FRANCO ZEFFIRELLI MORRE AOS 96 ANOS
Diretor italiano adaptou para o cinema óperas e textos clássicos com o ROMEU E JULIETA e A MEGERA DOMADA
O cineasta italiano Franco Zeffirelli, que morreu no sábado (15 de junho), aos 96 anos, em Roma, foi ícone de um cinema estético estudado com seu grande mestre, Luchino Visconti (1906-1976), e depurado nas adaptações que realizou de obras-primas da literatura inglesa e de grandes óperas. Seu mais conhecido filme, ROMEU E JULIETA (1968), com Leonard Whiting e Olivia Hussey, tem origem em Shakespeare, assim como a MEGERA DOMADA (1967), estrelado por Elizabeth Taylor e Richard Burton, e HAMLET (1990), com Mel Gibson e Glenn Close.
O gosto de Zeffirelli pelo teatro e pela ópera (dirigiu mais de 30 adaptações) teve origem na infância. Nasceu em Florença, em 12 de fevereiro de 1923, de um caso adúltero entre uma estilista e um comerciante de sedas e lã. Rejeitado por ambas as famílias, herdou o nome do personagem de uma ópera de Mozart, por conta de uma prima de seu pai, que assumiu os cuidados do menino quando a mãe dele morreu. Zeffirelli foi seduzido pela ópera aos nove anos, ao assistir VALQUÍRIA, de Wagner, em Florença. Aos 13, começou a montar espetáculos paroquiais, ao mesmo tempo em que tomava contato com os clássicos da literatura inglesa. Graduado em arquitetura, começou a trabalhar como decorador de teatro e cinema e tornou-se ator.
Seu encontro com Visconti foi decisivo: tornou-se protegido do renomado diretor e, depois, seu amante. Ao seu lado, trabalhou na realização de filmes como A TERRA TREME (1948), BELÍSSIMA (1951) e SEDUÇÃO DA CARNE (1954).
A relação com Visconti era explosiva e terminou, segundo Zeffirelli, de forma “muito dolorosa”. A partir da separação, ele se lançou definitivamente na carreira artística. No final dos anos 1950, estreou como diretor de ópera no Scala de Milão e no Metropolitan de Nova York. Dirigiu Maria Callas em LA TRAVIATA e em TOSCA.
Seu primeiro longa-metragem foi WEEKEND DE AMOR (1958). Dez anos depois, lançou ROMEU E JULIETA, que recebeu quatro indicações ao Oscar, incluindo a melhor direção e filme.
RELIGIOSO E DONO DE POSIÇÕES CONSERVADORAS
No palco, com o na tela, Zeffirelli foi um realizador que dedicou especial atenção aos figurinos e cenários, o que fez o crítico Henry Chapier dizer que ele era o único “capaz de criar no cinema o equivalente aos afrescos da Renascença”. Na década de 1970, este católico convicto dirigiu filmes de inspiração religiosa: IRMÃO SOL, IRMÃ LUA (1972), sobre São Francisco de Assis, e a minissérie JESUS DE NAZARÉ (1977).
Suas convicções religiosas evidenciaram suas posições conservadoras. Foi um dos poucos artistas italianos a apoiar Silvio Berlusconi quando o bilionário entrou para a política no início dos anos 1990. No embalo, elegeu-se senador, cargo que exerceu de 1994 a 2001 – foi contrário a projetos de reconhecimento dos casais homossexuais.
Depois de vários anos, Zeffirelli retornou ao cinema com JANE EYRE (1996), adaptando o romance de Jane Austen, e CHÁ COM MUSSOLINI (2001). Voltou a casar suas paixões pelo cinema e pela ópera em seu último longa. CALLAS FOREVER (2002), no qual Fanny Ardant interpretou a diva do canto lírico Maria Callas.
Em março passado, em entrevista ao jornal Corriere della Sera, Zeffirelli, falou sobre o peso dos anos: “A velhice é um fardo enorme, mas ainda estou procurando ideias a realizar (...) e isso me mantém ocupado.
Fonte: Zero Hora/Segundo Caderno em 17/06/19