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Mate-Me Por Favor: de Anita Rocha da Silveira
Mate-Me Por Favor: de Anita Rocha da Silveira

POR UMA VIDA INTENSA             

 

Após uma trajetória que inclui a estreia mundial no Festival de Veneza e prêmios de melhor direção e atriz no Festival do Rio, agora Anita Rocha da Silveira comemora a chegada de seu primeiro longa-metragem ao circuito comercial.

 

O lançamento de MATE-ME POR FAVOR é a oportunidade de apresentar o trabalho para os jovens – geração que forma todo o elenco do filme e que não é um público muito presente naquele tipo de evento.  Em cartaz desde quinta-feira, o título destaca as consequências de uma série de assassinatos na vida de um grupo de adolescentes cariocas.

 

No enredo, Bia (Valentina Herszage) e suas amigas reagem de formas diferentes quando garotas começam a ser mortas na região da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro.  A protagonista é tomada por uma ânsia por viver e, ao mesmo tempo em que passa por um mergulho interior, testa as possibilidades do seu corpo e do que está a seu redor.  A partir deste recorte, o espectador é apresentado ao cotidiano da garota, que inclui o convívio com as colegas, a constante ausência dos pais e a figura apática do irmão mais velho.

 

Conforme Anita, o longa-metragem dá sequência a um trabalho sobre a juventude – já abordada por ela em três curtas, como OS MORTOS-VIVOS, selecionado para a Semana dos Realizadores no Festival de Cannes de 2012.  “O segundo, HANDEBOL, tem questões que também aparecem no MATE-ME, como impulsão, morte e desejo”, compara a cineasta.  “Muito da energia da Bia, essa vontade de viver intensamente, experimentar tudo através do corpo, partiu um pouco da morte de uma amiga minha, que cometeu suicídio quando eu tinha uns 20 anos”, revela.

 

Durante a narrativa, apesar dos acontecimentos, os protagonistas podem ser vistos caminhando em terrenos baldios, testando a ideia de perigo.  Conforme a diretora, essas imagens fazem alusão à natureza da adolescência frente à realidade em que os estudantes estão inseridos.  Se por um lado o ato de percorrer distâncias a pé em um período onde pessoas estão sendo assassinadas é quase um ato de rebeldia, por outro é uma maneira de sentirem-se mais independentes.  “É um bairro para as pessoas andarem de carro ou ônibus”, contrapõe a realizadora.

 

Em um ritmo próprio, com enquadramentos frontais e música marcante, MATE-ME POR FAVOR flerta com a fantasia, mas também toca em temas como a cultura do estupro – através do medo das garotas -, especulação imobiliária e o crescimento das igrejas evangélicas.  “A plateia na Europa, por exemplo, acha que a parte que envolve a igreja é uma grande invenção minha...  Às vezes os debates giram em torno da trama e dos dilemas da personagem”, aponta ela, sobre a repercussão do filme.  “Já no Chile, eles têm uma visão quase como a daqui, de sacar tudo”, completa, referindo-se a questões culturais.

 

Exibido na mostra Orizzonti do Festival de Veneza, o filme teve suas atuações reconhecidas.  A crítica independente destacou um prêmio de melhor interpretação em conjunto para Valentina Herszage, Dora Freind, julia Roliz, Mariana Oliveira – que compõem  o núcleo central do enredo.  !A única certeza que eu tinha era o Bernardo Marinho (que faz o papel do irmão de Bia).  Ele é o maduro do filme, mas tinha uns 25 anos quando rodamos”, lembra a realizadora.

 

“Elas foram escolhidas através de testes, e era muito importante que as garotas tivessem a idade das personagens”, explica Anita, que fez anúncios em redes sociais e escolas de teatro.  A fim de preparar as selecionadas, recomendou que assistissem a títulos como AS VIRGENS SUICIDAS, de Sophia Coppola; PARANOID PARK, de Gus Van Sant; e L’APOLLONIDE – OS AMORES DA CASA DE TOLERÂNCIA, de Bertrand Bonello.

 

Passada a divulgação de MATE-ME POR FAVOR, que ainda incluiu exibição em um festival norte-americano no mês de novembro, a cineasta já tem duas outras novidades nos planos: o desenvolvimento de uma série e o roteiro do seu segundo longa-metragem, também com a produtora Bananeira Filmes e com elenco jovem.

 

 

  

 

Fonte:  Jornal do Comércio/Caderno Viver/Ricardo Gruner em 18/09/2016.