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Sai Prá Lá, Assédio.
Sai Prá Lá, Assédio.

SAI PRA LÁ, ASSÉDIO.

Catharina Doria se sentiu agredida por uma cantada inconveniente e reagiu:  lançou um aplicativo para mulheres denunciarem investidas desse tipo.

 

 

No ano que vem, a turma de Catharina Doria vai embarcar para Cancún na aguardada viagem de formatura.  Mas a estudante de 17 anos escolheu não ir.  Em troca, fez um pedido para a mãe:  investir o valor do pacote em um aplicativo em que as mulheres pudessem registrar caso de assédio nas ruas do Brasil.  O motivo?  A vontade de fazer alguma coisa depois de ficar com medo e sem ação diante da investida de um homem que a perseguiu na rua, perto de sua casa, em São Paulo.

 

Em 3 de novembro, nasceu o SAI PRÁ LÁ, app que busca, por meio de denúncias, mapear as zonas e os horários que concentram mais situações de assédio no país para motivar campanhas e ações preventivas.  Mal começou e já foi um sucesso: até o início desta semana, o aplicativo já contabilizava mais de 12 mil registros e 50 mil downloads de todos os Estados – a maioria de São Paulo, Rio de janeiro e Rio Grande do Sul.  E ainda de países como Estados Unidos, Alemanha, França, Argentina e Suíça.  Não à toa, Catharina tem planos de expandir:  busca patrocínio para uma versão em inglês do aplicativo.

- Quando o SAI PRÁ LÁ tiver mais visibilidade, vamos construir um ambiente mais seguro – avalia.

 

Ao topar investir no aplicativo, a mãe de Catharina fez um alerta à filha:  não valia se arrepender depois e querer de volta a viagem a Cancún.  Arrependimento?  Nem pensar!

- Abdiquei de algo que eu queria para ajudar as pessoas – diz Catharina. – Foi uma escolha e estou bem satisfeita.

 

Comunidade no Facebook:  https://www.facebook.com/appsaiprala/?fref=ts

 

ENTREVISTA

Como a indignação de um assédio que você sofreu nas ruas se transformou em um aplicativo?

Há quatro meses, em um dia em que tinha dado tudo errado, eu tinha um monte de trabalho da escola para entregar, um cara começou a me acompanhar na rua.  Ele ficou, me chamando de linda, gostosa, falou que queria me levar para casa.  Fiquei pensando no que poderia falar para ele, mas não falei nada.  Depois, fiquei pensando por que não tinha respondido:  por medo.  Fiquei com isso na cabeça.  Aí, perguntei para a minha irmã mais velha “E se eu criasse um aplicativo que denunciasse o assédio?”.  Ela achou a ideia genial, mas disse que eu nunca iria correr atrás disso.  Então, mandei um e-mail para um amigo que é desenvolvedor e para outra que é designer.  Falei que não tinha dinheiro, só uma ideia.  Eles toparam me ajudar.

 

E como tem sido a repercussão?

As pessoas acharam legal.  Meus professores e colegas me param no corredor e dão parabéns.  Todos estão muito orgulhosos de mim.  Tive pouquíssimos comentários negativos em formato anônimo – a maioria é bem bacana.  Mas tem comentários tipo “Vou te estuprar”.  Na primeira noite, quando fiz a besteira de ler, fiquei bem assustada.  Eu não estava acostumada com aquilo, sou uma pessoa normal que apareceu na mídia.  Agora, leio só para rir, não me assusta mais.  Sei que não vou agradar a todos.  Só quero fazer diferença, então esses comentários negativos não me abalam.

 

Como você pretende encaminhar os registros desses assédios?

Em um primeiro momento, a gente quer chocar a população, porque os dados são chocantes.  Um fato que está me assustando bastante, por exemplo, é ter muito assédio ao redor de faculdades e instituições.  Mas temos de esperar um tempo para poder dizer as áreas mais perigosas.  E daí podemos ir a Brasília e ver o que se pode fazer:  campanhas contra o assédio, leis mais específicas, fazer palestras nos colégios...

 

Falta discutir temas como assédio em sala de aula?

Com certeza.  Meu aplicativo e outras campanhas por aí buscam podar o assédio, mas não mudam a situação na raiz, que seriam crianças desde pequenas aprendendo sobre violência contra a mulher nas escolas.  Estamos cortando os galhos, não a raiz.

 

Você começou a trabalhar neste aplicativo há quatro meses.  Nesse meio tempo, a discussão sobre o assédio ganhou força no país.

É um momento bacana, as pessoas não estão mais ficando quietas.  E tem muito a melhorar e para correr atrás.  Estou muito feliz por fazer parte disso e de, apesar de ter só 17 anos, já ter impactado a sociedade.

 

O APLICATIVO

O SAI PRÁ LÁ é gratuito e está disponível para Android e iOS.  Em breve, deverá sair uma versão para Windows Phone.

Em caso de assédio, a usuária clica, informa o assédio, detalhando o endereço e o horário, se foi abordada de forma verbal, física, sonora (buzina, aplausos, etc), entre outras.

O Rio Grande do Sul está entre os Estados onde mais queixas foram registradas.  O ranking é liderado por São Paulo e Rio de Janeiro.

 

DENÚNCIAS DE ASSÉDIO

Confira quantos registros de assédio o SAI PRÁ LÁ recebeu desde sua estreia, em 3 de novembro, até o fechamento desta edição (Revista Donna):

— 7,06 mil verbais

— 2,61 mil sonoros

— 1,51 mil indefinidos

— 1,08 mil físicos

 

Fonte:  Revista DonnaZH em 22/11/2015