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Fake News: Medidas do Facebook São Deficientes
Fake News: Medidas do Facebook São Deficientes

AÇÕES CONTRA FAKE NEWS AINDA NÃO SÃO EFICIENTES

Segundo especialistas, medidas anunciadas para combater notícias falsas não têm garantido resultados satisfatórios, e conteúdos ofensivos devem continuar sendo propagados em plataformas como o Facebook

 

Depois de muito evitarem a tomada de medidas para combater a disseminação de notícias falsas, argumentando que não são empresas de comunicação e que ações desse tipo não caberiam a elas, as maiores redes sociais do mundo se renderam ao fato de que seu grande alcance, conectando pessoas do mundo todo, vem há anos sendo para espalhar problemas – e que isso precisa ser combatido, sim, pelas próprias redes sociais. As estratégias utilizadas, porém, nem sempre têm garantido resultados satisfatórios.

 

No Facebook, maior rede social do mundo, com mais de 2,2 bilhões de pessoas, reportagens publicadas por veículos tradicionais de imprensa como The Guardian e The New York Times associam a troca de mensagens entre usuários à eclosão de uma crise humanitária em Mianmar – com o discurso de ódio online contribuindo para a expulsão de mais de 650 mil refugiados do país –, a dezenas de mortes na Índia – a partir de rumores acusando pessoas inocentes de promoverem sequestros de crianças – e as crises sanitárias, com informações falsas sobre vacinas levando à volta de doenças já quase erradicadas.

 

— Essas plataformas deveriam ser responsáveis por prevenir a disseminação de informações falsas e embustes por vários motivos. Porque quem promove esse tipo de ação geralmente o faz em grupos. Porque são essas redes sociais, com seus algoritmos, que podem prevenir bolhas de informação com potencial nocivo. Porque elas têm acesso total aos dados que podem contribuir para identificar fake news. E porque deveriam ter uma responsabilidade ética de gerenciar a circulação e a qualidade das informações que armazenam – diz a indonésia Ika Karlina Idris, doutora em Comunicação pela Universidade de Ohio (EUA) e pesquisadora do impacto da internet na sociedade.

 

Em entrevista à CNN no ano passado, o CEO do Twitter, Jack Dorsey, afirmou que a plataforma não deveria ser “árbitra da verdade” sobre o que é divulgado por seus usuários. Mas outras redes sociais já atentaram para a importância de trabalharem no combate às notícias falsas.

 

Os esforços mais recentes do Facebook para evitar essa propagação foram consolidados no início deste ano. Foi quando a rede social anunciou mudanças nas regras para as páginas, passando a identificar publicações consideradas potencialmente incorretas e que, em razão disso, passaram a ter seu alcance reduzido. Outra medida anunciada foi a fiscalização mais rígida de autores de páginas removidas, além de um controle maior permitido aos administradores.

 

BASTA “REMOVER, REDUZIR E INFORMAR”?

 

Medidas como essas sinalizam maior transparência na remoção de conteúdos, mas ainda são “tímidas” e podem “não fazer muita diferença”, na avaliação do mestre em Direito e pesquisador do Instituto Beta Paulo Rená.

 

— O Facebook não parece mais disposto a ouvir a comunidade. Com isso, devemos continuar vendo problemas, falsos positivos, conteúdos legítimos removidos e conteúdos ofensivos mantidos online a despeito de protestos na própria rede – avalia Rená.

 

Há alguns anos, a maior rede social do mundo começou a implementar em toda sua “família de apps” – que inclui, além do Facebook, também Instagram e Messenger –, uma estratégia denominada “remover, reduzir e informar”. Consiste em remover os posts que violam diretamente a política desses sites, reduzir a visibilidade de conteúdos que, mesmo dentro das normas, têm pontos de atenção, e informar melhor usuários sobre conteúdos sensíveis, para diminuir as chances de que sejam agentes e vítimas de notícias falsas.

 

Ao expor, em março, sua visão estratégica para transformar o Facebook nos próximos anos, seu CEO, Mark Zuckerberg, garantiu que a empresa está caminhando para se tornar uma plataforma “focada na privacidade” e concentrada na confidencialidade.

 

Quando penso no futuro da Internet, penso que uma plataforma de comunicação focada na privacidade será muito mais importante que as plataformas abertas atuais”, considerou Zuckerberg.

 

A procuradora-geral de Nova York anunciou na quinta-feira (25 de abril) uma investigação sobre a coleta sem autorização de bases de dados com contatos de 1,5 milhão de usuários do Facebook. Letícia James afirma que a rede social pode ter obtido de forma inapropriada dados de “centenas de milhões” de pessoas. Conforme o jornal The Washington Post, Zuckerberg pode ser considerado responsável pelos casos de quebra de privacidade que envolveram a rede social nos últimos anos.

 

Mesmo essa intenção de garantir mais privacidade aos usuários, contudo, é alvo de críticas. A mudança rumo à troca de conteúdo com maior privacidade em uma plataforma com 2,2 bilhões de pessoas e longo histórico de problemas também causa preocupações.

 

— Essa mudança torna mais difícil para quem está por fora entender o que está acontecendo no Facebook. A desinformação é compartilhada entre usuários largamente através de serviços de mensagens privadas – argumenta Rasmus Nielsen, professor de Comunicação Política na Universidade Oxford.

 

O próprio Zuckerberg abordou essa preocupação, afirmando, em sua página, que encriptar as conversas é uma poderosa ferramenta de proteção online, mas que isso também pode ser usado por pessoas mal-intencionadas, e que a empresa precisaria adotar outras medidas para prevenir danos em potencial.

 

Arthur Igreja, especialista em tecnologia e inovação da Fundação Getulio Vargas (FGV), atribui tamanhas idas e voltas, acertos e erros, a uma “crise de identidade” da rede social:

 

— É difícil identificar o que é o Facebook: uma rede de relacionamento, um portal de notícias, um grande classificado de ofertas. A própria empresa não sabe seu papel. E as pessoas também ficam sem entender direito.

 

VERIFICADORES CHECAM INFORMAÇÕES PUBLICADAS

 

Em 2016, o Facebook deu início ao seu programa de checagem de informações. Foi um mês após a eleição de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, quando a disseminação de notícias falsas atraiu a atenção para a rede social e para a sua falta de atitudes a respeito. A iniciativa, que envolve 43 organizações ao redor do mundo, trabalhando em 24 línguas, consiste em utilizar ferramentas desenvolvidas pela empresa de Mark Zuckerberg para conferir conteúdo que foi marcado, por usuários ou pelos algoritmos da rede, como potencialmente falso.

 

Os verificadores conferem as informações, eventualmente produzindo até um “artigo explicativo”. Usuários que tiverem compartilhado notícias falsas recebem notificações, e a publicação perde força no feed do Facebook. ZH conversou com um brasileiro que participa desse programa. Ele afirmou que a iniciativa é eficaz, mas tem alcance limitado – e o orçamento disponível para pagar os verificadores estaria diminuindo.

 

— Essa parceria é importante, mas seria preciso ir além. Nosso impacto, sem maior incentivo e visibilidade por parte do Facebook, é bem restrito – descreve um dos verificadores, que assinam contratos exigindo sigilo sobre sua identidade e funções. Ainda assim, houve avanços: em fevereiro, o Facebook comemorou o resultado de um estudo conduzido por pesquisadores das universidades de Michigan, Princeton Exeter e Washington identificando que o consumo de notícias falsas na plataforma tem diminuído desde as eleições de 2016 nos Estados Unidos. Outras três pesquisas, de instituições diferentes e com outras metodologias, também apontaram redução no volume de notícias falsas circulando no Facebook.

 

Apesar de nos sentirmos encorajados por esses estudos, sabemos que a desinformação é algo altamente contraditório e estamos comprometidos ao nosso papel no esforço de longo prazo que combater as notícias falsas vai exigir”, afirmou a rede social, em nota.

  

ESCÂNDALOS ENVOLVENDO A GIGANTE DE ZUCKERBERG

 

Fevereiro de 2018

Tribunais na Alemanha e na Bélgica decidiram que o Facebook falhou em manter a privacidade de usuários da rede e não os informou de maneira apropriada sobre os dados que coletava para fins de publicidade.

 

Um teste que apareceu na linha do tempo prometendo revelar como as pessoas seriam se fossem do sexo oposto permitiu que a empresa russa responsável pelo desenvolvimento do software não só acessasse fotos, mas também vários outros dados do perfil dos usuários, incluindo e-mail, lista de amigos e padrões de navegação. Foi também da autorização para que a empresa transformasse esses dados pessoais em mercadorias, negociando-os com outras companhias, que poderiam explorá-los a seu bel-prazer.

 

Março de 2018 

A empresa britânica de marketing Cambridge Analytica é suspeita de ter recolhido e usado ilegalmente dados pessoais de 87 milhões de usuários do Facebook, para influenciar no pleito presidencial dos Estados Unidos e ajudar na eleição de Donald Trump. O vazamento de dados também teria influenciado o Brexit, um acordo de “divórcio” entre Reino Unido e União Europeia.

 

Abril de 2018

Mark Zuckerberg, CEO do Facebook, sentou por quase cinco horas diante dos congressistas dos Estados Unidos para dar explicações sobre o uso indevido de dados e esclarecer a acusação de que essas informações tenham interferido na eleição de Donald Trump à residência. O presidente do Facebook explicou que a empresa estava fazendo auditoria para descobrir se havia outros casos de transferência imprópria de dados e alertou que a rede social está mais “proativa” desde a revelação do caso.

 

Setembro de 2018

Nova falha de segurança do Facebook afetou 30 milhões de perfis. Segundo a rede social, os hackers acessaram as contas de cerca de 30 milhões de pessoas e roubaram nome e detalhes de contato de 29 milhões. Os hackers acessaram detalhes como nome de usuário, gênero, localidade/idioma, status de relacionamento, religião, cidade natal, data de nascimento, dispositivos usados para acessar o Facebook, educação, trabalho e os últimos 10 locais onde estiveram ou em que foram marcados.

 

OFENSIVAS CONTRA NOTÍCIAS FALSAS

 

Facebook 

— Com uma estratégia chamada “remover, reduzir e informar”, o Facebook passou a tentar combater melhor as fake news após as eleições americanas de 2016.

 

— Fazendo uso de seus algoritmos e denúncias de usuários, além dos funcionários da própria rede social, o objetivo é tornar fake news menos virais.

 

— A empresa também trabalha com verificadores (fact Checkers) em diversos países, que conferem posts altamente compartilhados e agem, caso verifiquem a publicação de notícias faltas.

 

— O usuário responsável pela publicação de fake news tem o alcance de seu post limitado. Casos recorrentes levam a notificações, e a conta pode ser banida.

 

Instagram 

— Com medidas tímidas, a rede social, de propriedade do Facebook, concentrou-se em garantir mais informações sobre as contas com alto número de seguidores.

 

— A intenção é verificar a legitimidade dos usuários, incluindo dados como data de ingresso, país, nomes de usuário anteriores, entre outros.

 

— O Instagram também passou a verificar contas, como o Twitter já fazia, incluindo um símbolo de “verificado” ao lado de contas comprovadamente vinculadas a pessoas públicas.

 

WhatsApp

— O aplicativo limitou de 20 para cinco o número de vezes que uma mensagem pode ser encaminhada a cada vez.

 

— A empresa, também parte do Facebook, garante banir milhões de robôs e contas dedicadas a enviar spam mensalmente.

 

— Outra medida anunciada foi a opção de permitir que só administradores enviem mensagens em grupo.

 

Fonte: Zero Hora/Sua Vida-Redes Sociais/Guilherme Justino (guilherme.justino@zerohora.com.br) em 28/04/2019.