forma indireta, retribuir todo apoio que recebi de minha mãe. Da concepção da história até a chegada ao público, demorou três anos. A ideia não foi um acontecimento surreal ou uma catarse emocional. Foi uma meta traçada e alcançada através de uma observação de acontecimentos cotidianos. O que fiz foi apenas mudar meu olhar. A partir daí, a história fluiu. O projeto de publicação de uma obra literária possui diversas fases. A primeira, escrever a história em si, demorou quatro meses. Após isso, engavetei pois não tinha pretensão de publicar. Amigos próximos leram e viram qualidade na escrita, foi a partir daí que resolvi mostrá-lo ao mundo. Enviei para revisão, reli e acabei reescrevendo alguns trechos. Revisei outra vez. Busquei uma editora e, enfim, publiquei. Ainda vejo falhas no livro, e hoje, mais experiente (risos), reescreveria algumas cenas de forma melhor.
Eu, Inabalável, é o teu primeiro livro. Porém, tua iniciativa de escrever, iniciou em 1997. Durante estes 17 anos, o Escritor Josué Matos construiu ou iniciou outras obras, contos ou crônicas? Poesias quem sabe?
Josué Matos: Sim, ainda adolescente escrevi um livreto de poesias. Ele foi distribuído a parentes. Lembro-me que a crítica de todos foi com relação à visão trágica dos poemas. Gostava de sonetos e sextilhas. Infelizmente o perdi durante os acontecimentos da vida. Hoje, devido ao encouraçamento de meu mundo interior, não consigo mais escrever versos. Sem entrega de alma não há poesia.
As Editoras importam, ao invés de dar a devida atenção ao mercado literário nacional.Na tua opinião, porque o leitor em nosso país prefere os Escritores estrangeiros? O que há na literatura além-fronteiras, que ainda não foi encontrado em nossa prosa ou verso? Ledores preferem ler Tradutores do que Escritor brasileiro! Essa é a realidade, ou achas que é uma lenda urbana?
Josué Matos: Isso é uma questão mercadológica. A culpa não é do leitor, mas sim do mercado como um todo. Como já dizia o poeta Renato Russo, desde pequenos já recebemos os enlatados dos U.S.A... (risos) Nossos gostos são ditados pela mídia que nada mais é do que uma ferramenta de controle. Quem foge desse círculo de “normalidade” é rotulado como estranho, rebelde ou louco. A literatura nacional está em segundo plano porque os editores nacionais não querem reduzir seus lucros arriscando em obras que não são blockbusters. Isso também acontece com o cinema. Vou mais fundo ainda, essa cultura de lucro sobre lixo acontece entre produtos nacionais. Se você olhar o cinema nacional, os filmes que tomam as grandes salas são as comédias pastelão. Existe até uma divisão pela própria ANCINE. Existem filmes que são feitos para serem projetados em circuito especial de cinema. Salas menores, cinemas pequenos. Esse pessoal dono do dinheiro quer manter as pessoas acéfalas, pois dá menos trabalho e mais lucro.
Um por cento de inspiração e noventa e nove de transpiração! Este provérbio acompanha a didática de um Escritor. Quais as características de Josué Matos, naturais e sobrenaturais, que mansamente se aconchegam na compilação de um livro? Existem na tua performance, manias, vícios ou superstições? Criastes para ti, regras, disciplinas ou condutas que foram surgindo ao longo da narrativa?
Josué Matos: Usando a definição de George R. R. Martin, sou 40% arquiteto e 60% jardineiro (risos) Não sigo regras tampouco tenho manias. Amo escrever e tenho ideias por segundo. Meu segundo livro foi escrito em trinta dias. É impossível se ter um planejamento e escrever um livro em trinta dias! Esse foi escrito 99% como um jardineiro e acho que ficou muito melhor que o primeiro (risos) O único vicio que tenho é a escrita, escrevo quando me dá vontade e em qualquer lugar, seja no ônibus indo para o trabalho seja na sala de espera de uma consulta médica. Simplesmente começa a escrever e o resto flui...
Há algum fundamento no comentário feito em um Blog, (http://www.irmaoslivreiros.com/2015/01/resenha-eu-inabalavel.html) sobre as semelhanças de algumas cenas do livro, com o seriado americano Cold Case?
Josué Matos: Se existirem foram coincidências, visto que nunca assisti o seriado. Mas, acredito que, com o volume de histórias e séries existente no mundo, é praticamente impossível que uma história seja 100% original ou que algum elemento nunca tenha sido visto em outras obras.
Tu procuraste atrelar à narrativa da trama, alguns preconceitos e tabus que nos dias de hoje, são discutidos com total liberdade. As novelas da Rede Globo são exemplos vivos. Além da abordagem constante da doutrina espírita ou fundamentos sobrenaturais, as amostragens homossexuais estão presentes em quase todos os horários. Eu particularmente, acho isso muito salutar, mas nem todos concordam comigo.
Eu, Inabalável, preocupou-se até que ponto com a realidade que sempre houve, mas que só agora é explícito?
Josué Matos: Quando escrevo me dispo de rótulos e preconceitos. Só assim tenho liberdade literária. A partir dessa premissa, consigo incluir questões sociais que sempre existiram e nunca foram amplamente discutidas. Incomoda-me muito, tais questões só terem relevância quando uma gigante da mídia deseja. Você pode estar pensando que também é um preconceito meu criticar uma ação aparentemente salutar da emissora, todavia, o que define o caráter é o objetivo por trás da ação, e, a meu ver, tal meio não tem como objetivo discutir com a sociedade tais questões, mas sim, obter audiência. Eu, Inabalável mostra tais questões de forma aberta e ampla, e engana-se quem pensa que o objetivo foi mostrar o homossexualismo, muito pelo contrário, foi mostrar o caráter das pessoas através de suas ações. Afinal sexualidade e caráter não têm, absolutamente, nada haver um com o outro.
Quando eu criei o Book Trailer do meu livro, fiz questão de contar ao leitor, particularidades que ele iria encontrar, usando frases instigantes, mixando uma trilha de três versões. A duração deste vídeo foi de quase nove minutos. Li opiniões e algumas delas, referia-se ao excessivo tempo. Respondi que se o leitor não quer, não tem paciência ou tempo para conhecer melhor sua próxima leitura, terá para ler?
Dois minutos e vinte e nove segundos é a duração do Book Trailer de Eu, Inabalável. https://www.youtube.com/watch?v=gVi51KswT34. Tu estás satisfeito com a proposta que este vídeo oferece? Ele apresenta tudo o que tu gostarias de mostrar ao teu futuro leitor?
Aproveito para salientar que não sigo tendências ou modismos. Minha razão e, invariavelmente meu coração, são meus mentores aqui na Terra.
Josué Matos: Quem fez o roteiro do book trailer fui eu. Todas as frases e imagens foram escolhidas por mim. Realmente gostaria de ter feito com muito mais recursos e tempo, todavia precisei entender que o mundo está muito rápido e os leitores muito seletivos. Com o pouco tempo que têm, eles reservam para ler os livros, dessa forma, o book trailer deve ser rápido, pois é um meio de seleção de leitores. Me tomo como exemplo, vejo diversos book trailers, confesso que os mais longos não são vistos até o final. Acredito que o book trailer assim como a sinopse, tem objetivos específicos de aguçar a curiosidade do leitor e, para isso, não devem ser muito longos.
“...Para quem gosta de textos concisos, a leitura é bem breve – bom para o leitor brasileiro que não está muito acostumado a ler.” http://www.benoliveira.com/2015/03/resenha-eu-inabalavel-josue-matos-editora-selo-jovem.html
A frase acima, é integrante de uma resenha de Eu, Inabalável. O autor trouxe à tona, uma realidade ou outra lenda urbana?
Josué Matos: Li a resenha e acredito que frase não teve o intuito de ser pejorativa, mas para quem a lê, é impossível não trazer a questão à tona. Existe uma guerra silenciosa entre os ditos leitores e os que leem pouco. Muitos acham que leitor é aquele que lê um livro por semana, e que livro bom é aquele que tem mais de 300 páginas. Tenho uma visão antitradicional de tudo isso. Eu vou no sentido contrário, como leitor assíduo, gosto de histórias que me prendem do inicio ao fim, sou daqueles leitores que quando começam a ler só param na ultima página. Dessa forma, livro para ser meu favorito tem que cumprir esse papel, tendo ele 100, 200 ou 500 páginas. Da mesma forma, acho imprudente e injusto rotular o leitor brasileiro. Se não lemos como outros países é porque a estratégia educacional do país está errada, precisamos inserir literatura simples no inicio da idade escolar. Criar flexibilidade e não impor livros específicos em escolas. Precisamos usar o livro como ferramenta e não como castigo.
Em outra resenha, a personagem Valéria foi enaltecida. http://www.benoliveira.com/2015/03/resenha-eu-inabalavel-josue-matos-editora-selo-jovem.html. Segundo o resenhista, foi caraterizado uma crítica ao sistema policial e judiciário. Foi esta a tua intenção, ou aperfeiçoar um personagem é somente a rotina de um Escritor?
Josué Matos: Acredito que nada em literatura tem apenas um sentido, tudo que é escrito tem múltiplos objetivos. Não foi diferente com a personagem Valéria, ela é o ícone da justiça, e a mesma só é possível com isenção total e a plena certeza dos fatos. Todavia, o processo burocrático e a falta de recursos de nosso sistema policial e judiciário são notórios, portanto, essa questão também é levantada no livro.
A última questão, fica ao teu critério para escrever o que não foi abordado nesta entrevista. As mensagens ou palavras que gostarias de frisar, direcionados aos colegas, editoras, leitores e todos aqueles que de alguma forma, contribuem para o mundo literário brasileiro.
Josué Matos: Gostaria de agradecer ao Elton pelo convite para a entrevista, agradecer a Cristiane Vilarinho e Nell Morato pelo apoio dado aos autores nacionais e a nossa literatura. Por fim, gostaria de passar a mensagem para todos que tem um sonho na vida, acredite e batalhe por ele, não deixe que ninguém te diga que não é possível, pois o que você precisa para conseguir está dentro de você, basta apenas você encontrar.