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Fundação Alfred Nobel
Fundação Alfred Nobel

VISITA AO LEGADO DE ALFRED NOBEL

 

Bem no Centro da cidade histórica de Estocolmo fica Gamla Stan, o bairro histórico, hoje transformado em zona turística. No alto da colina está a sede da Academia de Ciências da Suécia e, nela, a Fundação Alfred Nobel, responsável pelo mais famoso conjunto de prêmios que se outorgam anualmente a pesquisadores, estudiosos e personagens que se destacam na política em prol da paz, sendo o prêmio mais famoso deles o Nobel de Literatura.

 

O andar térreo do prédio constitui o museu e a memória, tando da fundação, quanto do prêmio, podendo ser visitado. Há visitas guiadas, mas, de modo geral, todo o material está escrito, tanto em sueco quanto em inglês. Mais ao fundo do prédio, sempre ocorre uma exposição temporária. Nos dias em que lá estive, havia uma relativa a Martin Luther King. A mostra trazia documentos originais relativos a ele e sua família, filmes de época e incluía conferências por ele realizadas.

 

Os prêmios Nobel foram criados a partir do testamento de Alfred Nobel, falecido em 1895, para as categorias de Física, Química, Fisiologia ou Medicina, Literatura e Paz. Alfred Nobel foi filho de um industrial sueco que se estabeleceu em algum momento em São Petersburgo, na Rússia. Enriqueceu, faliu, mas quando decidiu retornar à Suécia, onde retomou a vida, Alfred já andava por conta própria.

 

Com ampla formação química e humanista, em suas pesquisas, descobriu a nitroglicerina e, mais tarde, a dinamite. Com isso, fez avançar em décadas as possibilidades de obras de infraestrutura pesada, como estradas de ferro e de rodagem. Diques e outras iniciativas deste porte. O preço foi caro: numa de suas fábricas, a nitroglicerina explodiu e matou mais de 200 pessoas, dentre as quais um de seus irmãos. A pesquisa, por isso mesmo, enfatizou ainda mais a questão da segurança para tais explosões, chegando ao princípio do detonador, hoje prática absolutamente corriqueira, contudo, na época, revolucionária. Nobel enriqueceu, mas nunca casou nem constituiu família. Assim, ao morrer, deixou parte da fortuna a irmãos e alguns colaboradores mais diretos e o restante decidiu doar para uma fundação que anualmente outorgaria prêmios a pesquisadores de determinadas áreas de conhecimento cujas descobertas ajudassem o progresso da humanidade.

 

 

HISTÓRIA E CRITÉRIOS

 

O testamento estabelece que os dois primeiros prêmios são decididos pela Academia Sueca de Ciências; os de Fisiologia e Medicina, pelo Instituto Karolinska, de Estocolmo; o de Literatura, pela Academia de Estocolmo e o da Paz, por um comitê formado por cinco pessoas escolhidas pelo Parlamento da Noruega. Em 1969, foi instituído o de Economia, pelo Banco Nacional da Suécia, a partir das comemorações de seus 300 anos de existência. O Prêmio foi criado “em memória de Alfred Nobel”.

 

Os critérios gerais que embasam os prêmios foram assim resumidos pelo próprio Nobel: 1) Aquele que tenha promovido o maior benefício à humanidade; 2) Pesquisas durante aquele ano; 3) Não se deve prestar atenção a nenhum tipo de pertencimento nacional; 4) O que, na literatura, tenha produzido o mais excelente; 5) Em um sentido ideal.

 

Estes princípios se aplicam ainda hoje. Em que pese todos os prêmios terem reconhecimento internacional, nenhum deles é mais prestigiado do que o de Literatura. Para ele, criou-se todo um ritual. Vale para ele o que vale para todos os demais, sobretudo que o homenageado esteja vivo e que tenha condições de participar das cerimônias, inclusive pronunciando conferência magistral alguns dias antes da entrega do galardão propriamente dito, viajando, depois, pelo país e realizando conferências em universidades variadas. Mas a Literatura implica o idioma, melhor, os talvez milhares de idiomas existentes na terra e, assim, exige todo um calendário especifico, religiosamente cumprido.

 

RITUAIS RÍGIDOS

 

Para o prêmio ser atribuído, há que o escritor receber ao menos 12 votos do comitê, em declarações seladas e secretas. Mas só se chega a isso depois de extensa jornada. A indicação de candidatos ocorre a partir de instituições universitárias e literárias de todo o mundo, tanto quanto a partir dos próprios premiados anteriores. De modo geral, um escritor entra na lista dos finalistas (cinco), mais de uma vez, até ser finalmente o indicado. Há um princípio geral, ainda que não escrito, de que o novato na lista de finalistas nunca é o indicado daquele ano. Isso ocorre graças a uma série de debates que o comitê realiza, ao longo do processo.

 

As indicações ocorrem no outono europeu. Os nomes devem ser registrados até antes de 1 de fevereiro. Em geral, a primeira listagem alcança cerca de 200 sugestões. O Comitê reúne-se, em geral, por três vezes, durante a primavera, e em abril chega a uma listagem de cerca de vinte nomes. Esta redução se dá, seja porque muitas indicações são repetidas, seja porque outras já ocorreram antes, o que facilita sua avaliação. Em fins de maio, o comitê chega a uma listagem de cerca de cinco nomes. Em meados de setmbro, começam as reuniões finais. Ao longo de algumas semanas, sucedem-se debates em que cada membro do comitê apresenta posições e as justifica. Quando se percebe haver um certo consenso, é então marcada uma reunião formal, que ainda assim pode durar um dia inteiro, ou mais de um, em que, enfim o comitê toma sua decisão, sendo que pelo menos 12 votos devem estar dirigidos a um mesmo candidato.

 

Como nas demais categorias, o prêmio pode ser dividido, mas a quantia a ser entregue permanece igual, o que significa que ela será dividida, reconhecendo-se, contudo, a qualidade dos autores e a relação entre suas obras. Há também a possibilidade de o prêmio não ser outorgado, coo ocorreu no ano passado. No período da II Grande Guerra, por exemplo, ao longo de quatro anos o Nobel de Literatura não foi concedido a nenhum escritor. Ao longo da história do Prêmio Nobel de Literatura houve motivos e tendências que foram se modificando, conforme também mudaram as composições dos comitês, com integrantes falecendo e sendo substituídos por outros. De modo geral, valoriza-se a perspectiva dos temas, a contribuição à renovação formal da Literatura, a inclusão de novas comunidades com suas características e identidades etc. Mais recentemente, o prêmio começou a dirigir um olhar para espaços não-europeus, valorizando hispano-americanos e asiáticos.

 

Indicado o premiado, a decisão da Academia deve ser mantida em segredo por seus integrantes. Comunica-se ao premiado, marca-se a data de sua visita para a recepção – a data ideal é 10 de dezembro, data da morte de Alfred Nobel – organiza-se a programação. Há também um ritual muito formal nestas cerimônias, o que depois se desdobra, nos anos seguintes, com promoção de estudos e ciclos de debates a respeito de temas e valores que venham a ser revelados pelos agraciados.

 

 

A SALA DE EXPOSIÇÕES E O LEGADO

 

Os salões de visita da Academia de Ciências, dedicadas ao Prêmio Nobel, estão organizadas com alta tecnologia. O visitante digita tokens que apresentam dados variados sobre cada premiação, nas diferentes áreas. No teto, num corredor eletrônico, milhares de fichas, com os mesmos dados de cada agraciado, correm por uma esteira aérea e formam uma espécie de guarda-chuva protetor para o visitante. Objetos pessoais dos destacados, ao longo dos anos, demonstrações simplificadas das descobertas que levaram cientistas a serem reconhecidos, gravações de parte dos discursos dos premiados, completam o material. A área não é fisicamente grande, mas a tecnologia permite que, num local relativamente exíguo, esteja reunido um conjunto de informações verdadeiramente significativas. Assim, a gente pode verdadeiramente avaliar o significado dos Prêmios Nobel para a humanidade.

 

Fonte: Jornal do Comércio/Caderno Viver/Antonio Hohlfeldt (a_hohfeldt@yahoo.com.br) em 27/01/2019