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O Gerativismo: A Faculdade da Linguagem
O Gerativismo: A Faculdade da Linguagem

 

LINGUÍSTICA

O GERATIVISMO: A FACULDADE DA LINGUAGEM 

 

Imaginem a seguinte situação: vocês acharam um filhote de macaco na rua e resolveram criá-lo como se fosse um bebê. Ele, aos poucos, se adaptou ao novo lar: consegue, sem problemas, segurar a mamadeira para mamar, dorme no berço como qualquer outra criança, adora ficar no seu colo... O tempo foi passando, o macaco foi crescendo, mas a questão é: se o macaco fosse uma criança normal, ou seja, sem patologia, o que aconteceria neste momento?

Pois é, ele começaria a falar!

Você acha que isso iria acontecer com o seu macaco?

Não! Vamos entender o porquê com o Gerativismo.

 

O Gerativismo:

O Gerativismo é uma corrente da Linguística, que teve início nos Estados Unidos, em 1957, e tem como nome principal o linguista Noam Chomsky.

 

A teoria gerativista recebe esse nome, pois, segundo ela, a partir de um conjunto de regras, é possível produzir um número ilimitado de sequências linguísticas. Assim, seria impossível apresentar uma lista com­pleta das frases previstas pelas regras da língua. Poderíamos pensar, por exemplo, no seguinte: quantas frases seriam produzidas a partir da estrutura “SUJEITO + PREDICADO”?

 

Em 1957, Chomsky publica seu livro “Estruturas sintáticas” (do inglês, Syntactic Structures), que marca o início do Gerativismo e promove uma revolução nos estudos linguísticos. Vale ressaltar que a Teoria Gerativa passou, ao longo dos anos, por uma série de reformulações, chegando, na década de 1990, ao Programa Minimalista (PM). Muitos autores, por isso, preferem se referir à teoria como um “Programa de investigação gerativista”.

 

Os gerativistas buscam descrever e explicar, abstratamente, o que é e como funciona a linguagem humana. Por isso, propõem-se a elaborar um modelo teórico formal, inspirado na matemática.

 

Devido à sua formação (matemática, psicologia, filosofia e linguística), Chomsky, no Gerativismo, parte do pressuposto de que é possível descrever algebricamente a língua humana, a partir de esquemas abstratos. Por isso, pode-se dizer que a base filosófica da teoria é o RACIONALISMO, que vê no pensamento, na razão, a fonte principal do conhecimento humano.

Gerativismo: A Faculdade da Linguagem.

A partir da década de 1950, os estudos da linguagem, que eram guiados por uma postura behaviorista, passaram por expressivas transformações a partir das ideias de Chomsky.

 

Segundo a visão behaviorista, o ser humano adquire a linguagem por imitação, ou seja, tudo é aprendido por condicionamento. Um dos principais defensores do BEHAVIORISMO foi o psicólogo americano Skinner (1904-1990), responsável pela descrição de mecanismos de controle das ações humanas por estímulo e resposta.

 

O linguista norte-americano Leonard Bloomfield é outro nome importante do behaviorismo. Segundo ele, a partir de estímulos, a criança, nos primeiros anos de vida, repete sons vocais. O processo envolve a visão, o tato (manuseio de objetos), a audição e a imitação do som até que ela, como um hábito, fixe determinada palavra e passe a usá-la.

 

Segundo Chomsky, a linguagem é uma capacidade inata, está inscrita no DNA do ser humano. Por isso, na situação apresentada no início da aula, o macaco, ainda que seja criado apenas entre humanos, jamais desenvolverá a linguagem, que nele não é inata. Pelo fato de ser uma capacidade humana inata, ou seja, de fazer parte da constituição cerebral de todos os seres humanos sem patologias, as línguas devem apresentar características universais.

 

Além do caráter universal da linguagem humana, Chomsky destaca um aspecto muito importante na linguagem humana: a criatividade. Todos os indivíduos, independentemente do seu nível de escolaridade, apresentam uma capacidade de criar infinitamente frases novas, das mais simples às mais complexas. A criatividade da linguagem humana é um fator que nos distingue dos animais e não poderia ser explicada tendo como base as ideias behavioristas.

 

Como o cérebro é visto no Gerativismo?

Para entender a proposta gerativista, é preciso conhecer o modo como Chomsky e seus seguidores compreendem a mente/cérebro do homem.

 

Segundo Martins (2006), os gerativistas adotam uma visão modularista, mente/cérebro são entendidos como um sistema complexo, com uma estrutura altamente diferenciada e com ‘faculdades’ separadas, como, por exemplo, a faculdade da linguagem e a faculdade dos conceitos.

 

Segundo Chomsky, da mesma maneira como sistemas complexos ou ‘órgãos do corpo’ – como o córtex visual e o sistema circulatório – têm suas propriedades exclusivas e são estudados separadamente, com suas teorias próprias, também os diferentes sistemas cognitivos ou ‘faculdades’ da mente – como a faculdade da visão e a faculdade da linguagem – devem ser estudados separadamente. (cf. Chomsky, N. (1986) Knowledge of language: its nature, origin and use. New York: Praeger.)

 

Chomsky considera que a mente humana é composta por sistemas cognitivos, organizados em módulos. Assim, a faculdade da linguagem estaria em um desses módulos. Seguindo a tese da modularidade da mente, tem-se a hipótese do inatismo, segundo a qual há uma estrutura mental inata ou estado inicial que possibilita aos seres humanos adquirirem sua língua natural.

 

Essa estrutura mental inata é chamada na teoria gerativista de Gramática Universal (GU).

 

A GU é o estado inicial da faculdade da linguagem. Há, na GU, princípios e parâmetros. Os princípios são comuns a todas as línguas, apresentam caráter universal e são responsáveis por explicar a organização das línguas naturais. Já os parâmetros são específicos de uma língua e reconhecidos a partir dos dados linguísticos do ambiente do indivíduo em fase de aquisição de linguagem. Apresentam-se de modo binário, ou seja, com o valor positivo (+) ou negativo (-). O valor (+) indica que aquele parâmetro está presente na língua; já o valor negativo (-) sinaliza a ausência daquela característica.

 

Entendendo os princípios e parâmetros.

 

Tendo como foco a descrição da GU, os gerativistas propõem uma teoria chamada de Princípios e Parâmetros.

Apresentamos, abaixo, um exemplo de um princípio e de um parâmetro:

Princípio: “Todas as sentenças, independentemente da língua, têm a função sintática sujeito.”

Parâmetro do sujeito nulo: “Uma língua admite ou não sujeito nulo nas sentenças finitas.”

Tendo como base o português e o inglês, vamos perceber que, em inglês, esse sujeito tem que ser produzido, o mesmo não acontecendo em português.

Observe os exemplos:

1)  Português: Ø Chove.

2)  Inglês: It rains.

3)  Português: Eu vi o menino ontem.

4)  Português: Ø Vi o menino ontem.

5)  Inglês: I saw the boy yesterday.

6)  Inglês: * Ø Saw the boy yesterday.

 

Nós, como falantes nativos do português, sabemos, perfeitamente, que podemos produzir enunciados como os apresentados em (1), (3) e (4). Isso acontece porque, na nossa língua, o sujeito pode ou não ser nulo nas sentenças finitas. O falante tem a opção de escolher. O símbolo (Ø) significa a existência de uma categoria vazia, ou seja, a posição não está ocupada por um elemento morfologicamente realizado, mas existe e não pode ser preenchida por nenhum outro elemento.

 

Por outro lado, o indivíduo que for exposto ao inglês sabe que, em todas as sentenças, o sujeito deve sempre ser produzido. Até mesmo com verbos como “chover”, a partícula expletiva “it” deve estar presente para “ocupar” a posição. O asterisco (*), no exemplo (6), indica que a sentença é agramatical, ou seja, não faz parte da língua. Quando estudamos inglês, como segunda língua, precisamos ficar atentos ao preenchimento da posição do sujeito.

 

“Sabemos que o corpo humano é composto por órgãos diferentes que desempenham funções diferentes, cada um deles com funcionamento específico – ou seja, o coração bate para fazer circular o sangue, mas os rins não batem para filtrar a água do corpo; adicionalmente o tipo de tecido que compõe o fígado é muito diferente do tipo de tecido que compõe o estômago, por exemplo.” (MIOTO, SILVA & LOPES, 1999, p.)

Resposta:

 

A citação apresentada refere-se a um dos pressupostos da Teoria Gerativa: a modularidade da mente. Parte-se da ideia de que há um módulo específico para a linguagem, que faz parte do aparato genético do homem, distinguindo-o dos outros animais.

 

RELEMBRANDO:

Vimos que nascemos com um sistema único de princípios inatos, enraizado na nossa mente/cérebro, dedicado exclusivamente à linguagem: a GU. A GU é o estado inicial da faculdade da linguagem e é constituída de princípios universais e parâmetros específicos de cada língua. Sendo assim, podemos dizer que todas as línguas humanas possuem propriedades comuns já que todos nós nascemos com o mesmo aparato genético. Então, por que falamos línguas diferentes?

 

Gramática Universal e Gramática Particular

No processo de aquisição de uma língua, o indivíduo vai, gradativamente, fixando os valores dos parâmetros a partir do contato com os dados linguísticos da sua língua nativa. À medida que os valores desses parâmetros são fixados pelo indivíduo durante a aquisição, uma gramática é construída, ou seja, a gramática particular de sua língua.

 

O termo “gramática” é polissêmico, ou seja, apresenta várias acepções. Quando usamos o termo “gramática” aqui, estamos nos referindo aos conhecimentos de um falante tem de sua língua materna, aos mecanismos de funcionamento de uma língua. Não estamos nos referindo a gramática normativa ou a gramática tradicional.