Eduardo Benetti, segundo ele mesmo:
“Sou um louco. Alucinado. Um romântico perdido em tempos atuais a penas a procura da perfeição. Formado em Educação Física, amante de literatura e boa música. Adepto da sub cultura gótica. Amante de literatura romântica e barroca. Alienado. Perdidamente insano. Talvez seja isso mesmo que sou. Talvez seja verdade o que ouço dizer a meu respeito. Sim, tenho poucos momentos de sanidade, mas isso me faz interessante? Realmente isso não importa. De fato a única coisa que interessa é que desejo o mundo, desejo que todos sintam o que sinto através de minhas palavras. E espero dar o meu melhor!”
A escritora Ceres Marcon entrevista o poeta Eduardo Benetti:
1- Educação Física é uma área um tanto distante da Literatura. Como você descobriu o amor pelas palavras?
Não vejo uma distância tão grande, vejo apenas algo estereotipado pela própria sociedade, fato esse que determinou que todos os profissionais de Educação Física tenham que exclusivamente ser acéfalos, aculturados e que vivam pela cultura do corpo. A poesia está em todo lugar, mas o que nos falta são os olhos e ouvidos para apreciá-la, todavia, em minha vida pude desde cedo tive o prazer de apreciá-la e assim arriscar alguns versos tímidos, algumas escritas tão clichês que eram até engraçadas de ler, mas foi em 2008 que registrei meu primeiro poema, um soneto na realidade, chamado Fim do amor, que retrata a necessidade de um tempo pra si, para reorganizar-se e aprender que amor cura, mas também machuca quando é mal nutrido.
2- Como os alunos reagem ao descobrirem que o professor de Educação Física é poeta?
Ah! Reações. Elas são engraçadas, na maior parte das vezes são até desconexas, talvez por eu ser uma pessoa bem exótica devido minhas tatuagens,estilo de vida, minha predileção pelo Rock Gótico e música Erudita e Clássica, mas a Dicotomia Educação Física/Poesia ainda gera muitas reações inusitadas, sendo a maior parte delas de descrença. Muitos conhecem minhas poesias, mas quando se deparam com quem as escreveu, assustam-se.
Comentários como: “- Mentira que escreve poesia!”; são corriqueiros, mas aos poucos vão se acostumando e tudo fica mais natural.
3- Segundo seu perfil no Recanto das Letras você procura a perfeição. Como você define perfeição? E como você sabe que a atingiu?
Nunca atingirei a perfeição, nunca saberei o que é perfeição. Estamos em constante procura da tal perfeição, mas uma procura falsa e omissa, nós não somos capazes de sair de nossa zona de conforto e eu não sou capaz de sair da minha zona de conforto, tenho medo do sucesso, um ato de autorrepressão. Confesso que não sei definir com exatidão a perfeição por exatamente sermos pessoas imperfeitas e falhas.
Mas imagino que se há perfeição, está ela descrita na poesia divina da criação, de toda e qualquer criação existente neste universo.
4- A Literatura Barroca é cheia de ambiguidades e de figuras de linguagem. Você usa dos temas barrocos em seus textos?
Eu uso muitos destes temas, bom, atualmente quase todos os poetas que tive o prazer de conhecer usam um ou outro elemento barroco. Particularmente eu gosto do misticismo, morte, certo toque de erotismo. Não sigo exatamente a poesia barroca, mas é um deleite poder usar alguns de seus temas para deixar ainda mais elaborados e dar ar de requintes aos meus poemas.
5- Por que essa predileção pelo barroco?
Não digo predileção, pois também tenho uma grande inclinação pelo Ultrarromantismo e pelo Gótico, mas observo a poesia Barroca como um grito necessário para que possa expressar ao mundo a minha visão. Inclusive na antítese tão bem reconhecida nesta poesia, poder ser observado esse grito. Como assim? Principalmente quando abordamos antíteses como a vida material e imaterial, amor e pecado, vida e morte, o ser humano necessita desesperadamente de um ponto de afirmação, precisa crer que é real aquilo que em seu âmago traz como dúvida. Assim vejo a minha predileção ao barroco.
6- Ainda sobre o barroco, qual dos seus textos você escolheria para exemplificar essa preferência?
Não vejo em minhas poesias uma exclusivamente barroca, mas apresentarei um soneto que condensei muitos de seus elementos em sua elaboração:
Suplicantes Urros de Almas Lamuriosas
Pontos de vistas, seres jactantes
Elevam suas almas em pedestais
Sua arrogância, troféu em estantes
Conceitos e posturas sub bestiais
Jorram os espólios doutros tempos
A clamar por verdades insondáveis
Seus urros infernais... o passatempo
Dos inexoráveis seres abissais
Regozijo em entranhas corrompidas
Das súplicas condensadas no além
Lamentam então as chances perdidas
Pérfidos agentes dos vales obscuros
Gargalham alto com tanto desdém
O infindável sofrimento dos perjuros
19/06/2014
7- Você possui mais de quinhentos textos escritos. De todas as modalidades, qual a tua preferida? Por quê?
De todas as modalidades que me aventurei a escrever, eu tenho como preferida o Soneto, não tenho certeza do por que, talvez pelo fato de que em dois quartetos e dois tercetos possa ter em seu conteúdo um mundo fantástico, uma bela história de amor. O Soneto em si é uma forma muito complexa de escrita, eu tenho muita dificuldade em sua elaboração, mas em sua forma livre, não me prendendo tanto à métrica, eu consigo explorar mais o lirismo em minha escrita.
8- Na sua fanpage encontramos muitos poemas. Você mesmo diz que “Página criada para divulgar minhas poesias... Levar um pouco dessa minha insanidade além do horizonte”. O que é insano para você?
A insanidade está em conseguir ser o irrequieto, em ser o difuso, em ser o diferente quando a sociedade prega uma normalidade enojante.
Quando nos submetemos à normalidade, deixamos de pensar por nós mesmos e esquecemos que somos indivíduos únicos, membros apenas de um meio social, que tenta a todo custo definir quem você é através de moda, comportamento, pensamentos. Mas quando há essa insanidade, esta instabilidade, você consegue destacar-se ante a multidão, claro que sempre há um preço; os rótulos, as críticas descabidas, as descrenças e os que tentam incansavelmente trazê-lo à “sua verdade incontestável”. Então, ser insano atualmente é conseguir usar seu cérebro e não submeter-se plenamente aos ditames da sociedade ditatorial.
9- Como você vê o mercado editorial hoje?
“...por algum tempo desisti de escrever; há um excesso de verdade no mundo – uma superprodução que aparentemente não pode ser consumida” Otto Rank.
Essa citação expressa muito bem como vejo o mercado editorial atualmente, há inúmeros autores que tão melhores que eu e estão também sem editora e quando nos arriscamos a enviar algum material para determinado selo, nada tentativa desesperada de contrato, recebemos propostas absurdas, valores totalmente fora das condições de qualquer cidadão.
Mas também vejo que essa postura das editoras se deu por não haver um grande destaque no meio escrito, há inúmeros escritores que tem as mesmas inclinações que as minhas e isso deixa o mercado superlotado e quase impossível de triá-lo.
10- Você já participou de concursos de poesias. Como foi a experiência para você?
Já participei de alguns, mas não gosto dos tais concursos, como disse, se há muitos escritores que têm as mesmas inclinações que as minhas, há também os pseudointelectuais que acreditam piamente que entendem de poesia e/ou qualquer outro escrito, podendo assim julgar.
Claro que há casos e casos, mas sou convicto de que o único capaz de julgar essa ou aquela poesia é o próprio autor, somente ele sabe o que sentiu no determinado momento do nascimento da poesia. Na realidade, toda poesia nasce de um sentimento narcisista e somente após a plena fixação mental da aceitação do nascimento da poesia é que este é apresentado aos olhos do mundo.
11- Gostaria de propor um jogo rápido:
v Uma música – Brave – Josh Groban
v Um autor – Anne Rice
v Um livro – A Negação da Morte
v Um filme – Drácula de Bram Stoker
v Um medo – Deixar de um dia ter medo
v Uma vitória – O reconhecimento de meus escritos em 2014
v Uma tristeza – Lamentar de mãos atadas a dependência química de meu irmão
v Um sonho – Conseguir publicar meu livro
v Uma lembrança – Meu primeiro recital em Dezembro de 2013
v Se pudesse mudar algo do que você é, seria – Minha crítica ácida que às vezes acaba magoando sem realmente querer.
v Musa inspiradora - Minha namorada Juliana Dias
12- Para finalizar, as Mosqueteiras Literárias gostariam de agradecer a você, Eduardo, pelo tempo cedido na realização dessa entrevista e pediríamos que deixasse algumas palavras para os leitores do Mosqueteiras Literáiras.
Fico imensamente feliz pelo interesse em entrevistar-me, agradeço de coração ao Mosqueteiras Literárias não somente pela entrevista, mas por todo o conteúdo literário que apresenta ao público. Levar a literatura ao patamar que levam é algo próximo a um dom divino e que poucas pessoas neste mundo caótico estão dispostas a trabalhar pelo bem da humanidade.
Meus sinceros parabéns a todas as integrantes do Mosqueteiras Literárias e que tenham preenchidas todas as lacunas de tempo de suas vidas por inspirações e devaneios poéticos.
Um até breve, um beijo no coração.
Eduardo Benetti