CLARA AVERBUCK: DE MINA PARA MINA
Quando Clara Averbuck se despediu de Porto Alegre, em 2001, para aventurar-se em São Paulo, era uma menina que buscava no universo masculino os “colhões” que acreditava serem necessários para afirmar-se. Nesta semana, logo após ser uma das cinco laureadas com o Prêmio Donna Mulheres que Inspiram, Clara retorna à cidade natal para dividir um pouco do que descobriu em Sampa e registrou no novo livro, TOUREANDO O DIABO: que mulheres unidas podem mudar tudo, inclusive essa mania de achar que talento tem algo a ver com virilidade.
No evento Conexões Globais, que será realizado hoje e amanhã, no Vila Flores, a escritora lança TOUREANDO O DIABO, participa do debate Mulherada Empoderada: os Feminismos Insurgentes nas Ruas e nas Redes e oferece uma oficina de escrita criativa só para garotas, com duas turmas lotadas.
A trinca de atividades diz muito sobre a rotina da escritora desde que foi para São Paulo, onde lançou seus sete livros – eles próprios documentos da transformação de Clara, da “menina entre os meninos” no e-zine CardosOnLine para a mulher que, em 2014, criou com duas amigas o site Lugar de Mulher, referência em abordagem pop e temas como igualdade de gênero.
Em TOUREANDO O DIABO, a protagonista Camila (conhecida dos leitores desde a estreia com MÁQUINA DE PINBALL, de 2002) discorre sobre feminismo com a mesma verve franca e direta com que fala de sexo, sentimentos e música. Amparada em uma base de leitores que a acompanha ao longo dos últimos 15 anos, Clara conseguiu lançar o livro de forma independente, com financiamento coletivo de centenas de apoiadores.
- Fiz esse livro para conseguir viver de livro. E está dando. Já consegui pagar um aluguel com a venda, nunca tinha feito isso antes. Em geral, as editoras pagam 10% de capa para o autor, o que equivale a uma passagem de ônibus – explica.
Porque se relacionou com editoras por muito tempo e sabe que estas recebem três vezes menos originais de mulheres do que de homens, Clara desenvolve oficinas de escrita criativa voltadas só para elas.
- Não é algo com grandes técnicas; é oficina para destravar as meninas, para que parem de ter vergonha de mostrar o que fazem. Elas escrevem na aula e têm de falar em voz alta. O resultado é incrível, tem uma turma fazendo uma coletânea, outra em que todas fizeram perfis no Medium (site de publicação de textos) – orgulha-se.
As ideias permeiam TOUREANDO O DIABO e motivam a oficina Clara deve expor no debate com outras quatro mulheres. Ela tem se envolvido em conversas como essa em várias cidades, além de dialogar com mulheres de faixas etárias e contextos variados a partir de seus textos na revista CartaCapital e no Lugar de Mulher e em participações em espaços de visibilidade como o programa Esquenta, da TV Globo. Se a Clara que deixou Porto Alegre era uma menina entre os meninos, a que retorna para p Conexões Globais é, cada vez mais, uma mina com as outras minas.
Fonte: ZeroHora/Segundo Caderno/Fernando Corrêa em 1º de abril de 2016.