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Crianças Prodígio
Crianças Prodígio

 

 

CRIANÇAS PRODÍGIO

Um grupo de pesquisadores vem realizando experiências e utilizando diversos métodos para despertar a inteligência desde a primeira infância e para verificar se é possível transformar uma criança normal em superdotado ou se os estímulos recebidos na infância influem na inteligência e no temperamento.

 

Talento não se herda.  Após séculos de uma monótona e empobrecida dicotomia sobre a inteligência humana e, em especial, sobre a inteligência dos bebês, especialistas revelam que, para uma criança se tornar mais apta que a média, é preciso que sua capacidade seja estimulada desde o nascimento.  Contudo, é preciso não chegar a extremos.  Não se deve bombardear os filhos com música clássica e jogos que estimulem a inteligência o dia inteiro, nem abandona-los à própria sorte na porta do colégio ou diante da vida, com o pretexto de “já serem grandes”.   O próprio Jean Piaget chegou a dizer: “Sempre me preocupei com os problemas da inteligência e nunca com os afetivos... porque tinha medo.  Minha mãe era psicótica”. Suas palavras servem, na verdade, como uma introdução – sintética e dramática – a um assunto bastante controvertido:  como se estimular o cérebro infantil para aumentar seu rendimento.

 

Sabemos que, quando não são usados, os órgãos se atrofiam.  Sabemos também que as habilidades, tanto as mentais quanto as físicas, são o resultado da interação de nossa herança genética como ambiente em que crescemos, ou seja, o estímulo externo acrescenta-se à motivação interna.  Durante a gravidez, o cérebro em formação cria 250 mil neurônios por minuto.  Cada um desses neurônios dispara um impulso elétrico – fenômeno que na Universidade de Berkeley, nos Estados Unidos, é chamado de “auto discagem” – que servem para ordenar as funções psicofísicas.

 

Segundo os neurobiologistas, como William Greenough, da Universidade de Illinois, ou Mary Beth Hatten, da Universidade Rockfeller, determinadas “janelas” cerebrais se abrem entre a 17ª semana de gestação e os 5 anos de idade.  Essas janelas seriam a chave de uma maior ou menor receptividade da criança às orientações dadas pelos adultos.  Em outras palavras, essas janelas determinam o quanto pais e professores podem influenciar e modelar a mente, a conduta e a expressão de uma criança.

 

A organização americana Head Start defendeu durante décadas métodos para aumentar o quociente intelectual das crianças e fracassou.  Depois de 3 anos, elas esqueciam todos os estímulos precoces que haviam recebido.  Os especialistas faziam com que brincassem com cubos matemáticos, escutassem música pré-selecionada e resolvessem problemas complexos, sem obter nenhum resultado.  Sem receber esses estímulos, as crianças retomavam seus hábitos normais.  Cray Ramey, da Universidade do Alabama, sustenta que é muito importante avaliar a qualidade do estímulo dado a uma criança e não se deve deixar de estimula-la quando se conhece a forma adequada de fazê-lo.

 

Em 1972, foi lançado o Abecedarian Project, com o objetivo de educar crianças de famílias pobres, com idades entre 4 meses e 8 anos.  Para Ramey, “educar” significa falar, explicar, brincar, acompanhar o desenvolvimento de cada individuo, de acordo com sua idade, ou seja, corresponde a aumentar seus conhecimentos e melhorar sua linguagem e sociabilidade, segundo suas próprias possibilidades.  O resultado foi que, ao crescer, os meninos que haviam iniciado seu aprendizado do Abecedarian aos 5 anos não mostraram aptidão maior que seus outros colegas de escola.  Contudo, aqueles que haviam sido educados desde bebês mostraram uma tendência a obter melhores notas no segundo grau.  Se as “janelas” cerebrais se fecharem antes de a criança terminar a escola primária, que esperanças existirão para aquelas cujos pais não se preocuparam em estimular precocemente suas mentes?  “Seria muito bom poder afirmar que nunca é tarde para ser mais inteligente, mas parece que algo muito especial acontece nos primeiros anos de vida”, diz Joseph Sparling, criador do método Abecedarian.

 

Cientistas da Universidade de San Francisco, que tratam do problema crescente do analfabetismo nos Estados Unidos (onde mais de 7 milhões de crianças não sabem ler e falam mal), conseguiram reabilitar, em apenas quatro semanas, adolescentes que estavam vários anos atrasados em sua capacidade linguística e cerebral.  Esses mesmos cientistas afirmam que, em cérebros adultos que sofreram transtornos de aprendizagem, podem ser reconstruídas, com êxito, certas “conexões neurônicas” que se supunham perdidas.

 

Nascemos com um potencial interno que se desenvolverá de acordo com a qualidade, a quantidade e o momento em que essas “conexões” acontecerem.  Então, deve-se ou não estimular a mente infantil?  É preciso tomar cuidado com os excessos, que vez ou outra entram na moda.  Alguns especialistas ficam preocupados com as chamadas “crianças prodígio”, que são pressionadas pelos pais para que se tornem músicos ou matemáticos, quando sua predisposição biológica não é essa.  Por acaso elas já não nascem “gênios” sem necessidade de estímulos precoces?  Os pais que se preocupam demasiadamente em estimular seus filhos não estão tranquilos e acabam transmitindo uma enorme ansiedade e gerando, às vezes, frustrações desnecessárias nas crianças.

 

Para alguns cientistas, a prática da natação, a partir dos 4 meses de idade é um bom estímulo para a mente da criança, porque ativa a motricidade e coordenação motora e ajuda a respiração e o metabolismo.

 

Durante séculos, acreditou-se em conceitos organicistas parciais.  Atualmente, porém, ficou comprovado que todo o cérebro está envolvido em todas as formas de comportamento.  Quando fazemos um movimento, alguns neurônios permanecem em repouso, para não interferir.  Porém, é a relação entre ambos que opera a função.  Em outras palavras, embora a música e a matemática estejam inscritas no hemisfério esquerdo do cérebro e a estética e a intuição no direito, o uso de um significa a interrupção temporária do uso do outro, e não a sua eliminação.  Por exemplo, se pudéssemos ver o cérebro de Einstein trabalhando, veríamos que dez neurônios se ativariam e que os demais permaneceriam desativados.  Se você pedir a uma criança que resolva um problema matemático, verá que todo o seu cérebro se ativa e que, paradoxalmente, ela não consegue fazer as contas.  Isso ocorre porque a função e a economia ainda não estão localizadas e tudo se mistura em seu cérebro.  Ao contrário do que se acreditava, as pessoas mais práticas são as que usam menos neurônios para fazer as coisas.  Assim, um estímulo útil não ensina a acender um grande número de neurônios, mas sim a apagar os que não são necessários no momento.

 

Frank Velluno, professor de psicologia educativa da Universidade Estadual de Nova York, afirma: “Somos o país que mais faz pesquisas sobre os estímulos infantis.  E somos também o que menos dá importância às descobertas que não levem ao resultado que buscamos: a razão, a tecnologia e o rendimento material.” De acordo com Platão, a música é o instrumento de formação mais importante, por seu vínculo com a aritmética e o pensamento abstrato.  “Sem dúvida, a capacitação musical amplia o nível racional da criança.  Contudo, a educação musical é a primeira coisa a ser eliminada do currículo escolar, quando o orçamento está curto”, diz Gordon Shaw, da Universidade Irvine, da Califórnia, onde são feitas experiências com pré-escolares de 3 anos de idade.  Estes, após ouvirem música assiduamente por oito meses, tornam-se especialistas em montar quebra-cabeças complexos e apresentam um quociente de inteligência espacial (habilidade de localizar-se no mundo com precisão) 80% mais alto que outras crianças.

 

Alguns pesquisadores afirmam que o afeto também é importantíssimo.  Para uma criança, não é a mesma coisa aprender com um professor carrancudo ou um afetuoso.  Além disso, é preciso trabalhar sempre com serenidade, para não estimular demais a criança.  Se ela não estiver predisposta, o resultado poderá ser nulo, portanto não se deve insistir até cansa-la.  Para estabelecer suas conexões neurônicas, a fórmula é um bom ambiente e tempo, sem sobrecarrega-la.  É preciso responder a toldas as suas perguntas, instigando naturalmente a sua curiosidade e fazendo o possível para que busque suas próprias respostas.  Se uma criança faz perguntas, é porque percebe diferenças.  Mas não se deve satura-la com respostas, condicionando-a e fazendo-a perder a curiosidade.  É correto ensinar à criança que a uma causa corresponde um efeito. Mas se ela se habitua a necessitar de um efeito para cada causa, vai demonstrar menos tolerância diante da ausência de um efeito.  É preciso ensinar a criança a esperar por um resultado, mas é preciso também ensina-la que muitas das coisas que fazemos não trazem resultados imediatos. As crianças precisam tanto de estímulo quanto de atenção e compreensão. Os pais devem ser incentivados a aprender a escutar seus filhos.

 

Por outro lado, uma criança pode ter sido estimulada corretamente e no momento adequado, mas pode não ter assimilado tudo do modo como foi previsto.  Além disso, talvez lhe tenham faltado os apoios familiares ou sociais de que poderia ter precisado. É sobre essa delicada troca que paira o fantasma da manipulação cerebral, noção que só pode ser explicada analisando-se a ansiedade que certos pais tem em dar a seus filhos conhecimentos “superiores”, a qualquer custo.  O certo é que o simples estímulo cerebral não cria crianças prodígio.  Além disso, os estudos sobre o desenvolvimento da mente e suas potencialidades estão atravessando ainda seus estágios iniciais.  Por isso, o conselho dos grandes especialistas é parcimonioso:  “Dê a seu filho todo o estímulo de que ele precisa, mas só quando ele realmente precisar.  Não deixe passar o momento propício ou você estará  perdendo uma oportunidade única, que provavelmente nunca se repetirá.  O resto é apenas cuidado e muito amor.”

 

NOTAS:

 

A grande “janela” do desenvolvimento das habilidades lógicas e matemáticas abre-se desde o momento do nascimento até os 4 anos.  A MENTE LÓGICA se desenvolve amplamente se a criança, entre 1 e 3 anos de idade, aprende conceitos simples por meio de jogos e ouve música clássica.

 

Conversar muito com a criança desde o primeiro dia de vida, inicia-la no aprendizado de uma língua estrangeira antes dos 10 anos de idade e proteger sua audição, cuidando a tempo das infecções de ouvido e outros tipos de perturbações que afetem essa delicada função.  Esses cuidados contribuem para desenvolver a MENTE LINGUÍSTICA.

 

Dos 3 aos 10 anos, pode-se despertar a MENTE MUSICAL, cantando com a criança ou fazendo-a ouvir canções melodiosas.  Se ela tiver aptidões musicais especiais, esse é o momento adequado de fazê-la aprender a tocar um instrumento.

 

Em matéria de conexões neurônicas, quase tudo é possível, da reabilitação de crianças com problemas de aprendizagem ao estímulo precoce da matemática.

 

O DESPERTAR DO ADOLESCENTE

 

Para que a mente adolescente funcione adequadamente, é necessário respeitar os relógios biológicos e estimular o estudo das artes e a prática de esportes.

 

O dr. Richard Allen, da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, demonstrou estatisticamente que os adolescentes não precisam dormir tantas horas quanto um adulto.  Na verdade, os adolescentes têm “horários” diferentes, ou seja, quer tenham de se levantar às 8 ou às 10 horas da manhã. Podem até mesmo passar toda uma noite em claro e, no dia seguinte, ir para a escola sem problemas.  O segredo estaria em seus “relógios biológicos”.  Essa é a grande falha biorrítmica descoberta por Allen, e também a sua solução.  A princípio, os adolescentes que se levantam mais tarde teriam mais horas de sono e também uma melhor disposição para estudar, o que resulta, geralmente, em melhores notas.

 

Uma reforma educacional modernizante deveria mudar o enfoque dado às artes e à educação física, hoje encaradas apenas como uma recreação entre as disciplinas tradicionais.

 

Fonte:  TUDO – O Livro do Conhecimento

Pesquisa/Postagem por Nell Morato