A BALADA DO AMOR LOUCO
PREMIADO EM CANNES, FILME FRANCÊS “MEU REI” MOSTRA OS 10 ANOS DE UM CASAMENTO TURBULENTO.
A dupla criativa formada pelas atrizes, diretoras e roteiristas francesas Maïwenn e Emmanuelle Bercot conseguiu unir sucesso internacional de público e crítica com o ótimo drama POLISSIA (2011), filme escrito e estrelado por ambas e que rendeu o Prêmio do Júri no Festival de Cannes para a direção de Maïwenn. O mais prestigiado certame cinematográfico do mundo consagrou outra vez a dobradinha no ano passado, premiando Emmanuelle como melhor atriz em MEU REI (2015), novo longa dirigido por Maïwenn – a distinção foi dividida com a norte-americana Rooney Mara, de CAROL (2015). Visto por 615 mil pessoas na França, MEU REI entrou m cartaz na Capital em setembro, depois de ter sido exibido no Festival Varilux de Cinema Francês.
- Maïwenn me convidou para trabalhar com ela, deu certo e continuamos juntas. Sou muito fiel às pessoas com quem trabalho – contou em entrevista a Zero Hora a realizadora Emmanuelle Bercot, que veio ao Brasil em junho de 2015 para divulgar DE CABEÇA ERGUIDA (2015), excelente drama social dirigido por ela e estrelado por Catherine Deneuve, também exibido em Cannes.
MEU REI expõe a nu os turbulentos 10 anos de relacionamento de um casal, marcados por dependência afetiva e sexual, mentiras e traições, brigas e separações – uma montanha-russa de êxtases e depressões intercaladas por raros momentos de tranquilidade. O filme começa com Tony (Emmanuelle) em uma clínica de reabilitação física, onde deverá passar uma temporada recuperando-se de um acidente de esqui no qual machucou gravemente o joelho. A rotina de exercícios para voltar a andar desperta na mulher lembranças de seu passado ao lado de Georgio (Vincent Cassel), com quem foi casada e teve um filho.
Por meio de flashbacks, a história de Tony e Georgio é contada do início ao fim: seduzida pelo charme do chef de cozinha descolado, a jovem advogada mergulha de cabeça na paixão. Logo, porém, Georgio dá mostras de seu caráter egoísta e instável, levando para dentro da relação com Tony os casos antigos e as infidelidades atuais, além dos imbróglios profissionais e financeiros. A convivência com o manipulador e violento marido vai aos poucos corroendo a autoestima e a sanidade de Tony, que se sente incapaz de mudar o rumo do casal ou colocar um ponto final nessa ligação – a despeito dos alertas do irmão da protagonista, Solal (interpretado pelo galã blasé Louis Garrel, aqui em um registro mais discreto).
Um dos trunfos de MEU REI é a atuação soberba de Emmanuelle Bercot e Vincent Cassel, cujo entrosamento em cena impregna de intensidade e autenticidade tanto os momentos alegres quanto os mais infelizes vividos por seus personagens. O lastro desse drama romântico, entretanto, está na direção segura e no roteiro de Maïwenn e Etienne Comar, que evita simplificações e reducionismos nessa ambivalente radiografia de um amor malsão resistente a tratamentos.
Fonte: Zero Hora/Roger Lerina (roger.lerina@zerohora.com.br) em 23/9/2016