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Todas as Narrativas do Mundo
Todas as Narrativas do Mundo

TODAS AS NARRATIVAS DO MUNDO

 

Nunca falta um epitáfio: aqui jaz a poesia, o romance, o conto... Se morreu, como foi?  Morte natural, suicídio ou assassinato?  Se foi crime, quem é o culpado?  O leitor, o autor ou o sistema, esse pérfido que ataca mascarado quando menos se espera?  A literatura, porém, apesar das previsões fúnebres, continua viva.  Renasce a cada dia.  Tem leitores? Sim.  Tem autores.  Com quantos leitores se faz um escritor?  É um campo em disputa.  Como dizia o sociólogo francês Pierre Bourdieu, um campo é um espaço social estruturado, tem dominantes e dominados, tem conflitos.  Quem manda no campo literário?  Quem vende livros?  Quem escreve livros?  Os editores?  A crítica literária acadêmica?  A mídia?  Quem domina? Quem é dominado?

 

A modernidade privilegiou autores de poucas obras e condenou, paradoxalmente, a indústria cultural, com seus best-sellers, que sua tecnologia ajudou a disseminar.  A modernidade enfrenta a pós e a hipermodernidade.  Literatura de autor versus literatura de grande público?  Obra de arte versus entretenimento?  Obra-prima versus prima de obra?  Escrever para críticos ou escrever para encantar, emocionar e entreter leitores?  Essas questões nunca se apagam.  As respostas nunca são definitivas.  Visões de mundo e um mundo de visões.  Muitas são as formas narrativas em voga:  biografia, reportagem histórica, romance realista, autoficções,  memórias aparentemente verdadeiras ou engenhosamente falsas.  Nesta edição do Caderno de Sábado, exploramos um pouco de tudo isso.  Em entrevista, Silviano Santiago, ganhador do Prêmio Oceanos 2015, examina, com sua elegância de sempre, algumas dessas pontas que ferem, rasgam, cutucam, estimulam e questionam.

  

Felipe Pena, escritor, roteirista e professor da Universidade Federal Fluminense, pega o touro pelos chifres e defende a literatura de entretenimento.  Vale lembrar que, no Brasil atual, atores como Eduardo Spohr vendem milhares de exemplares de seus livros escritos para entreter.  Existe preconceito contra a literatura que vende?  Inveja? Ou padrão de exigência formal que não se dobra ao mercado?  Umberco Eco já falava desse litígio no agora clássico  “APOCALÍPTICOS E INTEGRADOS.  O crime se consumou?  Os apocalípticos são vencedores perdidos?  Os integrados colhem sucesso, mas não reconhecimento?  Paulo Coelho anda por aí como um fantasma de sucesso em busca de um selo de qualidade?  O sucesso rebaixa?  O autor se rebaixa parra ter sucesso?

 

Não se espere um tratado definitivo.  Para quebrar o gelo, um fragmento do mais recente e impressionante livro do historiador Tau Golin, FRONTEIRA 1763-1778, HISTÓRIA DA BRAVA GENTE E MISERÁVEIS TROPAS DE MAR E AR QUE CONQUISTARAM O BRASIL MERIDIONAL (MÉRITOS), sobre a “reconquista do Rio Grande”.  História e literatura fazem par, juntam-se e separam-se em busca de verdades.  Por fim um texto de Cristina Buarque de Hollanda sobre o castelo de Pedras Altas, do lendário Assis Brasil.  Todas as narrativas do mundo buscam leitores.  Algumas estão escritas em pedra.  O suporte é sempre histórico.  Escrever é preciso.  Ler não é preciso.  Tudo se torna interpretação.

 

Fonte:  Correio do Povo – CS Caderno de Sábado/Juremir Machado da Silva em 19 de dezembro de 2015.