MORFOLOGIA
Sabemos que a linguagem é tudo aquilo que permite a comunicação entre as pessoas, desde a expressão de sentimentos e desejos até nossas ideias e emoções. Desta forma, não existe sociedade sem comunicação.
Indispensável para a comunicação humana, nem por isso a linguagem deixa de pertencer ao cunho individual. Quando usa a linguagem, o ser humano busca a integração com outro ser e então exercita a sua participação na sociedade.
Para que tal comunicação aconteça de maneira competente, sabemos que as palavras são fundamentais para esse processo e que a cada dia surgem inúmeras formas de comunicação entre as pessoas que valorizam o ser humano no espaço em que ele vive.
Com o tempo, a forma de comunicação vem se modificando e as palavras, logicamente, passam pelo mesmo movimento, alterando-se, reformando-se e até desaparecendo do uso contínuo.
Observe as propagandas a serem apresentadas e reflita, comparando-as:
DE QUE FORMA O TEMPO VEM DESENCADEANDO MUDANÇAS NO LÉXICO?
Você observou com o tempo passa e a forma de se comunicar vai mudando ao longo do tempo? Pois é, as palavras pertencem ao mundo e o mundo vai adaptando as novas formas de tornar-se visível e interativo.
O mundo é recheado de ações, movimento, pessoas, mudanças e inovações as quais não conseguimos individualmente controlar. Por isso, como afirma a Prof.ª Maria Emilia Barcelos, “é no léxico ainda que se gravam as designações que rotulam as mudanças encadeadoras dos caminhos e descaminhos da humanidade, além de comporem o cenário de revelação tanto da realidade quanto dos fatos culturais que permearam a sua história.”
OUTROS PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS
Além da composição e da derivação, existem outros processos de formação de palavras em nossa língua, como o neologismo, onomatopeia, hibridismo, reduplicação e sigla/abreviação.
Onomatopeia = Trata-se de palavra formada por meio de uma tentativa de reproduzir sons e vozes. Vejam os exemplos: bangue-bangue; piu-piu etc.
Có-có
Hibridismo
Como sabemos, nossa língua é formada por heranças deixadas por outras línguas mais antigas. Às vezes, pensamos que somente o Latim nos deixou um legado, mas o grego e algumas outras línguas também o fizeram.
Dessa forma, o resultado da combinação ou união de palavras ou morfemas pertencentes a idiomas diferentes chama-se hibridismo.
Exemplos:
Reportagem (inglês + latim)
Televisão (grego + latim)
Surfista (inglês + grego)
Sociologia (latim + grego)
Sambódromo (africano + grego)
Reduplicação
Segundo Henriques (2007, p. 126), a Reduplicação “consiste na repetição de sílabas semelhantes ou iguais, com o intuito de formar palavra onomatopaica (imitativa) ou hipocorística (afetiva).” O autor sugere os seguintes exemplos: reco-reco, tique-taque, cricri, vovô, teteia e Bebeto.
Ele advoga ainda que “nem toda onomatopeia e nem todo hipocorístico, assim como nem sempre a coincidência total ou parcial de sílabas são casos de reduplicação. Podem ser simples ocorrências de palavras primitivas (crás, brum; Filé, Tico), de abreviação (Bete»Elizabeth, Zé » José), de aglutinação (Joca » João Carlos; Marilu »Maria Lúcia), de justaposição (pegue-pague; bem-te-vi). E podem, também servir de base para derivação (zigue-zague + ar = ziguezaguear) ou composições (mamãe + sacode = mamãe-sacode, sinônimo de “cachaça”)” (op. cit, p.126).
SIGLA= As siglas e abreviações são muito utilizadas no dia a dia da língua. Eu mesmo tenho um amigo a quem chamo de JL, pois se chama José Luiz.
SIGLA é a palavra formada pela combinação das letras iniciais das palavras que compõem um nome.
PIB – Produto interno bruto.
PT – Partido dos trabalhadores.
IBGE – Instituto brasileiro de geografia e estatística.
ABREVIAÇÃO = A ABREVIAÇÃO ocorre quando optamos por não utilizar a palavra completa, como em endereços, quando usamos R. = Rua; TV. =Travessa; AV. = Avenida , e assim por diante. Na internet, por exemplo, podemos verificar várias abreviações por conta das novas necessidades de velocidade do mundo tecnológico globalizado. O famoso Internetês faz parte desse processo.
Quantas informações recebemos por dia, por hora?
NEOLOGIA é o processo de formação de novas unidades lexicais, ou seja, as palavras podem ser oriundas ou não de outras já existentes ou, ainda, serem atribuídas de um novo significado que não o dicionarizado, obtendo como produto o NEOLOGISMO.
O neologismo pode originar-se de outra língua e pode se adaptar ao nosso sistema morfofonêmico, como exemplificado em:
- “Entre 1995 e 1997, o PIB do agronegócio encolheu quase 3%.” (idem)
- “Eis uma boa oportunidade para os neodemocratas.” (Veja, edição 1799/ ano 36 – nº 16)
- “Em algumas capitais já existem mais pet shops do que farmácias.” (Veja, edição 1799/ ano 36–nº 16)
- “Pegou carona na enorme popularidade de Garotinho, mas foi atropelado pelos ‘bondes’, como são chamados os comboios formados por traficantes que espalham o terror pelas ruas do Rio.” (Veja, edição 1800/ ano 36 – nº 17).
Para refletir:
O léxico de todas as línguas vivas é essencialmente marcado pela mobilidade; as palavras e as expressões com elas construídas surgem, desaparecem, perdem ou ganham significações, de sorte a promover o encontro marcado do falante com a realidade do mundo biossocial que o acolhe: o homem e o mundo encontram-se no signo.
SILVA, Maria Emília Barcelos da. O dinamismo lexical: o dizer nosso de cada dia em Língua Portuguesa em debate. Petrópolis: Vozes, 1999, p. 42.
Os neologismos podem ser apresentados sob algumas formas e classificações, a fim de que se compreendam as suas implicações para o dinamismo da língua.
- Neologismo lexical ou vocabular: consiste na criação de novos significantes ou palavras para compor a língua.
Ex.:
1) A bola pererecou na área e ninguém chutou.
2) “O salário do trabalhador é imexível.” – Neologismo da década de 90, do Ministro Antonio Rogério Magri.
3) O Ministro Fernando Henrique Cardoso é um médico frustrado. Vive fazendo diagnósticos da situação inconvivível da economia. – Veja. SP, Abril, 15.09.93, p. 25
Os três exemplos grifados nos enunciados mostram claramente a possibilidade de criação de novas palavras para atender à necessidade de comunicação, a partir da estruturação de prefixos e sufixos. No exemplo 1, a palavra pererecou originou-se do substantivo perereca e transformou-se em verbo por uma necessidade de comparar o movimento de pulo do animal ao movimento da bola feita na área. Nos exemplos 2 e 3, os enunciadores fizeram uso da parassíntese para criar estas palavras, que à época, foram propagadas na mídia, com destaque para a possibilidade de ambas comunicarem.
Neologismo semântico ou de sentido: consiste na apropriação de significados novos para significantes já existentes, atribuindo a este vocábulo um conteúdo que ele não tinha até então.
Ex.:
1) Meu vizinho foi multado por fazer um gato na rede elétrica.
2) Os fiscais perceberam que se tratavam de laranjas!
3) Este trabalho não ficou bom; é melhor deletar esta parte!
As palavras grifadas nos exemplos dados apresentam as seguintes características: nos exemplos 1 e 2, os substantivos gato e laranjas, ambos pertencentes à língua, como elementos significativos, tiveram os seus sentidos alterados para provocarem nova compreensão aos interlocutores nas expressões dadas. Já no exemplo 3, a palavra deletar é atribuído um significado de uma palavra já existente, mesmo que em outra língua (aqui no caso, apagar).
Dessa forma, dizemos que a neologia vocabular equivale à de forma e à neologia semântica, à de sentido.
Neologismos sintáticos ou locucionais: caracterizam-se por serem expressões cujos componentes, separadamente, estão dicionarizados, mas que, juntos, têm um valor semântico novo. São resultantes de uma combinatória de elementos mórficos já existentes no léxico, ou até emprestados.
Ex.:
1) João Paulo II reinventa a igreja papalizando com êxito.
2) Nas últimas eleições não admitiram boca de urna.
Os exemplos apresentados tomam como parâmetro a ideia da derivação, como em papalizando, em que à palavra papa é acrescida de sufixo. No caso de boca de urna, o efeito é de composição por justaposição, em que os elementos mórficos se juntam para dar um único sentido à ideia apresentada.
Neologismo fonológico: caracteriza-se pela combinação inédita de fonemas, não procedente de nenhuma palavra já existente na língua.
Ex.:
Não gostei deste vestido! É meio chinfrim!
Os formandos bebemoravam a data.
Os exemplos apresentados são claros no que tange à combinação de fonemas. O primeiro exemplo trabalha com uma junção de sons/fonemas que aludem à idéia de coisa sem graça, sem estilo, sem vida, enquanto o segundo exemplo apresenta uma junção dos verbos beber + comemorar, em uma união de sons, que efetivam um novo significado.
Para refletir:
Como afirma o Profº André Valente (1999, p. 42), “são mais de cinco mil os neologismos inseridos na nova edição do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras. Não obstante haver questionamentos quanto à inclusão de alguns neologismos e à ausência de outros, fica comprovada a força das criações neológicas diante de números tão expressivos.”
VALENTE, André. A produtividade lexical em diferentes linguagen em Língua Portuguesa em debate. Petrópolis: Vozes, 1999, p. 42.
ESTRANGEIRISMOS
Não poderíamos deixar de lado os estrangeirismos. Sabemos que, principalmente com a globalização, as culturas e, consequentemente, as línguas ganharam um maior contato. Dessa forma, temos várias palavras estrangeiras em nossa língua, como:
Shopping
Show
Só precisamos ter dois cuidados:
Verificar se há um correspondente aceito pela maioria dos falantes em nossa língua;
perceber se houve mudanças na grafia quando da passagem para o Português, como é o caso de ESLIDE (do inglês, SLIDE).