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Escritora Morgana Kretzmann e "Água Turva"
Escritora Morgana Kretzmann e "Água Turva"

 

ESCRITORA DE TRÊS PASSOS TERÁ LIVRO PUBLICADO POR UMA DAS MAIORES EDITORAS DO MUNDO

 

A obra escolhida pelo selo HarperVia, da HarperCollins, fundada em 1817 em Nova York, tem como cenário a principal reserva florestal do Rio Grande do Sul

 

Vencedora do Prêmio São Paulo de Literatura e uma das mais talentosas de sua geração, a escritora gaúcha Morgana Kretzmann, de Três Passos, será a primeira autora brasileira publicada pelo selo HarperVia, da tradicional editora HarperCollins, de Nova York.

 

O título escolhido é "Água Turva", cuja história se passa na maior reserva florestal do Rio Grande do Sul, o Parque Estadual do Turvo, em Derrubadas, onde a paisagem é dominada pelo Salto do Yucumã.

 

Detalhe: a capa da obra, que você vê abaixo, foi criada a partir de um quadro pintado or um dos maiores artistas visuais gaúchos: Iberê Camargo.

 

Além da versão em inglês por uma das maiores editoras do mundo, fundada em 1817, nos Estados Unidos, a obra será traduzida para o francês, o espanhol e o alemão por outras três editoras. 

 

Isso é que é estreia no mercado literário internacional. E o melhor: o Rio Grande do Sul vai junto.

 

SEGUNDO ROMANCE DE MORGANA KRETZMANN, "ÁGUA TURVA" JOGA LUZ SOBRE A MAIOR RESERVA FLORESTAL DO RS

 

Premiada escritora gaúcha de Três Passos criou história ambientada no Parque Estadual do Turvo, no noroeste do Estado

 

Em seu primeiro livro, Morgana Kretzmann retratou um tipo de tragédia que via se repetir em Três Passos, cidade interiorana no noroeste do Rio Grande do Sul onde se criou: meninas dolorosamente marcadas ainda na infância ao serem vítimas de abuso sexual cometido por homens de seus núcleos familiares. Ao Pó (Editora Patuá, 2020) foi reconhecido com o Prêmio São Paulo de Literatura na categoria Romance de Estreia

 

Apesar de escrever uma história ficcional, Morgana saiu a campo para fazer pesquisas e ouvir o trauma que essas mulheres carregavam desde crianças, algo difícil de superar mesmo com a passagem dos anos. Criou duas personagens, Sofia e sua irmã, ambas alvos das violações do tio. Levou sete anos para concluir a obra.

— Cresci ouvindo histórias de pessoas que foram abusadas por quem é da família ou conhecido da família, normalmente homens "de bem" que dizem não fazer mal a ninguém. São crimes que nunca foram denunciados, simplesmente porque se tornariam uma vergonha para as famílias. Comecei a fazer uma longa pesquisa, entrevistando muitas mulheres. 

 

Usou do mesmo processo de buscar na realidade a matéria-prima para suas histórias ao elaborar seu segundo romance, Água Turva, recém-lançado pela Companhia das Letras. Ambientado no Parque Estadual do Turvo, em Derrubadas, onde o Salto do Yucumã desponta como uma das mais belas atrações da natureza e a mais importante queda d'água longitudinal do mundo, volta e meia alvo de discussões sobre a construção de uma hidrelétrica, o livro mistura o drama das relações humanas à temática ambiental. Será lançado na Alemanha, pela editora Suhrkamp, uma das mais importantes da Europa, e na França, pela Actes Sud. 

 

Três mulheres assumem a narrativa da história: uma guarda florestal responsável por cuidar do parque, uma líder de um grupo de caçadores que vive do contrabando de animais silvestres e uma jornalista que trabalha como assessora de um deputado corrupto. Esta revela um esquema ganancioso que pode destruir a diversidade da fauna e da flora do local:

— São três mulheres que não são boas nem más, não são heroínas. O arco narrativo delas não inclui uma busca pela redenção. Elas apenas fazem o que acreditam que precisa ser feito. Enquanto uma faz de tudo para preservar o parque, a outra faz de tudo para sobreviver e para que seu grupo sobreviva, enquanto a jornalista faz de tudo para se vingar do deputado corrupto. No início da história elas são inimigas, por questões do passado que não foram resolvidas. Depois, passam a ser muito amigas. Uma das coisas que o livro trata, e o que mais me comove, é a maneira como nasce a amizade e o amor entre as três.

 

Além do ímpeto de criar personagens femininas, Morgana, radicada em São Paulo, também tem a pulsão de dar espaço a questões ambientais. Com os avós tendo morado em uma propriedade vizinha ao Parque do Turvo, cresceu ouvindo histórias sobre animais silvestres que apareciam no pátio da residência, como pumas e tamanduás, o que a fez internalizar desde cedo o valor da natureza e a importância de preservá-la. Ao colocar holofotes na maior área florestal preservada no Rio Grande do Sul, com cerca de 17 mil hectares de mata nativa, acaba levantando uma denúncia a eventuais projetos que possam prejudicar o lugar.

— No meu processo de pesquisa, que me levou várias vezes à região para entrevistar funcionários e moradores, fiquei sabendo que existe mesmo uma ideia estapafúrdia de construção de uma hidrelétrica que colocaria parte do parque debaixo da água, ameaçando o último reduto da onça-pintada — diz a escritora, que tem formação em Gestão Ambiental. 

 

Seu próximo romance já está delineado e também sairá pela Companhia das Letras. Safra será ambientado em uma região remota do Brasil e vai retratar a vida de trabalhadores rurais e o luto de uma mulher que perdeu a sobrinha em um acidente com uma colheitadeira de soja, tratando de questões de terra e de meio ambiente. Para Morgana, a temática ambiental é uma causa que a literatura pode ajudar a amplificar:

— Artista não deve nada, cada um faz o que acredita, mas me sinto no dever de falar sobre questões ambientais, porque estamos passando por um momento muito crítico no mundo. Usar uma linguagem acessível às pessoas e levar um pouco de conscientização sobre aquecimento global e outras pautas torna-se imprescindível para mim. 

 

Fonte: Zero Hora/Juliana Bublitz em 03/08/2024 e Karine Dalla Valle em 31/03/2024