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O Signo das Tetas: Direção de Frederico Machado
O Signo das Tetas: Direção de Frederico Machado

DRAMA MARANHENSE NARRA JORNADA DE HOMEM PERTURBADO PELA FIGURA DA MÃE.

 

Em O EXERCÍCIO DO CAOS (2013), o cineasta Frederico Machado abordou a opressão familiar em um núcleo formado por um pai e suas três filhas que viviam da colheita de mandioca no interior do Maranhão.  A ausência da mãe era um tema central na narrativa enxuta e silenciosa, algo que se repete em seu segundo longa, estreia desta semana na Cinemateca Paulo Amorim.  Em cartaz na Sala Eduardo Hirtz, O SIGNO DAS TETAS é uma espécie de segundo ato do filme original: acompanha um homem maduro em uma jornada pelo Nordeste profundo, na qual todos os encontros evocam memórias e saudades.  De casa, de suas raízes, de seus amores e, sobretudo, de sua mãe.

 

O SIGNO DAS TETAS tem um prólogo, no qual o protagonista (interpretado por Lauande Alves) observa a mãe se banhando.  Não há especificação de época ou idade – o que não altera o significado da imagem, pelo contrário, indica que a figura dela o atormenta de maneira perene, independentemente de qualquer episódio do passado.  Nos pouco mais de 60 minutos seguintes, ele viaja.  De carro, de bicicleta, a pé.  Não se sabe o que busca, até porque os diálogos não são assim tão frequentes – nem descritivos.  Há uma pista: tudo o que encontra faz aflorar seus desejos. 

 

Festas com danças típicas, sexo intenso com prostitutas, banhos purificadores de rio – a estrada o conduz a experimentar catarses diversas.  A explicação mais óbvia é a de uma tentativa de resolver o próprio Complexo de Édipo, o que também justifica a opção do diretor pelos planos fechados, às vezes com câmera nervosa, a mostrar o corpo inquieto de uma alma passando por provações.  Os melhores momentos do filme, contudo, se dão em seu contato com a natureza, quando a música de Schubert acompanha imagens mais abertas de paisagens deslumbrantes.

 

Uma curiosidade é a participação do poeta Nauro Machado (1935 – 2015), pái de Frederico, no início da trama.  Suas belas palavras, tanto quanto aquelas escritas por Lauande Alves e recitadas pelo seu personagem, dão transcendência à sua jornada existencialista.  É um bom filme O SIGNO DAS TETAS.  Tem aura de difícil por não ter a lógica dos chamados longas narrativos.  Suas associações invariavelmente descomplicadas acabam por demonstrar que a não linearidade da poesia também pode ser acessível.

 

 

 

Fonte:  ZeroHora/Segundo caderno/Daniel Feix (daniel.feix@zerohora.com.br) em 10 de junho de 2016.