Adjunto Adverbial e o Vocativo
Começaremos por um dos complementos verbais importantes ao discurso, que é o adjunto adverbial.
Vejamos como dois conceituados autores o definem:
Afirma que esse complemento é, na maioria das vezes, como um termo acessório, uma vez que pode ser removido da oração sem afetar sua integridade gramatical e sua importância está nos efeitos discursivos que produz.
Azeredo (2010:282)
Advoga que o chamado adjunto adverbial é um termo não argumental, ou seja, “fora do âmbito da regência do verbo na oração, isto é, não pedido por ele”, o que comprova o caráter acessório desse termo.
Bechara (2000:436)
Relembrando...
Você se lembra de um dos tópicos em que mostramos os estudos de Bechara em relação à distinção entre o complemento relativo e adjunto adverbial?
Segundo ele, os adjuntos adverbiais são semântica e sintaticamente opcionais, enquanto que os complementos relativos são exigidos pelo verbo.
Vejamos o exemplo analisado por Bechara: A criança caiu da cama durante a noite.
O autor sugere a seguinte análise: “Se da cama é o complemento relativo de cair, durante a noite, mero acréscimo à informação, à realidade comunicada, receberá a classificação de adjunto circunstancial. (…) Respondem (os adjuntos adverbiais) às clássicas perguntas
como?, quando?, onde?, por que?, enquanto o complemento relativo responde à pergunta que?, quem? precedidos de preposição que acompanha tradicionalmente o verbo.” (op.cit.:436-437)
Circunstâncias do adjunto adverbial
De acordo com o que vimos, podemos concluir, com a ajuda do gramático Azeredo, que o adjunto adverbial é:
O termo da oração que indica uma circunstância do processo verbal, ou intensifica o sentido de um adjetivo, verbo, advérbio, ou uma oração inteira.
É uma função adverbial, pois cabe ao advérbio e às locuções adverbiais exercer o papel de adjunto adverbial.
As circunstâncias comumente expressas pelo adjunto adverbial são:
• Afirmação;
• Assunto;
• Causa;
• Companhia;
• Concessão;
• Conformidade;
• Dúvida;
• Instrumento;
• Intensidade;
• Lugar;
• Tempo;
• Modo, etc.
Por isso, sua classificação depende diretamente da circunstância por ele expressa.
Circunstâncias do advérbio Segundo Bechara (2000: 290-291), os advérbios podem expressar as seguintes circunstâncias:
Correlação sujeito-predicado
O adjunto adverbial indica a circunstância em que se processa o fato expresso pela correlação sujeito-predicado.
É, portanto, um sintagma nominal acessório, que amplia a comunicação feita pelo verbo, indicando variadas circunstâncias de tempo, modo, lugar etc.
O adjunto adverbial pode ser expresso por:
Advérbio: O trabalho foi escrito maravilhosamente.
Sintagma preposicional constituído de:
a. Locução adverbial: Saiu às pressas.
b. Sintagma nominal regido de preposição significativa: Moro num pequeno sítio.
c. Verbo no infinitivo antecedido por preposição: Deve comer para viver e não viver para comer.
Oração adverbial: Quando olhares o que te é dado, olha também quem o dá. Aprendemos a escrever, escrevendo, a falar, falando.
ATENÇÃO
Também certos adjetivos podem ser usados como advérbio (processo de nominalização):
O nosso bom Dirceu talvez que esteja metido no capote a ler gostoso. (Tomás A. Gonzaga)
Adjunto adverbial: o Sintagma Adverbial altamente comutável
Outra característica no comportamento do adjunto adverbial reside no fato de que possui grande mobilidade dentro da oração.
Isso significa que se trata de Sintagma Adverbial altamente comutável, ou seja, pode vir no início, no meio ou no fim da oração.
Todavia, é preciso que se tenha cuidado quanto à pontuação, pois, ao invertermos a ordem desse sintagma na oração, devemos marcar tal mudança com a vírgula.
Veja:
Ontem pela manhã, meu professor viajou.
Meu professor, ontem pela manhã, viajou.
De acordo com norma gramatical, na ordem direta, o adjunto adverbial é posto ao fim da oração, não havendo necessidade de vírgulas.
Entretanto, Henriques (2010:79) afirma que, via de regra, podemos usar a vírgula antes do adjunto adverbial, mesmo ao fim da oração, por razões de expressividade.
Vamos ao exemplo dado pelo autor:
Preciso de você todos os dias.
X
Preciso de você, todos os dias.
Exercitando...
a) A criança acordou cedo. (Tempo)
b) Vamos comer o sanduíche aqui. (Lugar)
c) Júlio fechou o carro depressa, com medo do ladrão. (Intensidade) (Modo)
d) Ontem fiquei no trabalho à tarde. (Tempo) (Lugar) (Tempo)
e) No inverno, o vento, na praia, é mais gelado. (Tempo) (Lugar) (Intensidade)
f) Às vezes, ela não se comunica bem. (Tempo) (Negação) (Modo)
g) À noite, veio, do sul, uma chuva extremamente forte. (Tempo) (Lugar) (Meio)
Aposto e Vocativo
Há dois termos que são tradicionalmente classificados em termos acessórios da oração. São eles: aposto e vocativo.
Aposto
A palavra “aposto” significa “posto após”. Assim, aposto é um termo acessório que permite ampliar, explicar, desenvolver ou resumir a ideia contida num termo anterior que exerça qualquer função sintática.
Veja:
Ontem, segunda-feira, passei o dia mal-humorado.
Segunda-feira é aposto do adjunto adverbial de tempo ontem.
Vocativo
Esse termo, tradicionalmente, é considerado termo acessório da oração, como o aposto. Entretanto, atualmente, alguns autores o têm dado outro tratamento.
Estudos dos principais gramáticos sobre o tema APOSTO
Estudos sobre Aposto Bechara Para Bechara (2000:456), aposto é “um substantivo ou expressão equivalente que modifica um núcleo nominal (ou pronominal ou palavra de natureza substantiva como amanhã, hoje, etc.), também conhecido pela denominação fundamental, sem precisar de outro instrumento gramatical que marque esta função adnominal.” Para ele (2000: 457), o aposto pode ser classificado, de acordo com seu valor na oração em explicativo e especificativo. Veja os exemplos fornecidos pelo autor:
a) O rio Amazonas deságua no Atlântico.
b) Pedro II, Imperador do Brasil, protegia jovens talentosos. “[...] Na primeira, o substantivo que funciona como aposto se aplica diretamente ao nome núcleo e restringe seu conteúdo semântico de valor genérico, tal como faz um adjetivo, enquanto na segunda a sua missão é tão somente explicar o conceito do termo fundamental, razão pela qual é em geral marcado por pausa, indicado por vírgula ou por sinal equivalente (travessão e parêntese). Daí a aposição do primeiro se chamar específica e a do segundo, explicativa.” (p. 456- 57) Bechara (idem) afirma ainda que o aposto explicativo pode apresentar os significados a seguir:
Ele (2000:456) advoga que a distinção entre aposto e adjunto adnominal é, às vezes, difícil de traçar1 e afirma (op.cit.:460) que um aposto pode se referir a toda uma oração.
Veja o exemplo:
Ele conseguiu aprovação, sinal de seu sucesso. Kury Já Kury (1993:58), em seu livro Lições de Análise Sintática, fala sobre outros dois tipos de apostos conforme exemplos do autor:
Henriques (2010:81) traz um interessante exemplo de aposto distributivo. Segundo o autor, esse tipo de aposto pode manter relacionamento sintático em outra oração.
Veja o exemplo:
Tenho dois amigos especiais: Reinaldo é um micreiro fantástico; José Luís, um artilheiro predestinado. Nesse exemplo, ambos os termos destacados são apostos de amigos especiais e sujeito do verbo SER de suas respectivas orações. Azeredo Azeredo (2010:196) afirma que, discursivamente, o aposto serve para:
Cegalla (2005), em sua Novíssima Gramática da Língua Portuguesa, realiza algumas observações relevantes a respeito do aposto, veja:
1. O aposto não pode ser formado por adjetivos. Nas frases seguintes, por exemplo, não há aposto, mas predicativo do sujeito: Audaciosos, os dois surfistas atiraram-se às ondas. As borboletas, leves e graciosas, esvoaçavam num balé de cores.
2. O aposto pode preceder o termo a que se refere, o qual, às vezes, está elíptico: Rapaz impulsivo, Mário não se conteve. Mensageira da ideia, a palavra é a mais bela expressão da alma humana.
3. Um aposto pode referir-se a outro aposto: Machado de Assis, mestre de literatura, a arte da palavra, foi fundador da ABL.
4. O aposto pode vir precedido das expressões explicativas isto é, a saber, ou da preposição acidental como: Dois países sul-americanos, isto é, a Bolívia e o Paraguai, não são banhados pelo mar.
Estudos sobre Vocativo
Henriques (2010:83), por exemplo, afirma, com destaque, que o vocativo não é um termo da oração, mas do discurso, tamanha é sua relação com algo exterior à frase (referência exofórica).
Tal noção é também compartilhada por Azeredo (2010: 150). Rocha Lima ao tratar do conceito tradicional de vocativo afirma que é “(...) um termo de natureza exclamativa, empregado quando chamamos por alguém, ou dirigimos a fala a pessoa ou ente personificado.” (1998, 259) Bechara (2000:460) advoga que o vocativo é uma unidade à parte da estrutura argumental da oração e cumpre uma função apelativa de 2ª pessoa, pois, através desse termo, chamamos ou colocamos em evidência a pessoa ou coisa a que nos dirigimos.
Em determinados contextos, o vocativo pose ser precedido pela interjeição ó, como neste exemplo do poeta romântico Castro Alves: Ó mar, por que não apagas Co'a esponja de tuas vagas De teu manto este borrão?... Dessa forma, podemos perceber a relação que o vocativo estabelece com o contexto e, principalmente, com a oralidade, uma vez que evoca um elemento do discurso.
Complemento Nominal
Outro termo importante da oração é o complemento nominal, formado sempre por um sintagma preposicionado (SP), uma vez que deve ser regido por uma preposição.
Talvez, essa noção de complemento seja mais fácil de ser percebida em relação aos verbos. Todavia, há nomes que também necessitam de complementos para lhes assegurar o sentido, veja o exemplo do substantivo necessidade:
Temos necessidade de carinho.
O sentido da oração estaria prejudicado se não houvesse o complemento de carinho para o substantivo necessidade.
Dessa forma, podemos afirmar que nomes também podem precisar de complemento.
O Complemento Nominal é um dos termos integrantes da oração e sua função é completar o sentido de um nome (substantivo ou adjetivo) ou de um advérbio, conferindo-lhe uma significação completa ou, ao menos, mais específica.
Esse substantivo, geralmente, é cognato de num verbo, como é o caso de necessidade/necessitar.
Exemplos de Complemento Nominal
Exemplos de Rocha Lima (1998:241):
1-Sua resposta ao examinador provocou palmas. (resposta = substantivo)
2- O senado votou contrariamente à pena de morte. (contrariamente = advérbio)
3- A sentença foi favorável ao réu. (favorável = adjetivo) Exemplos de Bechara (2000:453):
Segundo Bechara (2000:453), o complemento nominal é mais ligado ao seu núcleo que o adjunto adnominal “[...] por representar uma construção derivada em que aparece como núcleo verbal complexo [...]”, ou seja, os nomes que exigem complementos nominais possuem formas correspondentes a verbos transitivos.
O complemento nominal:
Complemento Nominal
A relação entre esse termo da oração e o nome está na própria terminologia, pois o prefixo “ad-“ significa “junto de”.
Ao pé da letra, teríamos a equação:
adjunto adnominal = junto, junto, junto do nome.
Sobre o adjunto adnominal, Bechara afirma que:
“Toda expressão nominal, qualquer que seja a função exercida pelo seu núcleo, pode ser expandida por determinantes que têm por missão acrescer ideia acidental complementar ao significado desse substantivo nuclear.”
O adjunto adnominal modifica somente substantivos, pois sua definição tradicional nos diz que
“Ao núcleo substantivo, qualquer que seja a função deste, pode juntar-se um termo de VALOR ADJETIVO, para acrescentar-lhe um dado novo à significação”.
Quando conversamos sobre o complemento nominal, vimos que ele também modifica adjetivos e advérbios, lembra?
Assim, a distinção entre complemento e adjunto somente é problemática quando eles estão ligados a substantivos.
Adjunto Adnominal X Aposto
Não podemos confundir o adjunto adnominal com o aposto!
ADJUNTO ADNOMINAL = Imprescindível; Fundamental na formação do SN; Sendo representado por artigo, numeral, pronome adjetivo e adjetivo.
ADJUNTO ADNOMINAL= Quase que expletivo, ou seja, poderia faltar à oração sem grandes perdas de sentido. Outro SN encaixado a um SN maior;
Veja o exemplo a seguir:
As duas alunas dedicadas, Simone e Márcia, não vieram à aula hoje.
AA AA AA APOSTO
De modo geral, poderíamos afirmar que adjunto adnominal é a função sintática do adjetivo, do pronome adjetivo e do numeral no sintagma nominal.
Saiba Mais
O adjunto adnominal acrescenta uma informação ao nome, em geral, concreto. Segundo Ferrarezi Junior (2012): “Por sua natureza, o adjunto é sempre uma palavra única (não há adjunto formados por mais de uma palavra no português brasileiro), embora um mesmo nome possa ter diversos adjuntos ao mesmo tempo.” (p. 98) O adjunto adnominal tem valor de adjetivo e, em princípio, é desnecessário para a compreensão da expressão: ele acrescenta ao núcleo ao qual se ligam várias ideias, tais como, posse, autoria, definição, indefinição, matéria, tempo, lugar. Nas palavras de Henriques (2010:74): “O adjunto adnominal tem outra característica: é um termo periférico, que está sempre vinculado ao núcleo do termo ao qual pertence.” Entretanto, não podemos confundir o adjunto adnominal com o complemento nominal e com o predicativo, uma vez que todos esses termos possuem relações com um substantivo ou pronome a que se referem. Algumas dicas para estabelecer a diferenças entre COMPLEMENTO NOMINAL e ADJUNTO ADNOMINAL
Exemplos: O menino tinha uma fome de leão.
[fome leonina = adjetivo] AA
[fome que parecia ser de leão = oração adjetiva]
A leitura de jornais é aconselhável a um bom profissional. CN [de jornais = complemento nominal]
Criação de um filme2 . “Criação” é um substantivo abstrato de ação, que vem do verbo “criar”. Como o verbo criar é transitivo, o substantivo guarda esta característica. É por isso que o substantivo criação vai precisar de um complemento.
Assim, teremos um CN. Se a estrutura tiver a função de agente da ação, teremos um AA. 1 AA 2 CN 3
Veja os exemplos:
A mordida de José = AA (porque José é agente da ação)
A mordida da maçã = CN porque a maçã é o alvo (não é bem o paciente, mas não é o agente da ação)
A admiração de José por Renata. de José = AA (José é o agente da ação) por Renata = CN (Renata é quem sofre a ação do verbo)
Observação: é preciso observar o contexto de uso sempre. Rocha Lima (1998: 242) destaca os seguintes exemplos:
a. A plantação de cana enriqueceu, outrora, a economia do país. (de cana = CN, plantação tem valor abstrato).
b. Em poucas horas, o fogo destruiu toda a plantação de cana. (de cana = AA, plantação é nome concreto e, portanto, intransitivo)