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Hector Babenco: Um Cineasta Iluminado
Hector Babenco: Um Cineasta Iluminado

UM CINEASTA ILUMINADO

 

ARGENTINO HECTOR BABENCO PROJETOU CINEMA BRASILEIRO E REFLETIU SOBRE OS DRAMAS DO PAÍS QUE ADOTOU.

 

Havia “algo de selvagem” no humor de Hector Babenco, disse o ator William Dafoe em entrevista a ZH, no lançamento de MEU AMIGO HINDU (2015).  Neste longa que acabou sendo o filme-testamento do cineasta morto quarta à noite (13/07), aos 70 anos, Dafoe interpretava um personagem inspirado no próprio Babenco.  A trama lembrava sua jornada de superação ao tratar um câncer linfático, duas décadas atrás.  Salvo, na época, por um transplante de medula, o diretor nascido na Argentina teve uma parada cardíaca enquanto “se recuperava de um procedimento simples”, conforme sua assessoria.  Estava em São Paulo, cidade que escolheu para morar ainda na juventude.  Mais do que tornar pública essa jornada, MEU AMIGO HINDU permitiu conhecer a autoironia que marcou toda a trajetória do artista.  Há amargura no filme, o que já se podia verificar em CORAÇÃO ILUMINADO (1996), outro título de tintas autobiográficas – a história, coescrita por Ricardo Piglia, era a de um homem que voltava a Buenos Aires após duas décadas distante das origens.  Vale lembrar que, radicado no Brasil, Babenco alcançou projeção internacional com PIXOTE: A LEI DO MAIS FRACO (1981),foi cooptado por Hollywood para realizar O BEIJO DA MULHER ARANHA (1985), IRONWEED (1987) e BRINCANDO NOS CAMPOS DO SENHOR (1991), retornando justamente com CORAÇÃO ILUMINADO, o primeiro longa após a batalha contra o câncer nos anos 1990.

 

Mais do que desterritorialização, o cineasta sempre falou sobre abandono.  PIXOTE talvez seja o mais icônico dos filmes sobre o tema realizados no Brasil.  A célebre pietá da prostituta interpretada por Marília Pêra e o menor abandonado Fernando Ramos da Silva, em seu ato final, é uma imagem que vale por uma filmografia inteira.  Há ligação entre o menino e o personagem-título de LÚCIO FLÁVIO, O PASSAGEIRO DA AGONIA (1977), o outro grande trabalho de seu início de carreira: os personagens marginais o interessavam especialmente.

 

PIXOTE foi premiado nos festivais de Locarno e San Sebastián e indicado ao Globo de Ouro.  Abriu as portas de Hollywood para o cineasta, que chegaria ao auge com a indicação ao Oscar obtida por O BEIJO DA MULHER ARANHA – por sinal, o longa que levaria Sonia Braga à meca do cinema.  O câncer forçou seu afastamento.  O recomeço se deu na América do Sul, mesmo que IRONWEED, com Jack Nicholson e Meryl Streep (ambos indicados ao Oscar), e BRINCANDO NOS CAMPOS DO SENHOR, com Tom Berenger e Aidan Quinn, tenham ido bem tanto de público quanto de crítica nos Estados Unidos.

 

CARANDIRU (2003) é uma espécie de filme-síntese dessa carreira: tem a grandiosidade das produções de Hollywood e a atenção aos homens e mulheres esquecidos pela sociedade.  Pena que, em uma galeria de grandes realizações, tenha sido justamente este exemplar do que se costuma chamar de “filme menor”.

 

10 FILMES PARA CONHECER A OBRA DE BABENCO

 

O REI DA NOITE (1975)

O primeiro longa de ficção de Babenco apresenta Paulo José como um homem que busca na boemia resposta para suas angústias.

 

LÚCIO FLÁVIO, O PASSAGEIRO DA AGONIA (1977)

Reginaldo faria protagoniza a cinebiografia do famoso criminoso carioca.

 

PIXOTE: A LEI DO MAIS FRACO (1981)

O filme da consagração internacional de Babenco traz Fernando Ramos da Silva como um menor abandonado.  Indicado ao Globo de Ouro.

 

O BEIJO DA MULHER ARANHA (1985)

A história da relação entre um prisioneiro político e um homossexual preso por “comportamento imoral”.  Com Raul Julia e William Hurt (vencedor do oscar).

 

IRONWEED (1987)

Jack Nicholson e Meryl Streep interpretam dois alcoólatras que desenvolvem uma relação de afeto entre si.

 

BRINCANDO NOS CAMPOS DO SENHOR (1991)

Épico rodado na Amazônia sobre a jornada de missionários junto a tribos locais.

 

CORAÇÃO ILUMINADO (1998)

Após 20 anos ausente, homem volta a Buenos Aires para visitar o pai doente e reencontra seu primeiro amor.

 

CARANDIRU (2003)

O cotidiano do maior presídio da América Latina pelos olhos do médico que realiza um trabalho de prevenção à aids no local.

 

O PASSADO (2007)

Um tradutor convive o trauma da morte da ex-namorada enquanto tenta refazer a vida junto a uma nova família.  Com Gael García Bernal.

 

MEU AMIGO HINDU (2015)

Cineasta diagnosticado com câncer terminal se submete a um transplante de medula óssea, sua última esperança.  Com Willem Dafoe e Bárbara Paz.

 

Fonte:  Zero Hora/Daniel Feix (daniel.feix@zerohora.com.br) em 15 de julho de 2016.