O ALMANAQUE: DO ORIENTE À PROVÍNCIA DE SÃO PEDRO
O almanaque trazia a língua das cidades e dos campos em que caía. Assim toda terra possuiu no mesmo instante, os primeiros almanaques […] Todos tinham almanaques. Nem só elas, mais também as matronas e os velhos e os rapazes, juízes, sacerdotes, comerciantes, governadores, fâmulos, era moda trazer o almanaque na algibeira. Machado de Assis (1839-1908)
O almanaque possui uma origem remota, que antecede aos tipos móveis e metálicos de Gutenberg. Trazido do Oriente para o Ocidente, no final da Idade Média, o mais antigo foi encontrado no Egito Antigo, datando do século 13 a.C. Na Europa, tornou-se conhecido graças aos astrólogos árabes, Segundo o historiador Jacques Le Goff, em sua obra HISTÓRIA E MEMÓRIA (1996), o primeiro almanaque surgiu, na Europa, por volta de 1455.
O termo almanaque deriva, segundo alguns autores, de al-manakh, referindo-se ao local onde os árabes nômades se reuniam para orar e relatar as experiências de viagens ou notícias de outras terras.
No Brasil, os almanaques chegaram por meio de publicações contrabandeadas da Europa, já que a coroa portuguesa proibia a circulação de impressos na colônia. Após a chegada da Família Real, em 1808, e a instalação da Imprensa Régia, estabeleceu-se uma imprensa local com o lançamento dos primeiros periódicos e a instalação de tipografias particulares.
O Almanach para a Bahia, lançado, em 1812, na Tipografia de Manoel Antônio da Silva Serva, foi o primeiro a ser impresso no Brasil. De acordo com o padrão europeu, tinha a função também de calendário. A publicidade nas páginas ajudava a despertar o interesse. Enquanto nos jornais predominavam textos, os almanaques eram repletos de imagens. Isso deve ter contribuído para o seu sucesso, pois, gravuras atrativas e explicativas conquistavam o expressivo número de analfabetos da época. Segundo a escritora e professora Jerusa Pires ferreira, o êxito se atribui também ao fator econômico, pois se utilizavam de papel de baixo custo, com anúncios custeando sua produção.
No nosso Estado, em 1808, sob a responsabilidade de Manoel Antônio de Magalhães, surgiu, na forma manuscrita, devido à ausência de uma tipografia local, o pioneiro Almanaque da Vila de Porto Alegre. Ainda no século 19, dois almanaques, entre outros, aqui se destacaram: o Anuário da Província do Rio Grande do Sul (1885-1914) e o Almanaque Literário e Estatístico do Rio Grande do Sul. Ambos fazem parte do acervo do Museu da Comunicação, dirigido pelo museólogo Welington Silva.
O Anuário foi um grande sucesso editorial. Por muitos anos, foi responsabilidade do positivista Graciano Alves de Azambuja, que ocupou o cargo de diretor-geral da Instrução Pública do Rio Grande do Sul e dirigiu a Escola Normal de Porto Alegre e a Biblioteca Pública do Estado do Rio Grande do Sul. Publicado na Capital por Gundlach & Cia, contou com importantes autores gaúchos, como joão Simões Lopes Neto, cujas poesias ali publicadas, constituíram-se na fonte do seu famoso Cancioneiro Guarca (1910). A partir de 1896, nosso primeiro cronista, Antônio Álvares Pereira Coruja, também colaborou. Em 1892, foi rebatizado com o título Almanaque do Estado.
O importante Almanaque Literário e Estatístico do Rio Grande do Sul (1889-1917) totalizou 29 edições. Finalizado na Tipografia da Livraria Americana, em Rio Grande, por Carlos pinto & Cia Sucessores, seu organizador foi Alfredo Ferreira Rodrigues, membro fundador da Academia Rio-Grandense de Letras e membro do Instituto Histórico e geográfico do RS. Visando à divulgação cultural, literária e ao entretenimento, é uma excelente fonte de pesquisa.
Colaboração de Carlos Roberto Saraiva da Costa leite, pesquisador e coordenador do setor de imprensa do Museu da Comunicação HJC.
Fonte: Zero Hora/Almanaque gaúcho/Ricardo Chaves (almanaque@zerohora.com.br) em 05/05/2019