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PENSANDO UM PAÍS – PARTE 3
EM PRODUÇÃO.
Uma visada negativa costuma pensar, ao deparar com essa nominata toda, que o presente nos privou de contar com novas com novas contribuições, de pensadores do Brasil formados depois da ditadura militar. Não me parece que seja o caso. Sem ir ao detalhe mais específico, é não apenas possível como mesmo obrigatório reconhecer o valor de sujeitos já com obra sólida na qual se estampam vigorosas e relevantes discussões do passado e do presente brasileiros.
Do que conheço, me parece essencial enfrentar o trabalho de Contardo Caligaris, psicanalista, cujos ensaios desvendam e desmontam criticamente modos de ser e pensar do cotidiano das grandes cidades (me ocorre mencionar também outro representante do mundo psi, o autor da tese do condomínio privado como estilo de vida excludente no Brasil, Christian Dunker). No campo da sociologia, Luiz Eduardo Soares tem produzido uma leitura indispensável da violência cotidiana do país.
No debate historiográfico, há um importante grupo de novos pensadores do país, coo Luiz Felipe Alencastro, Hebe Matos, Manolo Florentino e Jorge Caldeira, que têm posto do avesso algumas antigas, cômodas e equivocadas leituras do passado, especialmente no que se refere à escravidão e ao lugar dela na antiga colônia lusitana que se transformou no Brasil. Quanto ao mundo dos índios, assunto urgente para que o país repense outra dívida interna gigantesca, vários antropólogos poderiam ser citados, como Manuela Carneiro da Cunha, mas um especial parece despontar pela originalidade e grande capacidade explicativa, Eduardo Viveiros de Castro, com sua tese do “perspectivismo ameríndio”. Todos vivos e em plena produção.
Esses sujeitos formulam visões sintéticas sobre a vida brasileira, e creio ser possível dizer que quase sempre em conjunturas de certo otimismo reformista. Se agora o horizonte anda turvo, nada impede de visitar esse repositório de excelentes interpretações do país, com um olho positivo posto no que o futuro ainda nos reserva.
Fonte: Jornal ZH/Luís Augusto Fischer (Escritor e professor da UFRGS) em 06/09/2015.