TODOS QUEREM LER MOISÉS
Compilação de crônicas do jornalista Moisés Mendes reúne textos escritos entre 2014 e 2016, a maioria publicados em ZH
Não poderia haver melhor notícia, neste ano. Terrível da graça de 2016, do que o lançamento do Livro do Moisés. Que os editores Denise Nunes e Flávio Ilha, da Diadorim Editora, não levem a mal: TODOS QUEREM SER MUJICA é um belíssimo título para a sua primeira publicação, mas não vai pegar. Todos, a começar por esse resenhista, vão chamá-la de Livro do Moisés. Ou de O Livro do Moisés. Essa seleção de escritos de Moisés Mendes foi aguardada demais para se ficar com melindres.
E por mais longa que tenha sido a espera, nada poderia ter preparado o leitor para essa seleção de 60 crônicas escritas entre 2014 e 2016, a maioria publicada em Zero Hora. Compreende-se o recorte temporal: correspondente ao período em que o autor foi mais assíduo nas páginas do jornal, primeiro como interino de Paulo Sant’Ana e depois ocupando uma coluna ao lado dos editoriais durante a semana e na penúltima página aos domingos. Também coincide com o biênio mais turbulento da recente história brasileira, tema pelo qual Moisés sempre demonstrou civil obsessão.
A escolha das crônicas ressalta a amplitude de interesses e o espectro de visão do cronista. Ele vai da Ciclovia de Ipanema do presente à Calle Florida da virada do século, passando pelo Alegrete de sua juventude (Moisés, como se sabe, é rosariense, mas escavações arqueológicas às margens do Ibirapuitã podem trazer novas evidências) e pela Cidade do México visitada via Google Earth em companhia de Flávio Tavares. Escreve sobre literatura, economia, ciência, história, globalização, diásporas, Grêmio, Gisele Bündchen e muito mais. Fixa-se, antes de tudo, na cena, na passagem ou no detalhe capazes de evidenciar o que há de humano em meio ao prosaico e ao dramático.
Moisés é, antes de tudo, jornalista. Suas crônicas acabam por compor uma profissão de fé no ofício que elegeu em 1970, aos 17 anos. É com a autoridade de quem viver aqueles tempos que ele ensina: “Há momentos em que tudo o que o jornalista não pode fazer é encolher-se no distanciamento de aparentes neutralidades, como nas situações em que golpistas usam as ruas e a internet para pedir a volta da ditadura”. A omissão, para esse homem de jornal, é o maior dos erros.
As crônicas do Livro do Moisés estão entre o que ele produziu de melhor nesse formato. Mas, como diz o professor de Jornalismo Alexandre Elmi, do autor há muito mais para ser lido, visto e ouvido: a obra do repórter, do entrevistador, do comentarista, do editor. Uma parte dessa produção está acessível em seu blog (www.blogdomoisesmendes.com.br), mas certamente logo virão outros livros. Afinal, todos queremos ler Moisés.
Fonte: ZeroHora/Luiz Antônio Araujo (luiz.araujo@zerohora.com.br) em 18/10/2016.