A MULHER DO FUTURO
Encontrar o equilíbrio entre vida amorosa, liberdade individual e dedicação ao trabalho não é tarefa fácil para as mulheres de hoje. Para aquelas que viveram no Brasil do século 19, era então algo praticamente inimaginável. Em um tempo do qual se casar significava abrir mão de suas escolhas para se subordinar a um marido e se dedicar ao lar, poucas eram as moças que entravam na vida adulta buscando independência. Mas havia exceções. Uma delas é a protagonista de UM MAPA TODO SEU, livro que Ana Maria Machado autografa em evento para convidados hoje, na Escola Projeto, em Porto Alegre.
O novo romance histórico da autora carioca, que tem mais de cem livros lançados e é imortal da Academia Brasileira de Letras, trata de um perfil feminino marcante na história brasileira: Eufrásia Teixeira Leite, empresária que multiplicou a riqueza da família investindo no mercado financeiro e em tecnologias. Ana Maria faz sessão de autógrafos da obra para convidados hoje, na Escola Projeto, em Porto Alegre.
Depois de perder o pai aos 22 anos, Eufrásia resiste aos apelos da família para ficar no país e arrumar um marido, partindo para a Europa, onde prospera nos negócios. No amor, já não tem o mesmo sucesso. Ela se apaixona por Joaquim Nabuco, figura essencial para o fim da escravatura no Brasil, mas também muito conhecido em seu tempo como um dândi mulherengo – e ainda por cima membro de uma família politicamente rival à de Eufrásia.
No livro, o clima é de intimidade. Eufrásia é Zizinha, e Joaquim, Quincas. O eixo narrativo é o amor impossível entre os dois. A jovem é sobrinha do barão de Vassouras, inimigo político do pai de Quincas, o senador Nabuco de Araújo. Na Europa, eles conseguem consumar seu amor, mas sempre com idas e vindas. No entanto, o maior impedimento à felicidade do casal não era a inimizade entre as famílias, e sim a dificuldade de estabelecer uma relação em que Eufrásia não perdesse a liberdade, e, ao mesmo tempo, Joaquim não se sentisse ameaçado pela independência dela.
O texto não pretende ser completamente fiel ao passado histórico. Principalmente nas primeiras partes da narrativa, que contaram com menos documentação para a pesquisa, a ficção se faz mais presente – o próprio texto alerta o leitor de que há versões diferentes para um ou outro acontecimento. O resultado é um início com bons arroubos literários, carregado de descrições e diálogos, mas as expectativas criadas vão murchando ao longo da leitura. Esse esvaziamento ocorre porque a história do próprio casal é bastante irregular – as “idas e vindas” citadas acima – o que acaba por gerar um romance fragmentado. Apesar disso, UM MAPA TODO SEU tem a virtude de resgatar a vida de uma personagem à frente de seu tempo e transpor de modo convincente o ambiente da época para a literatura.
UM MAPA TODO SEU de Ana Maria Machado – Romance, Alfaguara, 224 páginas.
Fonte: ZeroHora/Mundo Livros/Alexandre Lucchese (alexandre.lucchese@zerohora.com.br) em 29 de abril de 2016.