ESCANDINÁVIA, VERDADES E MITOS
OS ESCANDINAVOS (Editora Contexto, 240 páginas), de Paulo Guimarães, embaixador do Brasil na Dinamarca, obra que aproxima escandinavos de brasileiros, mostra outra Escandinávia, mais verdadeira e quase desconhecida.
Sempre pensamos nos países nórdicos como a terra do papai Noel, das lindas mulheres loiras, dos méritos da democracia e da igualdade, da riqueza e dos altos padrões de bem-estar. Guimarães, diplomata de carreira entre os anos 1970 e 1980, estudou e residiu em Estocolmo. Trabalhou nas embaixadas brasileiras no Uruguai, Holanda e Noruega, onde se ocupou das relações com a Islândia. Casado com uma sueca, tem três filhos e defendeu tese sobre a Noruega, publicada pela Fundação Alexandre de Gusmão.
Os escandinavos têm herança cultural comum, lendas, costumes, religiosidade luterana, vocação marítima e os rigores do clima, na terra onde o inverno parece durar o ano todo. Esta certa uniformidade é temperada por variações locais. Nórdicos não são iguais. Há uma diversidade de tipos físicos, idiomas e hábitos culturais que extrapolam a unidade histórica e climática.
Obra deliciosa, de linguagem acessível, fala sobre o homem e a mulher escandinavos, os sete meses de inverno e os dois de verão, o sentido da coletividade, o milagre nórdico, a social-democracia e a terceira-via, os altos impostos, a herança viking, o Prêmio Nobel, as aventuras marítimas, a incrível história do navio de guerra sueco Vasa, as festas, o lazer e a cultura, a gastronomia nórdica e os escandinavos no Brasil.
Os escandinavos foram pioneiros em descriminalização do aborto, em reconhecimento da união estável fora do casamento e em campanhas feministas. Neutralidade e pacifismo são marcas suas, mas conflitos e episódios de resistências existiram durante a Segunda Guerra e a Guerra Fria.
Nem tudo é perfeito. Na Escandinávia, o índice de suicídios é alto, sem estar entre os maiores do mundo. O consumo de bebidas alcoólicas é semelhante ao de outros países.
O leitor verá como uma das regiões periféricas da Europa se desenvolveu, como as monarquias convivem com a social-democracia, como as comunidades puritanas romperam as convenções do amor e da sexualidade e o que será da religiosidade e refletirá sobre problemas de comportamento da população derivados do bem-estar e das tensões causadas pela imigração.
Sobre o modelo nórdico, Guimarães diz que ele nos serve como inspiração ou utopia, mas não é manual de instruções. Verdade. Nórdicos têm muito a dizer e ensinar sobre educação, política, ética, cultura, igualdade e alimentação. Escandinavos têm de 10% a 15% de obesos entre adultos; na Grã-Bretanha, o índice chega a 25%; e, nos Estados Unidos, a 35%. No Brasil, em torno de 20% e 60% têm sobrepeso. Temos que adaptar as lições nórdicas.
Fonte: Jornal do Comércio/Jaime Cimenti (jcimenti@terra.com.br) em 28/8/2016.