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Entre Idas e Vindas: de José Eduardo Belmonte
Entre Idas e Vindas: de José Eduardo Belmonte

AMIZADE EM MOVIMENTO

 

COMÉDIA “ENTRE IDAS E VINDAS” CHEGA AOS CINEMAS COM TRAMA SOBRE DESCOBERTAS DE AMIGAS EM VIAGEM.

 

José Eduardo Belmonte traça uma carreira peculiar no cinema brasileiro.  O diretor paulista radicado em Brasília foi apresentado assinando incisivos projetos autorais como SUBTERRÂNEOS (2003) e A CONCEPÇÃO (2005).  Seu terceiro longa, MEU MUNDO EM PERIGO, chegou a ficar engavetado por distribuidores que o avaliaram como excessivamente sombrio.

 

O mais recente projeto de Belmonte, ENTRE IDAS E VINDAS, estreia desta semana nos cinemas, ilustra uma guinada de rumo que o diretor deu após encerrar, com o premiado SE NADA MAIS DER CERTO (2008), o que define ter sido um processo de catarse.  Quer, desde então, dialogar com o público que, para o cinema nacional, tem se mostrado refratário a tudo que escape do recorrente modelo da comédia popular.

 

ENTRE IDAS E VINDAS é um típico road movie, aquele em que a jornada na estrada resulta em um processo de transformação de seus protagonistas.  O tom é da comédia dramática.  Conta a história de quatro amigas que embarcam em um motor home para curtir as praias do litoral paulista.  Na viagem, cruzam com um pai e seu filho pequeno, que viram seu carro velho não aguentar o tranco quando rumavam para São Paulo ao encontro da mãe do garoto.

 

O elenco destaca a presença de Ingrid Guimarães, atriz que atrelou seu nome aos blockbusters cômicos do cinema nacional, outros dois nomes bem conhecidos, Fábio Assunção e Alice Braga, e duas parceiras do diretor em projetos anteriores, Carol Abras e Rosanne Mulholland.  Quem vive o menino é o surpreendente João Assunção, filho de Fábio, estreando diante da câmera.

 

- Este é um projeto antigo, da época de A CONCEPÇÃO – explica Belmonte, atendendo ao telefone no set de seu próprio trabalho, CARCEREIROS, minissérie para a TV adaptada do livro homônimo de Drauzio Varella ainda sem previsão de estreia. – Mas demorei para achar o tom do filme que finalmente encontrei com a (roteirista) Cláudia Jouvin.  Depois tinha a logística complicada de filmar tudo em locação.  E ainda juntar em um mesmo período um elenco que atua quase todo o tempo junto em cena.

 

A narrativa coloca o grupo em situações pitorescas e ilumina em primeiro plano o romance que pinta entre Amanda e Afonso, personagens de Fábio e Ingrid, e o dilema de Sandra, vivida por Alice, que está às vésperas de se casar com o noivo infiel.

 

Belmonte diz que sua inspiração para ENTRE IDAS E VINDAS, que chega ao circuito com 350 cópias, foram as comédias de mestres italianos como Dino Risi e Mario Monicelli:

 

- É difícil estabelecer essa dialética entre o humor e o drama.  É um processo que tenho tentado amadurecer para um público muito particular que é o brasileiro.  Os americanos chamam esse tipo de cinema agridoce de “feed good movie”.

 

Essa tentativa de compreender o gosto do público fez Belmonte, por exemplo, evitar a homenagem a um de seus filmes favoritos, GAVIÕES E PASSARINHOS (1966), de Pier Paolo Pasolini, um anárquico road movie estrelado pelo comediante Totò, no qual toda a sorte de liberdade geográfica é tomada – em ENTRE IDAS E VINDAS, a jornada tem como suposto ponto de partida Goiânia, embora a rota seja praticamente toda pelo litoral.

 

- Não brinquei com essa confusão porque achei que as pessoas não iam entender o nonsense da proposta – diz Belmonte.

 

Sobre a presença de Ingrid como chamariz de público, o diretor comenta:

 

- A parceria que comecei a ter com atores conhecidos é muito importante para esse tipo de aposta que faço dar certo.  Gosto de combinar trajetórias diferentes.

 

ENTREVISTA COM INGRID GUIMARÃES

 

Como você entrou no projeto de ENTRE IDAS E VINDAS?

Esse projeto foi escrito pelo Belmonte e pela Cláudia Jouvin, uma parceira antiga minha no quadro da modelo Leandra Borges que fiz no Fantástico.  Há muito tempo queria fazer outro tipo de filme, encarar outro processo de produção.  Então, a Cláudia disse que ia me indicar ao Belmonte para um papel diferente do que eu vinha fazendo.  É um outro caminho que estou buscando para minha carreira.  Cresci muito nesse filme.

 

E como foi o trabalho com o José Eduardo Belmonte?

Sou muito fã do filme dele SE NADA MAIS DER CERTO.  Quando vi, disse que um dia queria trabalhar com Belmonte.  Ele prepara um filme como se fosse uma peça de teatro.  ENTRE IDAS E VINDAS foi rodado em 14 dias.  Ensaiamos um mês e meio e, quando fomos filmar, estávamos muito prontos.  As relações entre os personagens são muito naturais, uma espontaneidade que vem desse processo de ensaio.  Nunca tinha vivido isso.  Todo mundo topou trabalhar por pouco dinheiro.  Virou um processo muito amoroso.

 

Que recepção espera do público que assistir ao filme esperando por uma das comédias populares que você costuma estrelar?

ENTRE IDAS E VINDAS é um tipo de filme que não tem muito no Brasil.  É uma comédia, mas também uma história dramática.  Estou numa militância muito grande para mostrar para o meu público que existe um outro tipo de filme que não seja o blockbuster.  Aliás, deixei de fazer blockbuster para fazer esse porque é importante para mim, para o cinema e para o mercado, que pode ver o chamado filme médio também como projeto comercial.

 

Você é uma das produtoras do filme.  Esse é um caminho que também pretende seguir?

A vida inteira me produzi no teatro, para poder escolher o que faço.  E, no cinema, estou indo para o mesmo caminho.  Virando produtora posso viabilizar projetos mais autorais.  No ENTRE IDAS E VINDAS entrei como produtora depois das filmagens, para captar dinheiro para a finalização.

 

Quais são seus próximos projetos no cinema?

Em setembro, estreia a adaptação de uma comédia argentina que fez muito sucesso, UM NOVIO PARA MI MUJER (de 2009, chamado no Brasil UM NAMORADO PARA MINHA ESPOSA).  Trabalho com dois atores que não fazem muita comédia, o Caco Ciocler e o Domingos Montagner.  A diretora Julia Rezende e eu somos coautoras da adaptação, e incorporamos na trama o trabalho que o Domingos faz com o seu circo popular.  É uma comédia sobre a dificuldade de se separar depois de 15 anos de casamento.  Em outubro, começo a filmar um projeto voltado para adolescentes, FALA SÉRIO, MÃE!, adaptação do livro de Thalita Rebouças que faz muito sucesso com esse público.  Em 2017, vou produzir e estrelar meu primeiro filme dramático, LEMBRANDO DE MIM, com direção de Laís Bodanzky, sobre uma mulher que perdeu a memória de 10 anos de sua vida.

 

 

Fonte:  Zero Hora/Marcelo Perrone (marcelo.perrone@zerohora.com.br) em 22 de julho de 2016.