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A Sociolinguística: Variação e Mudança nas Línguas
A Sociolinguística: Variação e Mudança nas Línguas

 

A SOCIOLINGUÍSTICA: VARIAÇÃO E MUDANÇA NAS LÍNGUAS.

 

BREVE RESUMO: SAUSSURE

 

Saussure – língua é social: unifica a comunidade já que compartilhamos o mesmo sistema linguístico.

       Ênfase ao caráter social ou institucional dos sistemas linguísticos.

       Insere a Linguística no contexto mais amplo das ciências sociais: Linguística como sendo mais próxima da sociologia ou da psicologia social.

  • Língua é homogênea, e a fala é heterogênea.
  • A heterogeneidade da fala não pode ser explicada pela Linguística. 

 

BREVE RESUMO: CHOMSKY

A língua é um processo  cognitivo.

       O primeiro objetivo da língua é expressar o pensamento; a segunda função é a social. Assim, a Linguística está mais perto da psicologia cognitiva.

  • A competência linguística não é o sistema linguístico, mas o conhecimento que os indivíduos têm desse sistema. Esse conhecimento é o  mesmo para todos os indivíduos e é puramente linguístico.
  • O desempenho é variável e não pode ser estudado pela Linguística.

 

No Gerativismo, vimos que, apesar de todos os seres humanos nascerem dotados de uma capacidade genética, desenvolvemos a língua a que fomos expostos quando criança. Nós, nascidos no Brasil e criados por pais brasileiros, desenvolvemos a Língua Portuguesa. A questão é: a Língua Portuguesa é utilizada da mesma maneira por todos os seus falantes nativos? Quais diferenças podem ser observadas?

 

Veja alguns exemplos que ilustram a nossa realidade linguística:

“Ai, que blusinha bonitinha!”

“Mas guri, o que tu estás fazendo?”

“Vixe, que carro arretado!”

“Como é a sua graça?”

“Fala, brou. Tá ligado?”

 

Os exemplos apresentados ilustram a nossa realidade linguística. Ao observarmos as pessoas, em situações reais de comunicação, perceberemos que a língua falada é heterogênea e diversificada. No entanto, por que será que, apesar de tanta heterogeneidade, conseguimos nos entender? Será que podemos usar a língua de uma maneira aleatória e arbitrária? Vamos refletir sobre isso com a Sociolinguística.

  

A Sociolinguística é uma corrente da Linguística que tem como objeto de estudo a língua.

“Para essa corrente, a língua é uma instituição social e, portanto, não pode ser estudada como uma estrutura autônoma, independente do contexto situacional, da cultura e da história das pessoas que a utilizam como meio de comunicação.” (CEZARIO, Maria Maura & VOTRE, Sebastião. Sociolinguística. In: MARTELOTTA, Mário (Org.) Manual de Linguística. São Paulo: Contexto, 2009) em uso real, relacionando a estrutura linguística e aspectos extralinguísticos do indivíduo que a utiliza, tais como sexo, idade, escolaridade, região em que vive, nível de escolarização etc. Por isso, tem como foco principal a questão da variação linguística.

 

Como a Sociolinguística Começou?

 

As correntes teóricas vigentes no início do século XX, Estruturalismo e Gerativismo, não demonstraram preocupação com a variação linguística, pois não tinham como objeto de estudos a fala. Saussure a desprezava devido ao seu caráter individual e heterogêneo.

 

Chomsky, por sua vez, utilizava os dados fornecidos pelo desempenho apenas como um caminho para entender mais a competência linguística.

 

Embora a preocupação com a variação linguística tenha surgido por volta de 1930, o termo “sociolinguística” surge pela primeira vez em 1950 e passa a designar uma importante corrente linguística em 1960, com a influência de alguns autores, dentre eles, William Labov.

 

Como foco a chamada “Sociolinguística Variacionista” ou “Teoria da Variação”, proposta por William Labov, nos Estados Unidos, na década de 1960. Labov foi o responsável por destacar a importância dos fatores sociais na explicação da variação linguística. Seus estudos reforçavam a ideia de que havia uma regularidade por trás do aparente “caos” da realidade do uso linguístico. Para ele, a Linguística possui um caráter social. Por isso, em suas análises, o linguista não deve abstrair a língua de seu uso real, uma vez que o indivíduo a desenvolve e dela se utiliza para poder viver em sociedade.

 

Fenômenos Inerentes às Línguas do Mundo: Variação e Mudança Linguística

Todos nós vivemos em uma sociedade e já sabemos que isso só é possível porque dominamos o mesmo sistema linguístico. Nós somos “linguistas natos” (embora muitas pessoas não tenham ainda parado para pensar nisso), pois somos capazes de tecer algumas considerações sobre o nosso sistema linguístico com muita propriedade.

 

 

Heterogeneidade como foco: formas de igual valor de verdade.O que significa “igual valor de verdade”?

a)      a gente x nós;

b)      as casas azuis x as casaØ azul Ø.

A heterogeneidade linguística pode e deve ser explicada.

            

Por exemplo, conseguimos distinguir enunciados que não fazem parte da nossa língua (“The book is on the table.”), identificar sentenças que não foram bem estruturadas (“Menino o vi eu.”), reconhecer diferentes pronúncias (“m/é/nino”, “m/ê/nino”, “m/i/nino”) etc.

 

O mais interessante é que tudo isso independe do nosso nível de escolarização. Indivíduos com pouquíssima ou nenhuma escolarização são capazes de perceber quando duas pessoas são “estrangeiras” ao ouvi-las conversar, o que mostra seu reconhecimento do que faz ou não parte da língua que fala.

 

ESCRITA: MODELO PARA A GRAMÁTICA NORMATIVA

  • Língua não é representação gráfica da escrita:  escrever não é “imitar a fala” e sim reformular a fala em outra gramática.
  • Fala não é subproduto da escrita.
  • Escrita possui maior prestígio social na nossa cultura: escrita não serve como fator de identidade grupal. Nossa cultura é grafocêntrica.
  • Reflexão: o homem é um ser que fala ou ser que escreve?

 

A nossa atuação como “linguistas” nos possibilita perceber que a Língua Portuguesa não é falada da mesma maneira por todos os indivíduos em todas as regiões do Brasil. Também sabemos que o modo como a nossa língua é utilizada hoje não é igual ao modo como era utilizada no século passado. Por quê?

 

A língua é essencialmente dinâmica. Segundo a Sociolinguística, devemos entender que a variação e a mudança linguísticas são fenômenos inerentes às línguas.

 

No entanto, essa percepção não é percebida pela maioria dos indivíduos. É comum ouvirmos algumas pessoas comentarem que “a nossa língua está piorando”, “a nossa língua está sendo deturpada” etc. Há pessoas que dizem que os brasileiros são muito criativos e gostam de “inventar” novas formas linguísticas. Ainda há aqueles que dizem que os brasileiros são preguiçosos e, por isso, mudam o modo como as palavras são pronunciadas.

 

Todavia, é preciso ter em mente que a variação e a mudança não são fenômenos exclusivos da Língua Portuguesa. Todos os sistemas linguísticos apresentam esses dois fenômenos. Pode-se usar como exemplo desse fato a Língua de Sinais Brasileira (LIBRAS), que, apesar de ser uma língua visoespacial, é um sistema linguístico como qualquer outro e, por isso, apresenta a variação linguística.

 

Os Sotaques dos Sinais (Rachel Bonino)

Paola Ingles Gomes cursa a 8ª série em São Paulo em uma tradicional escola municipal para deficientes auditivos no bairro da Aclimação, a Helen Keller. Como outros colegas adolescentes, costuma ir à festa junina promovida pelo Instituto Santa Teresinha, um evento que virou referência entre estudantes surdos de todo o país.

 

Paola conversava com um amigo de outro estado numa dessas comemorações anuais quando, entre risos, sinalizou que ele era um "palhaço", um tolo. O sinal usado indicava uma bola no nariz, assim como usam os palhaços. O rapaz não entendeu a "gíria" e coube a Paola indicar o contexto da palavra, por meio de outros sinais.

 

Casos assim se repetem a cada interação entre deficientes auditivos de regiões diferentes, mas que adotam a mesma gramática gestual adotada pela LIBRAS, sigla para Língua de Sinais Brasileira. Nesse universo sem sons, há gírias, regionalismos e até mesmo o que podemos chamar de sotaques. (Adaptado do artigo Os sotaques dos Sinais. Revista Língua Portuguesa.

 

É importante destacar que toda mudança pressupõe variação, mas a existência de formas em variação não implica a ocorrência de mudança. Vamos ilustrar com o pronome “você”. Sabemos que o “você” vem do pronome de tratamento Vossa Mercê. A trajetória de mudança pode ser assim descrita:

 

Vossa Mercê > vosmecê > vossuncê > suncê > você > cê.

Você acha que a mudança de “vossa mercê” para “você” aconteceu do dia para a noite?

 

Não! Ao longo do processo de mudança, provavelmente as formas coexistiram, ou seja, havia, na mesma época, indivíduos que produziam “vossa mercê”, enquanto outros, “vosmecê”. Podemos comparar o processo como uma luta de boxe. Há duas formas “lutando”, ou seja, coexistindo em um sistema linguístico, até que uma delas “vença” a luta e passe a existir sozinha.

 

Em uma língua, para que a mudança seja efetivada, há etapas em que a forma linguística passa por um processo de variação e, nesse caso, as formas coexistem até que uma delas caia em desuso e a outra continue sendo utilizada. Atualmente, no português brasileiro, percebemos a utilização, em alguns contextos, das formas “você” e “cê”. Por enquanto, as duas formas não são intercambiáveis em todos os contextos.

“você”

 e

“cê”.

 

Podemos produzir: “Você vai lá?” ou “Cê vai lá?”, mas não “Cê e o João vão lá?”, que seria um enunciado agramatical. Por isso, não podemos dizer se o “você” vai deixar de ser utilizado a favor do “cê”.

 

Tipos de variação linguística: geográfica (ou diatópica), social (ou diastrática), e de registro (ou diafásica).

 

VARIAÇÃO E MUDANÇA

Toda mudança pressupõe variação, mas a existência de formas em variação não implica a ocorrência de mudança: a língua só muda se os falantes absorvem a mudança.

       O item em variação não pode ser estigmatizado:

  • TU no sul do país x VOCÊ;
  • tá x está;
  • Nós fomos NO Maracanã x nós fomos AO Maracanã;
  • FRamengo x FLamengo;
  • Eu vi ELE x Eu O vi;
  • Peixe x pexe; homem x home;
  • Alguém lavou os pratos x os pratos foram lavados; apareceram três homens x três homens apareceram.

  

Com a Sociolinguística, foi possível estabelecer alguns tipos de variação linguística. Destacaremos, aqui, três tipos básicos:

 

a)     Variação geográfica (ou diatópica) – está relacionada a diferenças linguísticas que ocorrem em função do espaço físico.

Relacionada a diferenças linguísticas que ocorrem em função do espaço físico.

               Exemplos.

               a) Brasileiros e portugueses.

               Trem x combóio; prêmio x prémio; Lá não vou x Não vou lá.

               b) Brasil: nordeste e sudeste.

               Vogais médias pré-tônicas abertas x fechadas;

               Posposição verbal da negação (“sei não” (nordeste) x “não sei; não sei não” (sudeste).

 

Veja abaixo exemplos de variação geográfica:

Exemplo: Português Brasileiro (PB) e Português Europeu (PE)

Vejam, em (1), um trecho da edição brasileira do livro O diário de um mago de Paulo Coelho e, em (2), da tradução portuguesa.

 

"Tirou de dentro uma garrafa de vinho, tomou um gole e me estendeu. Enquanto eu bebia, perguntei quem era o cigano. (....)

- Você não está me respondendo. Vocês dois se olharam como velhos conhecidos. E eu tenho a impressão de que conheço ele também (....)"

 

"Tirou de dentro uma garrafa de vinho, tomou um gole e estendeu-ma. Enquanto bebia, perguntei quem era o cigano. (....)

- Não estás a responder-me. Ambos se olharam como velhos conhecidos. E tenho a impressão de que também o conheço (....)"

 

 

b)      variação social (ou diastrática) – são as variações percebidas entre grupos socioeconômicos. Compreende os seguintes fatores: idade, sexo, profissão, nível de escolarização, classe social.

 

 Variação social. Variações percebidas entre grupos socioeconômicos. Compreende os seguintes fatores: idade, sexo, profissão, nível de escolarização, classe social.

             Forte estigma = marca socialmente.

             Exemplos.          

             Uso de dupla negação: “ninguém não viu”; “eu nem num gosto”.

             “Brusa”; “grobo”; “estrupo”; “probrema”.

 

Veremos agora um exemplo de variação social.

O trecho de Paulo Mendes Campos ilustra a questão da variação em função da idade dos indivíduos:

"Outro dia um senhor de cinquenta anos me falava da mãe dele mais ou menos assim:

- Se há alguém que eu adoro neste mundo é minha mãezinha. Ela vai fazer 73 anos no dia 19 de maio. Está forte, graças a Deus, e muito lúcida. Há 41 anos que está viúva, papai, coitado, faleceu muito moço...(...)

Deu-se que no mesmo dia encontrei um rapaz de 18 anos, que contou mais ou menos assim:

- Velha bacaninha é a minha. Quando ela está meio adernada, mais prá lá do que prá cá, ela ainda me dá uma broncazinha. Bronca de mãe não pega, meu chapa. Eu manjo ela todinha: lá em casa só tem bronca quando ela encheu a cara demais. A velha toma prá valer!..."

 

c)       variação de registro (ou diafásica) – observa-se, neste tipo de variação, o grau de formalidade do contexto comunicativo ou do canal utilizado para a comunicação (a fala, o e-mail, o jornal etc.)

 

 Observa-se, neste tipo de variação, o grau de formalidade do contexto comunicativo ou do canal utilizado para a comunicação (a fala, o e-mail, o jornal etc.)

Exemplo.

Juiz jogando bola na praia e no exercício de suas funções no tribunal.

 

Língua brasileira

 

O Brasil tem dessas coisas, é um país maravilhoso, com o português como língua oficial, mas cheio de dialetos diferentes.

 

No Rio/ Em Minas/ No Nordeste

 

A PESQUISA SOCIOLINGUÍSTICA.

 

O sociolinguista busca demonstrar que a variação é sistemática e previsível.

             A pesquisa sociolinguística tem como objeto de estudo o uso da língua falada em situações naturais de comunicação.

             Faz-se uma pesquisa que busca observar o uso.

             Assim: uso ǂ prescrição (Gramática Normativa)

  • Se temos ‘comunidades de fala’, temos variação dentro de uma língua.

 

 

A NOÇÃO DE COMUNIDADE DE FALA

“O indivíduo, inserido numa comunidade de fala, partilha com os membros dessa comunidade uma série de experiências e atividades. Daí resultam várias semelhanças entre o modo como ele fala a língua e o modo dos outros indivíduos. Nas comunidades organizam-se grupamentos de indivíduos constituídos por traços comuns, a exemplo de religião, lazeres, trabalho, faixa etária, escolaridade, profissão e sexo. Dependendo do número de traços que as pessoas compartilham, e da intensidade da convivência, podem constituir-se subcomunidades linguísticas, a exemplo dos jornalistas, professores, profissionais da informática, pregadores e estudantes.”

         (VOTRE, S. & CEZARIO, M. Sociolinguística. In: MARTELOTTA, E. (org.) Manual de linguística. São Paulo: Contexto, 2009)

 

No processo de variação linguística, podemos perceber que algumas variantes são mais aceitas que outras. Além disso, é preciso considerar as variáveis linguísticas e extralinguísticas relevantes para descrever o fenômeno que se está estudando. Mas afinal, o que é variante linguística? E variável?

 

Teça comentários sobre o conceito de variação linguística a partir do texto abaixo.

 

As MARIPOSA

“As mariposa quando chega o frio

Fica dando vorta em vorta da lâmpida pra si isquentá

Elas roda, roda, dispois si senta

Em cima do prato da lâmpida prá discansá.

Eu sou a lâmpida

E as muié é as mariposa

Que fica dando vorta em vorta de mim

Todas as noites, só pra mi beijá.

Boa noite, lâmpida!

Boa noite, mariposa!

Pelmita-me oscular-lhe as alfácias ?

Pois não, mas rápido porque daqui a pouco eles mi apaga.”

(BARBOSA, Adoniran.  Demônios da garoa – trem das onze.  Chantecler, CMG – 2294 – 2,1964).

 

O poema retrata usos de uma variedade de uso da língua portuguesa: a variedade não padrão. Apesar de formas diferentes das apresentadas pelo português-padrão, não há dificuldades para a compreensão do texto.

 

As Noções de Variável e de Variante

O objetivo da Sociolinguística é estudar a língua em seu contexto social, isto é, em situações reais de uso. Utiliza-se, portanto, como ponto de partida, os dados obtidos da fala de indivíduos que pertencem a uma comunidade linguística (ou comunidade de fala).

 

Ocê...

Você...

Ei ...

 

Ao analisarmos uma comunidade linguística, podemos perceber a existência de diferentes modos de falar, ou seja, há variedades linguísticas. Por trás do “caos linguístico”, é possível identificar regularidade e sistematicidade na variação.

 

O que é um sociolinguista?

Como a Sociolinguística preocupa-se em investigar a relação entre língua e sociedade, a análise da fala de um indivíduo permite-nos identificá-lo. Assim, diferenciamos cada comunidade e refletimos sobre a inserção do indivíduo em diferentes grupamentos, estratos sociais, faixas etárias e níveis de escolaridade.

 

 

Vamos ilustrar o conceito de variante e de variável linguística com a variação nos pronomes pessoais na primeira pessoa do plural, exemplo citado em Cezario e Votre (2009):

 

“A gente fala muito.”; “Nós falamos muito.”

Estou escrevendo um texto, mas estou em dúvida de qual texto deixar.

O que você está fazendo?

 

“Nós” e “a gente” são formas utilizadas pelos falantes da Língua Portuguesa e aceitas pelas pessoas em geral. É possível pensar que, em uma situação comunicativa, produzir “nós falamos” possa ser considerado mais formal do que “a gente fala”, mais informal. Temos, portanto, duas variantes para a utilização do pronome.

 

Uma pesquisa sociolinguística sobre o assunto teria como foco investigar em que contexto social um indivíduo escolheria produzir uma forma e não outra, se há diferenças nos usos de “nós” e de “a gente” na fala de adultos, jovens e crianças, se indivíduos analfabetos e escolarizados produzem mais uma forma do que outra, se a diferença relaciona-se ao nível socioeconômico do indivíduo etc.

 

O conjunto de variantes linguísticas é denominado “grupo de fatores” ou “variável linguística”. Podemos ter variáveis linguísticas e extralinguísticas. As primeiras referem-se às motivações linguísticas para que certa variante seja utilizada (por exemplo, verbos que motivem o uso de “a gente” em lugar de “nós”).

 

Pode-se dizer que são as motivações internas à língua (fatores fonológicos, morfológicos, sintáticos etc.). As segundas referem-se a aspectos relacionados ao indivíduo que produziu a variante, tais como: sexo, idade, escolaridade, classe social a que pertence, grau de formalidade da situação comunicativa, região em que vive etc.

A gente fala?

Nós falamos!

A gente falamos? Ou nós fala?

 

Além de “a gente fala” e “nós falamos”, poderíamos pensar em outras possibilidades também muito frequentes: “a gente falamos” e “nós fala”. Essas duas variantes são consideradas mais estigmatizadas, ou seja, ao produzir uma dessas duas formas, o indivíduo pode sofrer algum tipo de preconceito. O importante, para o sociolinguista, é identificar o que motiva o fenômeno da variação.

 

Importante! Veja como representar uma variável e uma variante, tendo como base a questão da concordância, fenômeno em variação no Português Brasileiro.

 

Quando a variável indica o fenômeno em variação, ela aparece entre parênteses angulares (<>). Assim, no caso da marcação de plural do sintagma nominal, em Língua Portuguesa, a variável seria . No entanto, as formas linguísticas em variação são representadas por colchetes ([ ]). No caso da marcação de plural do sintagma nominal, as variantes são [s] e [Ø] (as casas amarelas/as casaØ amarelaØ).

 

Como a Sociolinguística preocupa-se em investigar a relação entre língua e sociedade, a análise da fala de um indivíduo permite-nos identificá-lo. Assim, diferenciamos cada comunidade e refletimos sobre a inserção do indivíduo em diferentes grupamentos, estratos sociais, faixas etárias e níveis de escolaridade: “O indivíduo, inserido numa comunidade de fala, partilha com os membros dessa comunidade uma série de experiências e atividades. Daí resultam várias semelhanças entre o modo como ele fala a língua e o modo dos outros indivíduos.

 

Nas comunidades organizam-se grupamentos de indivíduos constituídos por traços comuns, a exemplo de religião, lazeres, trabalho, faixa etária, escolaridade, profissão e sexo. Dependendo do número de traços que as pessoas compartilham, e da intensidade da convivência, podem constituir-se subcomunidades linguísticas, a exemplo dos jornalistas, professores, profissionais da informática, pregadores e estudantes.” (VOTRE, S.; CEZARIO, M. Sociolinguística. In: MARTELOTTA, E. (Org.) Manual de linguística. São Paulo: Contexto, 2009).

 

Podemos, assim, ilustrar a relação entre língua e aspectos sociais com a diferença na fala de homens e mulheres. O modo como homens e mulheres usam a língua vai depender dos papéis desempenhados por esses elementos na sociedade. Em zulu, uma língua falada na África, a mulher é proibida de pronunciar algumas palavras (nome do genro, por exemplo, e palavras que apresentem semelhança fônica com o nome do genro).

 

“Umánzi” (nome do genro) E “mánzi” (“água”).

“Esta é a minha mulher”

“Este é o meu homem”

 

Em português, embora o marido possa dizer “Esta é a minha mulher”, não é possível que a mulher produza “Este é o meu homem”, pois em determinados contextos, esse enunciado soa vulgar. (VOTRE; CEZARIO, 2009, p. 149).

 

O objeto de estudo da pesquisa sociolinguística* é a língua falada em situações reais de comunicação. Busca-se, a partir da análise da fala espontânea, descrever e explicar o modo como o falante faz uso da língua.

 

SOCIOLINGUÍSTICA

O sociolinguista busca demonstrar que a variação é sistemática e previsível. A pesquisa sociolinguística tem como objeto de estudo o uso da língua falada em situações naturais de comunicação. É realizada a partir de gravações de um número determinado de informantes com características específicas. Para se investigar a variação e a mudança, dados de língua escrita também podem ser utilizados. As análises têm como ponto de partida os dados estatísticos obtidos na língua falada. A pesquisa pode ser feita em tempo real (o linguista observa o fenômeno em duas ou mais épocas, a partir da comparação de entrevistas atuais com entrevistas antigas, por exemplo, para verificar se duas formas estão em variação ou se são um caso de mudança) ou em tempo aparente (o linguista grava amostras de informantes de diferentes faixas etárias para observar se uma forma ocorre mais na fala de crianças e jovens do que na de adultos e idosos).

 

Fenômenos Linguísticos em Variação no Português Brasileiro

“Você viu a Cráudia?”

“Eu vi ela na lojinha da esquina, consertano uma rôpa.”

“Será que ela vai trazê os livro novo que pedi?”

“Não sei. É melhor esperar ela.”

A análise do diálogo apresentado nos permite verificar os seguintes fenômenos linguísticos em variação no português brasileiro:

a)      Eliminação das marcas de plural redundantes (os livros novos/os livro novo)

b)      Assimilação: transformação do –ndo em –no (consertando > consertano).

c)       Retomada do objeto direto anafórico (Você viu a Cláudia? Sim, eu a vi. Sim, eu vi ela. Sim, eu vi Ø.).

d)      Redução do ditongo OU (roupa > rôpa).

e)      Rotacismo: troca do “l” pelo “r” (Cráudia, Framengo, pranta).

 

Para conhecer a explicação sobre esses fenômenos linguísticos em variação no português brasileiro, leia o livro “A língua de Eulália”, de Marcos Bagno

 

 

Abaixo, reapresentamos o texto da atividade I para que você identifique, nele, alguns fenômenos linguísticos em variação no português brasileiro.

 

As MARIPOSA

“As mariposa quando chega o frio

Fica dando vorta em vorta da lâmpida pra si isquentá

Elas roda, roda, dispois si senta

Em cima do prato da lâmpida prá discansá.

 

 

- Eliminação das marcas de plural redundantes: “as mariposa”, “elas roda”, “as muié”, “eles mi apagá”.

 

- Assimilação: “muié”.

 

- supressão do –r do infinitivo: “apagá”, “discansá”, “isquentá”.

 

- Rotacismo: troca do “l” pelo “r”: “vorta”.

 

 

MAIS UMA PESQUISA: O USO DO CLÍTICO ACUSATIVO (DUARTE, 1989)

a) Uso do clítico acusativo

       Ele veio do Rio só pra me ver. Então eu fui ao aeroporto buscá-lo.

b) Uso do pronome lexical

       Eu amo o seu pai e vou fazer ele feliz.

c) Uso de SNs anafóricos

       Ele vai ver a Dondinha e o pai da Dondinha manda a Dondinha entrar, ele pega um facão...

d) Uso da categoria vazia

       O Sinhozinho Malta está tentando convencer o Zé das Medalhas a matar o Roque... Mas ele é muito medroso. Quem já tentou matar Ø foi o empregado da Porcina. Ontem ele quis matar Ø, a empregada é que salvou Ø.