Entrevista com CLÁUDIA DE VILLAR
Concedida para o FLAL - Festival de Literatura e Artes Literárias
Biografia:
Cláudia Oliveira de Villar é natural de Porto Alegre/RS e atua desde 2000 como professora de séries iniciais do ensino fundamental em escola pública estadual. Possui dez livros individuais publicados, sendo nove para o público infanto-juvenil e participou de três antologias de poesias. Seu último lançamento foi no ano passado (2015) na 61 Feira do Livro de POA-RS, O Mistério do Vento Negro, o segundo volume de uma trilogia juvenil que mistura fantasia com fatos e locais reais. Cláudia também realiza oficinas e palestras para professores, bibliotecários e escritores, como jornalista, atua como colunista do Jornal de Viamão /RS, dos sites Artistas Gaúchos, Almanaque Literário e Homo Literatus.
Entrevista:
R.: Certamente as editoras tradicionais (as que bancam as publicações) são como qualquer estabelecimento comercial, ou seja, visam o lucro. Dessa forma, elas geralmente apostam em escritores já conhecidos (ou nacionalmente ou na cidade em que a obra será lançada). Sendo assim, os escritores principiantes encontram muita resistência em ter seu livro lido para análise pelo editor. Já tive minhas dúvidas se a escolha para a publicação nesses estabelecimentos parte da obra em si e de sua qualidade literária ou do nome do autor. Com esse pensamento, a literatura perde, pois não acontece aí a publicação da obra, mas de uma marca (o autor). Claro que há muitos autores conhecidos nacionalmente que são muito bons, mas não vejo distinção de qualidade entre alguns autores que conheço, sendo uns de renome e outros que poucas pessoas já ouviram falar.
R.: O meio da trama. Em minhas obras, o início é mais descritivo e o final apenas dá cabo às tramas relatadas no meio da narrativa. Sendo assim, o meio da história sempre é mais emocionante. O que leva o leitor a participar mais da obra. Gosto de ter o leitor como “participante” de minhas obras, que elas despertem nesse leitor o desejo de estar lá, naquele local descrito, naquela trama.
R.: A vida real. Como sou professora e escrevo livros infantis e juvenis, tomo como base a realidade dos meus alunos e a partir do contexto observado dou início a uma obra.
R.: Alívio!
R.: Geralmente são acontecimentos do dia a dia. Observo as ações e reações e aliadas a essas emoções e vivências, passo a esboçar, mentalmente, o que quero escrever.
R.: Depende. Se o autor da crítica for uma pessoa que sei que tem condições para fazer a crítica (um escritor que considero “craque” ou uma pessoa que estudou literatura ou um leitor com uma bagagem literária de peso, sim, dou muito atenção e revejo meus escritos. Porém, se é um leitor que você percebe que pouco entende de literatura, que pouco lê, que está ali apenas para importunar, nem dou bola. Temos aqui apenas saber discernir entre críticas (alvo da sua pergunta) e uma opinião de leitores comuns, aqueles que leem sem o compromisso da análise de uma obra. Para esse leitor comum, eu não vejo como crítica, mas como uma opinião e opinião cada um de nós temos a nossa, ela é muito subjetiva e, além do mais, nunca agradaremos a todos.
R.: Foi numa atividade escolar na antiga quarta série do primeiro grau. Minha professora pediu para que todos os alunos escrevessem um livro. Adorei ter esse poder! Nunca mais parei. Claro que, com o tempo, fui estudando e lendo mais para que minha produção tivesse mais qualidade. Para um escritor, a leitura é imprescindível para a qualificação de seu ofício, agregada a cursos de capacitação e atualização.
R.: Sou professora. Fiz Magistério, depois cursei Letras e por fim, fiz duas especializações na área da Educação. Penso que todo o profissional tem o dever que estar sempre estudando sobre a sua área. Como escritora, participo de oficinas, palestras e cursos para melhorar a minha produção escrita. Mas, sem sombra de dúvidas, prefiro ser escritora a ser professora. É uma tristeza não poder viver apenas da escrita.
R.: Geralmente tenho em mente, em primeiro lugar qual a finalidade da minha obra. Após ter essa resposta, parto para o título. Nunca começo a escrever se não tenho o título em mente. É em cima dele que escrevo. Mas já tive obras em que no meio dela eu decidi mudar o título.
R.: Minha personagem principal vem da proposta em que tem a obra. Como escrevo livros para crianças e jovens eu tenho que ter bem claro se eu quero “atingir” principalmente o tema drogas, solidão, medo, etc. A partir daí, vejo se nesse tema, o que caberia mais, uma personagem feminina ou masculina, qual deles atingiria melhor resultado ao final da obra. Utilizo muito animais em minhas obras, pois além de saber que essas personagens ganham maior atenção do público infantil, quero chamar atenção para a causa animal que é uma das minhas bandeiras para a produção literária.
R.: Nossa, são muitas, mas certamente, escrever é a parte mais fácil. Escrever para mim é uma forma de lazer. Alguns gostam de viajar, outros de ir ao cinema e eu gosto de escrever. Mas a partir do livro pronto começam os problemas, desde financeiros (para a publicação), passando pela divulgação (nesse caso eu apelo para as redes sociais) e a venda é, sem dúvida, a parte mais complicada. Ninguém deixa de comer, de vestir ou de beber, mas de comprar livros, sem dúvida, não há dó nem piedade. Se a economia vai mal, comprar livros é dispensável.
R.: Certamente! Eu, sempre que posso (trabalho como professora 40h semanais), participo de lançamentos de escritores e compro seus livros para presentear amigos. Porém, não vejo essa atitude por parte de muitos escritores que veem em seu colega um rival em potencial. A comercialização, divulgação de obras já está tão difícil, e ainda temos que lutar contra escritores que agem assim! Uma lástima. Vejam que em shows musicais, geralmente, um cantor ou banda iniciante é contratada para dar uma “palhinha” na abertura, isso é excelente! Mas não vemos isso no meio literário!